quinta-feira, 11 de março de 2021

MAIS UM

Foi aprovado esta tarde, na Assembleia da República, o 13.º estado de emergência, que vigorará entre os próximos dias 17 e 31.

Votos a favor — PS, PSD, CDS, PAN e uma deputada não-inscrita.

Votos contra — PCP, PEV, IL, CH e JKM.

O BE absteve-se.

António Costa fala ainda hoje ao país para anunciar as medidas de desconfinamento aprovadas em Conselho de Ministros.

PRÉMIO PESSOA 2020


A engenheira Elvira Fortunato, 56 anos, investigadora e professora catedrática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (escola onde ocupa o cargo de vice-reitora), recebeu hoje o Prémio Pessoa relativo a 2020.

Elvira Fortunato notabilizou-se pela criação do transístor de papel e do primeiro ecrã transparente concebido a partir de materiais sustentáveis.

O júri foi constituído por Pinto Balsemão, Rui Vilar, Ana Pinho, António Barreto, Clara Ferreira Alves, Diogo Lucena, Eduardo Souto de Moura, José Luís Porfírio, Maria Manuel Mota, Pedro Norton, Rui Magalhães Baião, Rui Vieira Nery e Viriato Soromenho-Marques.

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FRANCISCO CONTENTE DOMINGUES 1959-2021


Morreu ontem o historiador Francisco Contente Domingues, professor catedrático do Departamento de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e reconhecido especialista em História da Expansão. Tinha 62 anos.

Da sua bibliografia destaco a coordenação do Dicionário da Expansão Portuguesa (2016), obra que abrange 21 temas desenvolvidos em 390 entradas por 79 autores de diferentes nacionalidades.

Francisco Contente Domingues era membro da Academia Portuguesa da História, da Academia das Ciências de Lisboa, e membro emérito da Academia de Marinha. Ainda fez parte do International Committee for the History of Nautical Science e da International Society for the History of the Map.

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terça-feira, 9 de março de 2021

MARCELO II


Teve hoje início o segundo mandato de Marcelo. Como em 2016, o Presidente da República desceu a pé a Calçada da Estrela, entrando no Parlamento à hora protocolar. As restrições da pandemia acentuaram a sempre deficiente coreografia das cerimónias oficiais portuguesas.

No hemiciclo estariam as 76 pessoas previstas: cinquenta deputados, seis membros do Governo e vinte convidados.

Coisas que me chamaram a atenção:

— Muito bom o discurso de Ferro Rodrigues. Gostei especialmente da referência às obrigações da Assembleia da República no tocante ao novo aeroporto de Lisboa. Cito de cor: «Ao fim de 52 anos de discussão, chegou o tempo de decidir.» Ora bem.

Com Cavaco sentado na tribuna VIP, o Presidente da Assembleia da República não deixou escapar a oportunidade de devolver a mordaça ao homem de Boliqueime.

— Muito bem construído o discurso de Marcelo: «Teremos de reconstruir a vida das pessoas. É mais do que regressar a 2019. Só haverá verdadeira reconstrução se a pobreza diminuir. Reconstruir sem corrigir as desigualdades é reconstruir menos para todos porque sobretudo para alguns privilegiados

Sobre o combate à pandemia, foi claro: «É parcialmente injusta a recriminação feita a tudo o que não se antecipou.» 

O Presidente da República fez ainda o elogio da governação ulterior a 2015, com ênfase na gestão das contas públicas e consequente prestígio externo, devolução de rendimentos às famílias e distensão social. 

— No Salão Nobre, na habitual sessão de cumprimentos, convidados e deputados fizeram vénia como se estivessem perante Isabel II.

— Cavaco abandonou a AR sem cumprimentar Marcelo.

— Fui eu que não vi, ou Rui Rio não esteve presente na Assembleia da República?

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segunda-feira, 8 de março de 2021

LEITURA DA HISTÓRIA


Por razões longas de explicar, as elites moçambicanas (e, a partir dos anos 1930, também as classes médias) nunca gostaram de Salazar, olhando para o Estado Novo como uma realidade distante e abstrusa. Isto para dizer que, por parte da população branca de Moçambique, a oposição ao regime começou com a queda da Primeira República.

Moçambique fica do outro lado do mundo, faz fronteira com seis países de língua inglesa e, nessa medida, o modo de vida salazarento era uma abstracção para quase todos.

O livro de que vou falar — Brancos de Moçambique. Da oposição eleitoral ao salazarismo à descolonização (1945-1975) — foi publicado em 2018, mas só agora dele tomei conhecimento. Acrescenta muito pouco ao que já sabia. Mas, para a generalidade dos leitores portugueses, representa uma boa introdução ao que era a vida na Colónia.

Bem documentado, o historiador Fernando Tavares Pimenta, professor da Universidade de Coimbra, faz um tour d’horizon à administração colonial de Moçambique, vista sob o prisma da oposição local.

Resumindo muito: análise exaustiva até aos anos 1960, quadros estatísticos elaborados a partir dos censos oficiais, interpretação sociológica correcta e transcrição oportuna de fontes. Menos bem a parte relativa à vida cultural, acerca da qual muito mais haveria a dizer. Meia dúzia de omissões (sobretudo no último capítulo) não beliscam o interesse da obra.

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domingo, 7 de março de 2021

GLÓRIA DE SANT'ANNA


UM POEMA POR SEMANA — Para hoje escolhi Desde Que o Mundo, de Glória de Sant’Anna (1925-2009), voz ímpar da poesia escrita em Moçambique.

Natural de Lisboa, Glória de Sant’Anna foi para Moçambique em 1950, ali tendo vivido até Dezembro de 1974. Em Moçambique nasceram cinco dos seus seis filhos, publicou sete livros, foi professora do ensino secundário em Nampula, Pemba e Vila Pery, além de ocasional radialista. Fez tudo isto mantendo distância da cena literária de Lourenço Marques.

Além de doze livros de poesia, publicou contos, crónicas e memórias. Livro de Água (1961) recebeu o Prémio Camilo Pessanha da Academia das Ciências de Lisboa. Colaborou com poesia e prosa na imprensa moçambicana e portuguesa.

Em 2012, o Grupo de Acção Cultural de Válega (Ovar) instituiu o Prémio Glória de Sant’Anna, que começou a ser atribuído no ano seguinte.

Em 2019, Luís Loforte e Edmundo Galiza Matos, dois antigos alunos seus, organizaram Quando o Silêncio é Sujeito — Um Tributo a Glória de Sant’Anna, volume publicado em Moçambique que colige depoimentos e breves ensaios críticos de escritores e intelectuais seus contemporâneos.

O poema desta semana, publicado no auge da Guerra Colonial, pertence ao livro Desde Que o Mundo e 32 Poemas de Intervalo (1972). A imagem foi obtida a partir de Amaranto — toda a poesia publicada entre 1951 e 1983 —, volume publicado em 1988, em Lisboa, pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia e Jorge de Sena.]