sexta-feira, 7 de agosto de 2015

EUROSONDAGEM


Resultados da Eurosondagem divulgados esta tarde pelo Expresso.
Clique na imagem.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

KAREN JOY FOWLER

 
Hoje na Sábado escrevo sobre Estamos todos completamente fora de nós, de Karen Joy Fowler (n. 1950), romance que ganhou no ano passado o prémio PEN/Faulkner na categoria de ficção. Já se sabia que Fowler defende os direitos dos animais, mas a autora desconcertou meio mundo ao fazer de um chimpanzé-fêmea a “irmã” de Rosemary, a narradora desta história sobre uma família pouco convencional: «Passei os primeiros dezoito anos de vida identificada por este único facto: ter sido educada com um chimpanzé.» Dito de outro modo, Fern não era um animal de estimação, era membro da família, «a irmãnzinha de Lowell, a sua sombra, a sua fiel companheira.» Lowell é o irmão humano de Rosemary. O mesmo se diga de Mary, outro chimpanzé. Estamos no limite do racional, mas a narrativa nunca derrapa, porque Fowler tem uma escrita segura, culta, pontuada de compaixão, humor e extrema racionalidade. Não é por acaso que a datação dos capítulos traz indexados alguns factos que ajudam a contextualizar o ar do tempo (entre outros exemplos, a crise dos reféns na Embaixada dos Estados Unidos em Teerão). Digamos que uma espécie de magia faz de cimento do plot. E tudo gira em torno de Fern, cuja lembrança percorre os anos de crescimento de Rosemary. O punctum é a relação dos humanos com os animais, sendo Fern uma metáfora das ambiguidades decorrentes. Quando Fern desaparece, Rosemary (então com cinco anos) passa a viver atormentada, longe de supor, como descobrirá mais tarde, que a “irmã” não fora levada para uma quinta, mas sim para um laboratório universitário onde o doutor Uljevik a meteu numa jaula com outros chimpanzés (ela que nunca convivera com os seus iguais), pois «tinha de aprender qual era o seu lugar, tinha de perceber o que era.» São ínvios os caminhos da psicologia comportamental. Na realidade, o livro disseca a questão sempre escorregadia do direito à identidade. Rosemary é adulta no momento em que a história é narrada. Lowell foi preso pelo FBI por se opor às experências com orcas. Fern persiste uma ferida aberta. Convenhamos que Tolstoi fez a síntese perfeita: «cada família infeliz é infeliz à sua maneira.» Tudo isto roçaria o nonsense não se desse o caso de Fowler ser uma autora de recursos sólidos. Um dos expedientes assenta na citação de filmes: eles explicam os estados de apatia, euforia ou disforia. No capítulo Sete dá-se o reencontro dilacerante de Fern com Rosemary. Publicou a Jacarandá. Cinco estrelas.

Escrevo ainda sobre O Estrangeiro, de Albert Camus (1913-1960), autor duplamente estrangeiro à intelligentsia francesa, facto que não o impediu de construir uma das obras mais marcantes do século XX. Foi agora reeditada a novela que assinalou o reconhecimento que teve o seu corolário em 1957, ano em que recebeu o Prémio Nobel. Este homem nascido na Argélia, que só conheceu o pai em fotografia, teve contra si o estigma da identidade pied noir, da exclusão social, da tuberculose que o impediu de ser futebolista e (mais tarde) de passar na agregação para professor de filosofia, do combate sem tréguas que o Partido Comunista francês lhe moveu a partir de 1951, pagou caro o ónus da coerência ideológica: a sua morte aos 46 anos teria sido consequência de um atentado encomendado ao KGB por Dmitri Shepilov. O Estrangeiro é Meursault, narrador do absurdo: um homem que o tribunal condena à guilhotina não por haver assassinado um árabe, mas pela «insensibilidade de que deu provas após a morte da mãe num asilo: «Que me importava se, acusado de um crime, era executado por não ter chorado no enterro da minha mãe?» A história do checo morto à martelada pela mãe e pela irmã (Meursault reflecte sobre isso na solidão da cela) serve de parábola do sem sentido da existência. Edição Livros do Brasil. Quatro estrelas.

IMPORTA-SE DE REPETIR?

«[...] nenhum eleitor pode aceitar, sem náusea, que um ex-primeiro-ministro movimente, furtivamente, avultadas verbas através de envelopes.» Quem o escreve é Viriato Soromenho Marques, hoje, no Diário de Notícias.  Como tenho VSM na conta de homem informado, uma asserção de tal calibre só pode decorrer da sentença de um tribunal (supondo que não foram extintos) transitada em julgado. Ando mesmo distraído, porque até a acusação que terá dado lugar a julgamento me passou ao lado.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

CONVINHA REEDITAR, 1


Começo hoje uma nova secção: Convinha reeditar. Tentarei chamar a atenção para obras que desapareceram das livrarias.

Étienne de La Boétie (1530-1563), humanista e filósofo, amigo dilecto de Montaigne, que revela nos seus Ensaios ter o Discours de la servitude volontaire — texto fundador daquilo a que hoje chamamos desobediência civil — sido escrito quando La Boétie tinha entre 17 e 18 anos e era estudante de Direito. Montaigne e La Boétie foram íntimos. Diz o primeiro: «No nosso primeiro encontro, que foi por acaso numa grande festa de sociedade, vimos logo que estávamos tão próximos um do outro, que nos conhecíamos tão perfeitamente, que vimos não haver nada capaz de nos separar.» A tradução portuguesa que a imagem mostra foi publicada em 1986. Convinha reeditar este livrinho fundamental, tanto mais imprescindível no momento em que os valores da liberdade são todos os dias desautorizados.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

ALBEE


A colecção de livros de teatro dos Artistas Unidos & Cotovia dispensa apresentações. Salvo melhor informação, mantém-se como único espaço de publicação regular de obras de teatro.  Acaba de sair um volume dedicado ao dramaturgo americano Edward Albee (1928), com as peças The Zoo Story / The Sandbox, ambas traduzidas por Rui Knopfli, e The Death of Bessie Smith, por Egito Gonçalves. Como curiosidade, refira-se que The Zoo Story foi representada em Lourenço Marques pelo TALM, em 1966, com direcção de Mário Barradas, então radicado na capital de Moçambique. (A estreia em Lisboa verificou-se apenas em 1973, com direcção de Costa Ferreira.) Jorge Silva Melo​ está mais uma vez de parabéns.

AUGÚRIO

Desde o início do ajustamento, no Verão de 2011, que sustento a tese de que metade do país passa, ou parece passar, imune à devastação do desemprego, da estagnação da economia, do arbítrio fiscal, dos efeitos da emigração dos mais jovens, do ataque cerrado a pensionistas, da supressão de apoios sociais, do corte generalizado de salários (em especial na Função Pública e, dentro desta, em classes profissionais como médicos, enfermeiros e professores), do afrontoso retrocesso dos direitos laborais, da crise do euro, etc. Muito pouca gente concorda comigo. Eu insisto, não por teimosia, mas pelo que vejo à minha volta. Hoje mesmo, duas notícias corroboram o meu juízo: duplicou o investimento privado em PPR e, no mês passado, o número de automóveis novos vendidos dá uma média diária de 553. A partir daqui, é fácil adivinhar o que nos espera em Outubro. Oxalá me engane.