Na imagem, entre o meu marido e eu próprio, vê-se Lídia Brás, a operacional que nos acompanhou durante o processo. Clique.
quinta-feira, 15 de abril de 2021
ASTRAZENECA, OF COURSE
SEIS ESCOLHAS
A reedição de Fome, do norueguês Knut Hamsun (1859-1952), traz de volta um autor controverso. Admirador de Hitler e Goebbels, racista confesso, colaborador nazi, foi julgado e condenado por traição ao seu país. Além de romances e contos, Hamsun escreveu poesia, ensaios e panfletos. Após publicar Os Frutos da Terra (1917), recebeu o Nobel da Literatura em 1920. O domínio do fluxo de consciência acentua o carácter autobiográfico de Fome, o seu primeiro livro (1890), elogiado por Gide, Thomas Mann e outros. Liliete Martins traduz directamente do norueguês. Publicou a Cavalo de Ferro.
Escrito para a BBC Radio, Estilicídio, do galês Cynan Jones (n. 1975), são esses doze episódios em forma de livro. Estilicídio significa ‘queda de água gota a gota’. Série de antecipação sobre como sobreviver a uma crise climática de proporções bíblicas, coloca o leitor perante a possibilidade da falta de água. A acção centra-se numa grande metrópole (admitamos que seja Londres) devastada por uma sucessão de secas e enchentes. Uma das alternativas consiste em rebocar um iceberg do Ártico. Falta porém consenso entre quem manda, a população, os ambientalistas e, como é de regra, os terroristas que também entram na história. Resumindo: Estilicídio ecoa todas as harmónicas possíveis num guião televisivo. Publicou a Elsinore.
É sempre gratificante voltar a Cesare Pavese (1908-1950), nome maior da literatura italiana. Poeta, ficcionista, ensaísta, diarista, crítico, tradutor de Joyce, Melville e outros, Pavese suicidou-se aos 41 anos, poucos meses depois de receber o Prémio Strega e de publicar A Lua e as Fogueiras, o livro derradeiro. Narrado na primeira pessoa («Há uma razão para eu ter voltado para esta aldeia…») pela voz de um emigrante regressado da América após o fim da Segunda Guerra Mundial, demonstra a impossibilidade de resgatar o passado. Tudo rui à sua volta, e nem a fortuna acumulada desfaz a condição de “bastardo”. Uma elegia seca e amarga dos lugares e pessoas da remota infância. Publicou a Bertrand.
Quando George Orwell (1903-1950) escreveu 1984, estava longe de supor o impacto que o livro teria nas gerações vindouras. Agora que a obra caiu em domínio público, sucedem-se as reedições. A obra de Orwell recentrou a distopia em literatura, na medida em que o seu precedente mais célebre, Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, não resistiu à usura do tempo. Pelo contrário, o Grande Irmão (o Big Brother) faz parte do imaginário contemporâneo. Escrito com a intenção de denunciar o totalitarismo estalinista, a tese do controlo total por parte do Partido é o Leitmotiv do romance. Um dos personagens, o poeta Ampleforth, intelectual praticante da Novilíngua, parece ser uma caricatura de Auden. Gonçalo M. Tavares assina o prefácio. Publicou a Relógio d'Água.
Numa altura em que se verifica o avanço de forças extremistas em democracias consolidadas, convém ler O Regresso da Ultradireita, de Cas Mudde (n. 1967), o cientista político holandês que tem escrito sobre as várias formas de populismo. Analisando a rapidez com que partidos tradicionais, outrora conservadores, interiorizaram o discurso de homens como Trump ou Bolsonaro, Mudde faz um tour d’horizon às franjas radicais que controlam os governos de vários países, dentro e fora da Europa. A quarta vaga da ultradireita é o enfoque do livro. Por que é que há vinte anos as opiniões públicas reagiam indignadas à xenofobia, e hoje reagem com um bocejo à sua “normalização”? Publicou a Presença.
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quarta-feira, 14 de abril de 2021
O ÚLTIMO?
Foi aprovado esta tarde, na Assembleia da República, o 15.º estado de emergência, que vigorará entre os próximos dias 16 e 30.
Votos a favor — PS, PSD, CDS, PAN e uma deputada não-inscrita.
Votos contra — PCP, PEV, IL, CH e JKM.
O BE absteve-se.
O Presidente da República fala hoje (20:00) ao país.
domingo, 11 de abril de 2021
GEDEÃO
Quando em 1956 surge na vida literária com o pseudónimo de António Gedeão, o pedagogo Rómulo de Carvalho, professor de física e química em liceus de Lisboa (1931-50 e 1957-75) e Coimbra (1950-57), contava já com títulos publicados nas áreas histórico-científica e pedagógica. Dito de outro modo, o divulgador de ciência deveio poeta.
Entre os seus alunos do Liceu Pedro Nunes que se notabilizaram na vida pública portuguesa conta-se Marcelo Rebelo de Sousa.
Natural de Lisboa, o dia do seu nascimento — 24 de Novembro — é celebrado desde 1996 como Dia Nacional da Cultura Científica.
Depois da sua morte, a Fundação Calouste Gulbenkian publicou (2010) um grosso volume de memórias que o autor dedicou aos futuros tetranetos.
Membro efectivo da Academia das Ciências de Lisboa, doutorado honoris causa pela Universidade de Évora (1995), Grande Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada (1996), foi-lhe concedida a título póstumo (2018) a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública, da qual era Grande-Oficial desde 1987.
Casado em segundas núpcias com Natália Nunes, é pai da escritora Cristina Carvalho.
Desde 2012, o Prémio António Gedeão, criado por um sindicato de professores, distingue docentes com obra poética publicada.
O poema desta semana pertence a Movimento Perpétuo (1956), livro de estreia do autor. A imagem foi obtida a partir de Poesias Completas, volume publicado em 1964, com extenso prefácio de Jorge de Sena, na colecção Poetas de Hoje da Portugália Editora.
[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder e Florbela Espanca.]
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