sábado, 26 de fevereiro de 2022

COSTA NA NATO


A declaração do primeiro-ministro foi feita após ter participado na cimeira extraordinária da NATO terminada há pouco.

Putin não gostou de ver a Suécia e a Finlândia participarem na cimeira com o estatuto de Estados observadores, e pôs Maria Zakharova, porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros russo, a dizer que lhes aconteceria o mesmo que à Ucrânia.

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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

EXPANSIONISMO

Continua a haver muita confusão em muitas cabeças. Há quem continue a supor que a Rússia é um país comunista e, nessa medida, a saudar a invasão da Ucrânia como uma desforra da queda da URSS.

Do mesmo passo, muita gente continua a «achar» que a Bulgária, a antiga Checoslováquia (as actuais República Checa e a Eslováquia), a Hungria, a antiga Jugoslávia (actualmente dividida em sete países), a Polónia e a Roménia, pertenciam à URSS. Errado.

As repúblicas soviéticas eram dezasseis, e apenas três (os países bálticos) fazem hoje parte da NATO.

A URSS era constituída pela Rússia / Arménia / Azerbaijão / Bielorrússia / Bukharan / Cazaquistão / Estónia / Geórgia / Letónia / Lituânia / Moldávia / Quirguistão / Tajiquistão / Turquemenistão / Ucrânia / Uzbequistão.

Convinha não meter os pés pelas mãos. E ter presente que Putin, um czar implacável, marimba-se para o marxismo-leninismo. A ocupação da Ucrânia — uma antiga república soviética — não passa de expansionismo. Não há aqui ideologia nenhuma, a não ser aquela que atropela direitos, liberdades e garantias.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

COMEÇOU


Sem surpresa, a Rússia atacou a Ucrânia esta madrugada praticamente até às fronteiras ocidentais.

Por enquanto, apenas Lviv, no extremo ocidental do país, foi poupada. A razão é simples: é lá que se encontram quase todos os diplomatas estrangeiros, retirados de Kiev assim que a situação atingiu o turning point.

Neste momento, Kiev está sem defesas antiaéreas, que foram destruídas por mísseis russos. Forças russas já entraram em Carcóvia, aliás Kharkiv, capital da Ucrânia entre 1919 e 1934, actualmente a segunda cidade mais importante do país, centro da indústria tecnológica de ponta (electrónica, aeroespacial, nuclear), epicentro da vida cultural e científica ucraniana, onde vivem cerca de dois milhões de pessoas.

O aeroporto militar da cidade já foi bombardeado.

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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

GURNAH EM PORTUGUÊS


O Nobel da Literatura 2021 foi parar às mãos de Abdulrazak Gurnah (n. 1948), nascido no Sultanato de Zanzibar, quando o arquipélago não fazia parte da República da Tanzânia. Gurnah ainda não tinha dezoito anos quando, a pretexto de terminar os estudos, foi para Inglaterra. É lá que vive desde então. Foi breve o regresso a África: ocorreu nos anos 1980, um breve período em que deu aulas numa universidade da Nigéria. Para todos os efeitos, Gurnah é um eminente cidadão, escritor e académico britânico, professor emérito da Universidade de Kent.

Vidas Seguintes, o décimo e mais recente dos romances que publicou, tem como pano de fundo as relações entre colonizadores e colonizados na Deutsch-Ostafrika. Muita gente não se lembra, mas o território da Tanzânia fez parte, até ao fim da Primeira Guerra Mundial, da África Oriental Alemã, vasta área que se estendia até à província do Niassa, no Norte de Moçambique. A problematização do colonialismo alemão tem sido sistematicamente omitida nos últimos cem anos, daí a relevância com que a obra de Gurnah preenche essa lacuna.

Gurnah nasceu sob domínio colonial britânico, mas é sobre as práticas coloniais alemãs que a obra se debruça. Denominador comum a todos os livros: as ilhas de Zanzibar, predominantemente muçulmanas e, como tal, estranhas ao clichê “africano”. Dito de outro modo, arabização no lugar da negritude.

As histórias dos quatro principais personagens de Vidas Seguintes — Khalifa, Ilyas, Hamza e Afiya — são as histórias de todos os colonizados que um dia foram obrigados a lutar pelo império ocupante, muitos deles roubados em crianças pelo Schutztruppe: «Toda a gente conhecia a frieza e impiedade dos oficiais alemães

Não é a primeira vez que o autor escreve sobre o tema. Por exemplo, Yusuf, o protagonista de Paradise (1994), é uma criança vendida pelo pai para trabalhar em regime de escravatura.

Qual o significado de “pertença”? Pondo em pauta a vexata quaestio da extraterritorialidade, do choque identitário e de culturas, Gurnah coloca-se no centro das experiências de alteridade que distinguem o que escreve.

Além de romancista, Gurnah é autor de contos. Uns e outros muito bem recebidos pela crítica, mas com vendas residuais (mesmo no Reino Unido, o prémio apanhou os editores desprevenidos). Antes de laureado com o Nobel, era sobretudo conhecido e respeitado pelos ensaios que escreveu sobre diáspora e literatura pós-colonial.

Vidas Seguintes foi traduzido por Eugénia Antunes e publicado pela Cavalo de Ferro.

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domingo, 20 de fevereiro de 2022

ANTÓNIO RAMOS ROSA


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi De Coincidência em Incoincidência de António Ramos Rosa (1924-2013), um dos poetas centrais da poesia portuguesa do Século XX.

Natural de Faro, António Ramos Rosa veio para Lisboa em 1945, embora até 1962 tenha mantido itinerância entre as duas cidades. 

Membro da secção algarvia do MUD Juvenil, esteve preso três meses (1947) no Governo Civil de Lisboa. Publicou o primeiro livro, O Grito Claro, em 1958.  A experiência de empregado de escritório deu origem a dois poemas famosos: O Funcionário Cansado e O Boi da Paciência. Contudo, a obra posterior afasta-se desse neorealismo com laivos surrealistas.

Poeta, crítico, ensaísta e tradutor, mas também desenhador, foi um dos fundadores e directores da revista Árvore (1951), bem como de outras publicações, entre elas Cadernos do Meio-Dia (1958). Em 1962 publicou um importante livro de ensaios, Poesia, Liberdade Livre. A quarta série de Líricas Portuguesas (1969), antologia de referência, foi por si organizada. Traduziu Éluard, Foucault, Marguerite Yourcenar e outros.

Entre os muitos prémios que recebeu, em Portugal e na França, foi distinguido (1991) pelo Collège de l’Europe como Poeta Europeu da Década.

O poema desta semana pertence a Ocupação do Espaço (1963). A imagem foi obtida a partir do primeiro volume de Obra Poética (2018), editado por Luis Manuel Gaspar e publicado pela Assírio & Alvim.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa, Eugénio de Andrade, José Carlos Ary dos Santos, António Manuel Couto Viana, Ruy Cinatti, Al Berto, Alexandre O’Neill, Vitorino Nemésio, David Mourão-Ferreira, Miguel Torga, Ângelo de Lima e Pedro Tamen.]

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