Se pararmos uns minutos para pensar com frieza, depressa concluímos que a maioria absoluta não interessa (ou não deveria interessar) ao Partido Socialista.
A razão é simples. As maiorias absolutas permitem aprovar tudo sem dar satisfações à Oposição. Mas não livram o detentor dessa maioria absoluta de, em matérias sensíveis ou simplesmente polémicas, ter contra si uma parte significativa da opinião pública, o grosso da Oposição (a qual faria exactamente o mesmo se estivesse no Governo mas, por estar out, alimentaria o tumulto popular), os media e, em determinadas circunstâncias, o próprio Presidente da República.
Vejamos: no passado 3 de Maio, o primeiro-ministro ameaçou demitir-se caso fosse aprovado o decreto da contagem de tempo dos professores. Consequência imediata: PSD e CDS recuaram estrondosamente.
Com maioria absoluta, Costa não teria tido necessidade de pôr tudo em causa, na medida em que o PS sozinho faria o que quisesse. Mas, em vez de recuarem, PSD e CDS exigiriam não 9 mas 27 anos de retroactivos, viatura própria para professores colocados a mais de 20 quilómetros de casa, etc., etc. O mesmo se diga da greve dos motoristas de matérias perigosas. Os maus da fita foram os trabalhadores (a CGTP pôs-se ao largo) e o PS pôde impor Lei & Ordem sob aplauso geral.
Nenhum destes dois casos, e são apenas exemplos, teria tido o desfecho que teve com maioria absoluta.
Portanto, maioria absoluta por maioria absoluta, só com apoio parlamentar alargado.
É claro que este arrazoado racional não invalida a minha preferência por maiorias absolutas. Que é, bem vistas as coisas, o que temos tido desde 2015.