sábado, 31 de outubro de 2020

SEAN CONNERY 1930-2020


Morreu Sean Connery, o mítico James Bond. A morte ocorreu nas Bahamas, na noite de ontem para hoje, enquanto dormia.

Celebrizado pelos sete filmes em que interpretou o personagem criado por Ian Fleming, Connery provou ser um grande actor noutro tipo de papéis. Entre 1954 e 2012 protagonizou 78 filmes, número que não inclui séries e filmes de televisão. Ganhou um Óscar (actor coadjuvante), três Globos de Ouro e três Bafta.

Escocês, Sean Connery era filho de um operário católico e de uma empregada doméstica protestante. Sem educação formal, foi distribuidor de leite, pedreiro, polidor de caixões, camionista, marinheiro, jogador de futebol e candidato a Mr Universo. Abandonou a Marinha Real devido a problemas de saúde. A rainha fê-lo cavaleiro em 2000.

Imagem: Connery em 1962. Clique.

O CRIME DA PORTELA

Através de um longo artigo de Joana Gorjão Henriques e de editorial assinado por Amílcar Correia, o Público divulga hoje o relatório da Inspecção-Geral da Administração Interna sobre a morte, por asfixia, do ucraniano Ihor Homeniuk, na noite de 11 para 12 de Março, nas instalações do SEF do Aeroporto de Lisboa.

Setenta páginas eloquentes. Síntese:

— agressões brutais e tortura por parte de três inspectores (em prisão domiciliária), tratamento degradante, atentado à dignidade humana, falta de medicação e prestação de auxílio por parte de outros inspectores, enfermeiros e seguranças do SEF. Foram instaurados processos disciplinares a doze funcionários do SEF.

Lembrar: Ihor Homeniuk foi encontrado morto na manhã do passado 12 de Março, nas instalações do SEF do Aeroporto de Lisboa, «de mãos algemadas atrás das costas, tornozelos amarrados ao corpo e calças puxadas até aos joelhos

Segundo o relatório, se não fosse o médico legista (e, acrescento eu, a denúncia do assassinato feita na noite de 29 de Março, pela TVI, a partir de uma denúncia anónima), o crime poderia ter passado incólume face à posição do director de Fronteiras de Lisboa.

Encoberto durante 18 dias, a embaixada da Ucrânia soube do crime pela televisão.

Como diz Amílcar Correia, «A negligência e a omissão concertada de que deram provas os envolvidos permitem duvidar de que o que aconteceu foi uma excepção. [...] A existência de qualquer espécie de Abu Ghraib em solo português envergonha o Estado e cada um de nós


sexta-feira, 30 de outubro de 2020

NONSENSE

Está em vigor desde as zero horas de hoje a Resolução do Conselho de Ministros n.º 89-A/2020, de 26 de Outubro. Determina que os cidadãos não podem circular para fora do concelho de residência habitual. Vigora até às 6 da manhã do próximo 3 de Novembro.

As excepções incluem trabalhadores com declaração da entidade patronal / profissionais de saúde / trabalhadores de instituições de saúde e de apoio social / militares / polícias / agentes de protecção civil / agentes das forças e serviços de segurança / pessoal militarizado / pessoal civil das Forças Armadas / inspectores da ASAE / titulares de cargos políticos / deputados / juízes e magistrados / notários e conservadores / sindicalistas / dirigentes dos parceiros sociais / membros de partidos políticos representados na Assembleia da República / padres e equiparados / pessoal de apoio dos órgãos de soberania e dos partidos com representação parlamentar / pessoas de retorno à residência habitual / deslocações para saída do território nacional / portadores de bilhetes de espectáculo / etc.

O diploma encontra-se publicado, supõe-se que seja para cumprir, mas o Presidente da República diz que são só recomendações. Em que ficamos?

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

NAZARÉ


Os defensores do recolher obrigatório (nocturno) não têm em conta que este tipo de eventos lhes troca as voltas.

Obtida hoje de manhã, a imagem mostra alguns dos milhares de pessoas que, desde ontem, afluem à Nazaré para ver as ondas gigantes.

Walter Chicharro, o presidente da Câmara, foi claro: «O que está a acontecer é uma normal sessão de free-surf de ondas gigantes

Ora bem! Quem fala assim não é gago. E eu prefiro este registo Tarantino aos melodramas napolitanos de outras paragens.

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quarta-feira, 28 de outubro de 2020

OE 2021


Com os votos a favor do PS, foi aprovado há minutos, na generalidade, o OE 2021.

Abstiveram-se o PCP, o PAN, o PEV e as duas deputadas não inscritas.

Votaram contra o BE, o PSD, o CDS, o CHEGA e a IL.

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terça-feira, 27 de outubro de 2020

MÁSCARAS NA RUA

Foi hoje publicada em Diário da República a Lei n.º 62-A/2020. O diploma impõe, transitoriamente e a título excepcional, a obrigatoriedade do uso de máscara em espaços públicos, em todo o território nacional.

— «É obrigatório o uso de máscara por pessoas com idade a partir dos 10 anos para o acesso, circulação ou permanência nos espaços e vias públicas sempre que o distanciamento físico recomendado pelas autoridades de saúde se mostre impraticável. [...]  A presente lei vigora pelo período de 70 dias...»

SUPREMO MAIS REAÇA

A uma semana das eleições presidenciais, o Senado americano confirmou — por 52 votos contra 48 — Amy Coney Barrett como juíza do Supremo Tribunal.

Se os resultados eleitorais forem contestados, caberá ao Supremo, agora com maioria conservadora, desatar o nó górdio.

Ms Barrett, 48 anos, católica ultra-conservadora, antiga líder pastoral das mulheres da seita People of Praise, vai ocupar o lugar deixado vago pela morte da juíza Ruth Bader Ginsburg. 

Ms Barrett é contra o Affordable Care Act (vulgo Obamacare), a imigração, o aborto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, etc. É a favor do uso de porte de armas, mesmo por pessoas condenadas por crimes de sangue

Nos últimos 150 anos, foi a primeira vez que um juiz do Supremo foi confirmado apenas pelo partido proponente.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

REBECCA


Vi finalmente o remake de Rebecca disponível na Netflix desde o passado dia 21. Não me lembro se alguma vez vi a versão de Hitchcock (1940), provavelmente sim, mas não retive.

A versão actual é de Ben Wheatley, e tem nos principais papéis Lily James, Armie Hammer e, encarnando Mrs. Danvers, a fabulosa Kristin Scott Thomas. No filme de Hitchcock eram Joan Fontaine, Laurence Olivier e Judith Anderson. Quem leu o romance homónimo de Daphne du Maurier percebe a criteriosa escolha de Kristin Scott Thomas para o papel-chave da governanta de Manderley.

Não sendo uma obra-prima, são 120 minutos de bom cinema.

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LEGISLATIVAS NOS AÇORES

Com 39,2% dos votos e 25 deputados eleitos, o PS ganhou as legislativas regionais mas perdeu a maioria absoluta.

Abstiveram-se 54,6% dos eleitores.

Resultados finais: PS 39,2% / PSD 33,7% / CDS 5,5% / CHEGA 5% / BE 3,8% / PPM 2,3% / PAN 1,9% / IL 1,9% / PCP 1,6%. 

Elegeram deputados: PS, PSD, CDS, CHEGA, BE, PPM, PAN e IL. 

domingo, 25 de outubro de 2020

SEIS MESES


Espanha em transe. Comentários para quê?

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AGUSTINA POR MÓNICA BALDAQUE


Agustina Bessa-Luís apareceu em público pela última vez no início de 2007, pouco tempo depois de ter publicado o livro com que fechou a obra. A partir daí sucedeu-se a especulação. Quatro meses antes de morrer, em Junho de 2019, chegara às livrarias uma biografia escrita por Isabel Rio Novo, feita à revelia da família. Agora foi a vez da filha, a pintora e escritora Monica Baldaque, publicar as memórias do seu convívio com os pais.

Sapatos de Corda — Agustina é um relato desempoeirado da vida da escritora: a família, o Douro, os livros, os anos de Esposende, a casa do Gólgota, os Verões em Guéthary, a gestão parcimoniosa das amizades, a desconfiança do milieu literário, a natural coqueteria, o enfado com o paroquialismo indígena, a política, as viagens, os filmes de Manoel de Oliveira, o apoio do marido. Excertos de cartas escritas por Agustina à mãe e à filha iluminam o texto. O mesmo se diga da vasta iconografia: fotografias de várias épocas, reproduções, desenhos de Alberto Luís e Mónica Baldaque.

Em matéria de revelações, sirva de exemplo a história do Jaguar: Agustina, que não dava importância nenhuma a automóveis, pediu um Jaguar a Cupertino de Miranda a título de direitos de autor pela biografia encomendada pelo banqueiro. O Jaguar, cinza com estofos vermelhos, seria mais tarde vendido a um militar de Abril.

Há mais, naturalmente. Até porque Mónica Baldaque não omite o seu próprio percurso: infância, relações com os pais, colégio, anos de Lisboa — onde concluiu o curso de pintura na Escola Superior de Belas-Artes —, namoricos, vida profissional, casamento, filhos, direcção de dois museus (Soares dos Reis, Literatura), artistas e escritores com quem privou, acompanhamento da reedição da obra de Agustina, etc. O episódio envolvendo um improvável Corto Maltese é uma das várias passagens enigmáticas do livro.

Enquanto não chega a biografia de Agustina escrita pelo historiador Rui Ramos, Sapatos de Corda — Agustina é o melhor que li até hoje sobre a Sibila. Nessa medida, se Barthes falou no prazer do texto, seria fútil repetir o óbvio.

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