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domingo, 3 de abril de 2022

ANTÓNIO OSÓRIO


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi [Dois filhos Adolescentes] de António Osório (1933-2021), poeta maior do século XX português.

Filho de pai português e mãe italiana, António Osório nasceu em Setúbal. Embora colaborasse em revistas literárias desde 1954, quando fundou a revista Anteu, publicou o primeiro livro, A Raiz Afectuosa (1972), à beira de completar 40 anos. A partir de 1978 — ano de publicação de A Ignorância da Morte —, tornou-se um dos poetas centrais do chamado regresso ao real.

Várias vezes premiado, com obra traduzida e publicada em Espanha, França, Bélgica, Itália, Alemanha, Roménia, Croácia, Estados Unidos e Brasil, Osório foi elogiado e estudado por críticos de todas as gerações, de João Gaspar Simões a António Carlos Cortez.

Além de poesia publicou o livro de ensaios A Mitologia Fadista (1974). Muitos dos seus livros de poesia têm ilustrações de Mário Botas, Júlio Pomar, Graça Morais, Júlio Resende, Manuel Cargaleiro, Pedro Cabrita Reis e outros.

Advogado de profissão, foi Bastonário da respectiva Ordem entre 1984 e 1986. Membro da Academia das Ciências de Lisboa, presidente da Associação Portuguesa para o Direito do Ambiente (1994-96), administrador da Comissão Portuguesa da Fundação Europeia da Cultura, representante de Portugal na Convenção da Haia (1980), presidente da delegação portuguesa no Tribunal Europeu de Arbitragem (Estrasburgo), fundador da revista Direito do Ambiente e do Ordenamento do Território, membro do Instituto de Direito Comparado Luso-Brasileiro, director da Biblioteca da Ordem dos Advogados (1995-2002), director da revista Foro das Letras, etc., exerceu diversos outros cargos de interesse público.

Passou os seus últimos anos na casa de família em Azeitão.

O poema desta semana é um dos quinze que compõem a sequência Gratidão que nem sabe a quem deve ser grata, do livro O Lugar do Amor (1981). A imagem foi obtida a partir da edição que a Gótica fez em 2001. A obra poética completa do autor encontra-se reunida em A Luz Fraterna, volume publicado em 2009 pela Assírio & Alvim.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa, Eugénio de Andrade, José Carlos Ary dos Santos, António Manuel Couto Viana, Ruy Cinatti, Al Berto, Alexandre O’Neill, Vitorino Nemésio, David Mourão-Ferreira, Miguel Torga, Ângelo de Lima, Pedro Tamen, António Ramos Rosa, José Régio, Antero de Quental, Pedro Homem de Mello, Teixeira de Pascoaes e Afonso Duarte.]

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domingo, 27 de março de 2022

AFONSO DUARTE


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi Calai de Afonso Duarte (1884-1958), um dos poetas mais esquecidos do século XX português.

Natural de Ereira (Coimbra), Afonso Duarte estreou-se em 1912 com Cancioneiro das Pedras, mas seria só a partir de 1929, com Os 7 Poemas Líricos — volume publicado pela Presença — que o seu nome obteria ressonância nacional.

Tinha formação em ciências físico-naturais mas era etnógrafo por opção. Professor do ensino básico, adversário da Ditadura Nacional (1928-33), foi aposentado compulsivamente do ensino em 1932. Viveu grande parte da vida com paralisia nos membros inferiores. 

Colaborou nas principais revistas literárias do seu tempo, interessou-se por arte popular, escreveu e publicou obras sobre pedagogia e etnografia. 

A primeira edição da sua Obra Poética (1956) completa foi organizada por Carlos de Oliveira e João José Cochofel. 

O poema desta semana pertence a Ossadas (1947). A imagem foi obtida a partir da edição de 2003 (Cotovia) de A Poesia da Presença, antologia organizada por Adolfo Casais Monteiro, que a publicou no Brasil em 1959. 

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa, Eugénio de Andrade, José Carlos Ary dos Santos, António Manuel Couto Viana, Ruy Cinatti, Al Berto, Alexandre O’Neill, Vitorino Nemésio, David Mourão-Ferreira, Miguel Torga, Ângelo de Lima, Pedro Tamen, António Ramos Rosa, José Régio, Antero de Quental, Pedro Homem de Mello e Teixeira de Pascoaes.]

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domingo, 20 de março de 2022

GASTÃO CRUZ 1941-2022


Mais um amigo que parte. Morreu hoje Gastão Cruz, poeta, crítico, ensaísta, teórico do grupo de Poesia 61, mas também encenador de teatro e tradutor de Cocteau, Strindberg, Tchekhov e outros.

Autor de uma obra parcimoniosa, balizada entre A Morte Percutiva (1961) e Existência (2017), Gastão Cruz nasceu em Faro e veio para Lisboa aos dezassete anos. Na Faculdade de Letras conheceu Fiama Hasse Pais Brandão, com quem viria a casar. Data desse tempo o seu interesse pelo teatro: integrou o Grupo de Teatro de Letras, tendo mais tarde dirigido o Grupo de Teatro Hoje/Teatro da Graça. Entre outras, adaptou ao teatro o romance Uma Abelha na Chuva de Carlos de Oliveira.

Foi professor do ensino secundário e, durante seis anos (1980-86), leitor de português no King’s College de Londres.

Tendo, durante três décadas, colaborado largamente na imprensa cultural, coligiu parte desses textos nos volumes A Poesia Portuguesa Hoje (1973) e A Vida da Poesia (2009). Coordenou colecções de poesia, organizou antologias, presidiu à Fundação Luís Miguel Nava, dirigiu a revista Relâmpago e recebeu todos os prémios que havia para receber. Em 2019 foi agraciado com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante Dom Henrique.

Vítima de doença degenerativa, estava internado no hospital Egas Moniz, de Lisboa.

Até sempre, Gastão.

PASCOAES


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi À Minha Musa de Teixeira de Pascoaes (1877-1952), poeta maior do Saudosismo português que Cesariny considerava superior a Fernando Pessoa.

Natural de Amarante, Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos passou à posteridade com o pseudónimo de Teixeira de Pascoaes. Filho de um agricultor abastado (e culto) que foi deputado às Cortes, Pascoaes formou-se em Direito e chegou a juiz na sua terra natal.

Estreou-se em livro em 1895, com a colectânea poética Embriões. Mais tarde, dirigiu durante quatro anos A Águia, revista de literatura, arte, ciência, filosofia e crítica social, órgão teórico do movimento da Renascença Portuguesa.

Eremita, místico, espírito filosófico, foi eleito membro da Academia de Ciências de Lisboa em 1923. Além de poesia, publicou ensaios, uma autobiografia [Livro de Memórias, 1928], duas novelas, mas também biografias romanceadas de São Paulo, São Jerónimo, Santo Agostinho, Camilo Castelo Branco e Napoleão.

Pascoaes não gostava de Pessoa e considerava António Nobre a nossa maior poetisa.

O poema desta semana pertence a Senhora da Noite (1909). A imagem foi obtida a partir de Poesia de Teixeira de Pascoaes, antologia organizada por Mário Cesariny, editada por António Cândido Franco e publicada pela Assírio & Alvim em 2002.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa, Eugénio de Andrade, José Carlos Ary dos Santos, António Manuel Couto Viana, Ruy Cinatti, Al Berto, Alexandre O’Neill, Vitorino Nemésio, David Mourão-Ferreira, Miguel Torga, Ângelo de Lima, Pedro Tamen, António Ramos Rosa, José Régio, Antero de Quental e Pedro Homem de Mello.]

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domingo, 13 de março de 2022

PEDRO HOMEM DE MELLO


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi Fria Claridade de Pedro Homem de Mello (1904-1984), o poeta que escreveu poemas imortalizados por Amália, entre eles o famoso Povo Que Lavas No Rio.

Natural do Porto, nascido no seio de uma família de aristocratas, Homem de Mello passou grande parte da sua vida em Afife.

Foi professor do ensino secundário, subdelegado do Procurador da República e estudioso do folclore nacional. Além de poesia, escreveu ensaios sobre tradições portuguesas e diversas obras para o ensino. Estreou-se em livro com Caravela ao Mar (1934) e recebeu todos os prémios que havia para receber antes de 1974. Colaborou assiduamente na imprensa e na televisão. O Rapaz da Camisola Verde continua sendo um grandes poemas da poesia portuguesa.

Conotado com o Estado Novo, passou a última década de vida sem que a crítica lhe desse atenção. Contudo, David Mourão-Ferreira, Natália Correia e Vasco Graça Moura, para citar apenas três grandes nomes, nunca lhe regatearam elogios.

O poema desta semana pertence a Eu, Poeta e Tu, Cidade (2007), obra publicada pelas Quasi Edições a partir da qual a imagem foi obtida.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa, Eugénio de Andrade, José Carlos Ary dos Santos, António Manuel Couto Viana, Ruy Cinatti, Al Berto, Alexandre O’Neill, Vitorino Nemésio, David Mourão-Ferreira, Miguel Torga, Ângelo de Lima, Pedro Tamen, António Ramos Rosa, José Régio e Antero de Quental.]

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domingo, 6 de março de 2022

ANTERO


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi Justitia Mater de Antero de Quental (1842-1891), o ideólogo da Geração de 70.

Natural de Ponta Delgada, nos Açores, Antero nasceu no seio de uma família da velha aristocracia micaelense. Em 1858 foi estudar Direito para Coimbra, tornando-se, com a primeira edição de Odes Modernas, o arauto da Questão Coimbrã. 

Herdeiro de uma fortuna, viajou por França e pelos Estados Unidos, envolvendo-se na política do seu tempo: fundou associações operárias, publicou panfletos revolucionários, dirigiu jornais republicanos e organizou, em Lisboa, as Conferências do Casino (1871). Ficou célebre a que proferiu sobre as Causas da Decadência dos Povos Peninsulares. O cancelamento compulsivo das conferências afasta-o da vida pública.

Vive uns tempos em Paris, radicando-se de seguida em Vila do Conde.

Como reacção contra o Ultimato Britânico de 1890, aceitou presidir à Liga Patriótica do Norte.

Antes de regressar aos Açores viveu uma temporada em Lisboa. Deprimido (sofria de distúrbio bipolar), suicida-se com dois tiros de pistola num banco de jardim de Ponta Delgada. Tinha 49 anos.

O poema desta semana pertence a Odes Modernas (1875). A imagem foi obtida a partir de Poesia I, edição crítica de Luiz Fagundes Duarte para a colecção de Obras Clássicas da Literatura Portuguesa, publicada em 2016 pela Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa, Eugénio de Andrade, José Carlos Ary dos Santos, António Manuel Couto Viana, Ruy Cinatti, Al Berto, Alexandre O’Neill, Vitorino Nemésio, David Mourão-Ferreira, Miguel Torga, Ângelo de Lima, Pedro Tamen, António Ramos Rosa e José Régio.]

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domingo, 27 de fevereiro de 2022

RÉGIO


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi Libertação de José Régio (1901-1969), um dos fundadores, e o principal teórico, da revista Presença, que se publicou durante treze anos, dando corpo ao segundo modernismo.

Natural de Vila do Conde, pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira, Régio foi, além de poeta, também dramaturgo, romancista, contista, ensaísta, cronista, crítico, diarista, memorialista e desenhador. Estreou-se em livro com Poemas de Deus e do Diabo (1925), colectânea que inclui Cântico Negro, o mais famoso dos seus poemas.

Professor de liceu no Porto e em Portalegre, foi uma das personalidades mais destacadas da vida literária portuguesa entre os anos 1930 e 1960. Morreu aos 68 anos sem nunca ter constituído família.

Publicado originalmente no livro de estreia, o poema desta semana foi integrado, em 1939, no segundo, Biografia. A imagem foi obtida a partir de Século de Ouro. Antologia Crítica da Poesia Portuguesa do Século XX, organizada por Osvaldo Manuel Silvestre e Pedro Serra, publicada em 2002 pela Cotovia e Angelus Novus.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa, Eugénio de Andrade, José Carlos Ary dos Santos, António Manuel Couto Viana, Ruy Cinatti, Al Berto, Alexandre O’Neill, Vitorino Nemésio, David Mourão-Ferreira, Miguel Torga, Ângelo de Lima, Pedro Tamen e António Ramos Rosa.]

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domingo, 20 de fevereiro de 2022

ANTÓNIO RAMOS ROSA


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi De Coincidência em Incoincidência de António Ramos Rosa (1924-2013), um dos poetas centrais da poesia portuguesa do Século XX.

Natural de Faro, António Ramos Rosa veio para Lisboa em 1945, embora até 1962 tenha mantido itinerância entre as duas cidades. 

Membro da secção algarvia do MUD Juvenil, esteve preso três meses (1947) no Governo Civil de Lisboa. Publicou o primeiro livro, O Grito Claro, em 1958.  A experiência de empregado de escritório deu origem a dois poemas famosos: O Funcionário Cansado e O Boi da Paciência. Contudo, a obra posterior afasta-se desse neorealismo com laivos surrealistas.

Poeta, crítico, ensaísta e tradutor, mas também desenhador, foi um dos fundadores e directores da revista Árvore (1951), bem como de outras publicações, entre elas Cadernos do Meio-Dia (1958). Em 1962 publicou um importante livro de ensaios, Poesia, Liberdade Livre. A quarta série de Líricas Portuguesas (1969), antologia de referência, foi por si organizada. Traduziu Éluard, Foucault, Marguerite Yourcenar e outros.

Entre os muitos prémios que recebeu, em Portugal e na França, foi distinguido (1991) pelo Collège de l’Europe como Poeta Europeu da Década.

O poema desta semana pertence a Ocupação do Espaço (1963). A imagem foi obtida a partir do primeiro volume de Obra Poética (2018), editado por Luis Manuel Gaspar e publicado pela Assírio & Alvim.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa, Eugénio de Andrade, José Carlos Ary dos Santos, António Manuel Couto Viana, Ruy Cinatti, Al Berto, Alexandre O’Neill, Vitorino Nemésio, David Mourão-Ferreira, Miguel Torga, Ângelo de Lima e Pedro Tamen.]

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domingo, 13 de fevereiro de 2022

TAMEN


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi três versículos aforísticos de Dentro de Momentos de Pedro Tamen (1934-2021), personalidade destacada do grupo de católicos progressistas que se afirmou contra o Estado Novo nos anos 1960.

Natural de Lisboa, Pedro Tamen estreou-se em livro com Poema para Todos os Dias (1956). Além de poeta, foi professor do ensino secundário, cineclubista, crítico literário, editor e director de revistas. Notabilizou-se como tradutor de, entre muitos outros, Gilgamesh, Sade, Flaubert, Proust, Foucault, Bataille, Sartre e Perec.

Daniel na Cova dos Leões (1970) impôs definitivamente o timbre da sua poesia, uma liturgia anticonvencional, culta e sarcástica. 

Durante a Guerra Colonial fez duas comissões de serviço militar em Moçambique.

Tendo colaborado largamente na imprensa, pertenceu ao núcleo fundador da revista O Tempo e o Modo. Dirigiu a editora Moraes (onde criou a colecção Círculo de Poesia) durante dezoito anos. Entre 1975 e 2000 foi administrador da Fundação Calouste Gulbenkian. Foi laureado com os mais importantes prémios literários nacionais, tendo recebido comendas em Espanha e França. Publicado em 2013, Retábulo das Memórias colige a obra poética completa, dezanove livros e dispersos.

Constituem o poema desta semana três versículos de Dentro de Momentos (1984). A imagem foi obtida a partir da primeira edição desse livro, acompanhada de colagens de Fernando de Azevedo e integrada, nessa data, na colecção Mvsarvm Officia da Imprensa Nacional.

Falecido em Setúbal em Julho de 2021, Pedro Tamen é pai de Miguel Tamen, ensaísta, tradutor e professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. 

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa, Eugénio de Andrade, José Carlos Ary dos Santos, António Manuel Couto Viana, Ruy Cinatti, Al Berto, Alexandre O’Neill, Vitorino Nemésio, David Mourão-Ferreira, Miguel Torga e Ângelo de Lima.]

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domingo, 30 de janeiro de 2022

TORGA


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi Primeira Endecha de Miguel Torga (1907-1995), um dos mais influentes escritores portugueses do século XX.

Natural de São Martinho de Anta (Sabrosa), Torga — pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha — foi, ainda criança, moço de recados de uma família abastada do Porto e candidato a seminarista. Aos 13 anos emigrou para o Brasil, onde viveu cinco anos como apanhador de café na Fazenda de Santa Cruz, em Minas Gerais, tendo regressado a Portugal em 1925.

Publicou o primeiro livro, Ansiedade (1928), no ano em que se matriculou na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.

Médico otorrinolaringologista de profissão, Miguel Torga publicou, além de poesia, contos, novelas, romances, peças de teatro, ensaios, crónicas, cinco volumes de memórias e dezasseis volumes do famoso «Diário». Homem de esquerda, teve livros apreendidos, foi preso pela PIDE e impedido de viajar para o estrangeiro.

Adversário da integração de Portugal na Comunidade Económica Europeia, militou publicamente contra a assinatura do Tratado de Maastricht.

Em 1960, a Universidade de Montpellier propôs o seu nome para o Nobel da Literatura, ao mesmo tempo que a intelligentsia portuguesa propunha Aquilino Ribeiro (nenhum dos dois ganhou). Voltaria a ser candidato em 1978, dessa vez sob unanimidade nacional. Traduzido em vários países europeus, recebeu, entre outros, os prémios Montaigne (1981), Camões (1989) e Vida Literária (1992).

Foi casado com a professora e ensaísta Andrée Crabbé Rocha e é pai da professora e ensaísta Clara Rocha.

O poema desta semana pertence a Abismo (1932). A imagem foi obtida a partir do primeiro volume de Poesia Completa (2007), publicado pela Dom Quixote. Foi a primeira vez que um livro seu apareceu nas livrarias sob chancela editorial: em vida, todos os seus livros foram publicados em edição de autor.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa, Eugénio de Andrade, José Carlos Ary dos Santos, António Manuel Couto Viana, Ruy Cinatti, Al Berto, Alexandre O’Neil, Vitorino Nemésio e David Mourão-Ferreira.]

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domingo, 23 de janeiro de 2022

DAVID MOURÃO-FERREIRA


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi O Dedo Os Dedos de David Morão-Ferreira (1927-1996), poeta da fixidez e da diluição da memória, na síntese perfeita de Eduardo Prado Coelho.

Natural de Lisboa, David Mourão-Ferreira foi, além de poeta e brilhante ensaísta, contista e romancista laureado, director de jornais e revistas, professor do ensino secundário, do ISLA e da Faculdade de Letras de Lisboa, secretário de Estado da Cultura em três Governos e personalidade destacada da cena literária.

Estreado em livro com A Secreta Viagem (1950), teria alguns dos seus poemas cantados por Amália — exemplo maior, ‘Barco Negro’ — ainda nos anos 1950, mantendo-se a colaboração de ambos nas décadas seguintes.

Os programas que apresentava na Emissora Nacional e na RTP foram cancelados (1965) por haver protestado contra o encerramento da Sociedade Portuguesa de Escritores. O romance Um Amor Feliz (1986), mais tarde adaptado à televisão, recebeu todos os prémios disponíveis em Portugal. Viajante incansável, a Itália era o seu país de eleição.

O poema desta semana pertence a Matura Idade. A imagem foi obtida a partir de Obra Poética [1948-1995], volume organizado por Luis Manuel Gaspar e publicado pela Assírio & Alvim em 2019.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa, Eugénio de Andrade, José Carlos Ary dos Santos, António Manuel Couto Viana, Ruy Cinatti, Al Berto, Alexandre O’Neill e Vitorino Nemésio.]

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domingo, 16 de janeiro de 2022

NEMÉSIO


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi A Caminho do Corvo de Vitorino Nemésio (1901-1978), um dos poetas centrais do século XX português.

Natural de Praia da Vitória, na Ilha Terceira (Açores), Nemésio publicou em Angra do Heroísmo o primeiro livro, Canto Matinal, não tinha ainda quinze anos feitos.

Depois do serviço militar, já em Lisboa, colaborou na imprensa da época. Em 1922, em Coimbra, concluiu o ensino secundário, matriculando-se na Faculdade de Direito, ao mesmo tempo que trabalhava como revisor da Imprensa da Universidade. No ano seguinte foi admitido na Maçonaria. Em 1925 trocou o curso de Direito pelo de Filologia Românica, tornando-se docente da Faculdade de Letras de Lisboa em 1931.

Além de poesia, publicou um dos mais importantes romances portugueses de sempre, Mau Tempo no Canal (1944). Mas também contos, teatro, ensaios, crónicas, uma biografia de Herculano e uma antologia de poesia brasileira dos séculos XVII e XVIII.

Durante quase sessenta anos, colaborou activamente em jornais e revistas (algumas das quais fundou), tendo, após 25 de Novembro de 1975, sido o primeiro director do jornal conservador O Dia, lançado pelos jornalistas despedidos do Diário de Notícias durante o PREC.

Antes de tornar-se catedrático da Faculdade de Letras de Lisboa (1940), foi leitor de português em Montpellier (1934-36) e Bruxelas (1937-39). Ao longo da vida ministrou cursos em vários países, do Brasil a Moçambique.

Ligado ao separatismo açoriano durante o PREC, nem por isso deixou de ser uma personalidade extremamente popular, celebrizado pelas crónicas da Emissora Nacional e pelo programa Se Bem Me Lembro que a RTP transmitiu a partir de 1969.

Continuam inéditos os poemas eróticos, de que se conhece apenas um, Pedra de Canto, publicado no n.º 35 (1977) da revista Colóquio-Letras.

O poema desta semana pertence a Sapateia Açoriana (1976). A imagem foi obtida a partir do Volume II de Obras Completas (1989), organizado por Fátima Freitas Morna e publicado pela Imprensa Nacional.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa, Eugénio de Andrade, José Carlos Ary dos Santos, António Manuel Couto Viana, Ruy Cinatti, Al Berto e Alexandre O’Neill.]

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domingo, 9 de janeiro de 2022

O'NEILL


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi O Tempo Sujo de Alexandre O’Neill (1924-1986), um dos poetas centrais do século XX português.

Natural de Lisboa, O’Neill atravessou a infância e adolescência com largas temporadas em casa da bisavó materna, em Amarante, cidade onde publicou (1943) os primeiros versos e conheceu Pascoaes. Fez estudos com professores privados e em colégios particulares, tendo ainda frequentado a Escola Náutica. 

Foi funcionário da Caixa de Previdência dos Profissionais do Comércio (1946-52) até ser demitido compulsivamente, amanuense na Companhia de Seguros Metrópole, tradutor e publicista.

Em 1947, durante as festas do Festival Mundial da Juventude, conheceu Cesariny. Nesse mesmo ano participa na reunião fundadora do Grupo Surrealista de Lisboa. Ingressa no MUD-Juvenil em 1948, ano em que publica o primeiro livro, A Ampola Milagrosa, e conhece Nora Mitrani, a trotskista búlgara por quem se apaixonou e esteve na origem do mais famoso dos seus poemas, Um Adeus Português.

Por ter ido esperar Maria Lamas ao aeroporto de Lisboa, foi preso pela PIDE em 1953, ficando detido em Caxias durante quarenta dias. Nesse ano, por empenho de José Cardoso Pires, começa a trabalhar na Telecine.

Foi casado com a realizadora Noémia Delgado e, mais tarde, com Teresa Patrício Gouveia, secretária de Estado da Cultura e duas vezes ministra (Ambiente, Negócios Estrangeiros), sendo pai de um filho de cada uma.

O poema desta semana pertence a No Reino da Dinamarca (1958). A imagem foi obtida a partir de Poesias Completas & Dispersos (2017), volume editado por Maria Antónia Oliveira, biógrafa do autor, e publicado pela Assírio & Alvim.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa, Eugénio de Andrade, José Carlos Ary dos Santos, António Manuel Couto Viana, Ruy Cinatti e Al Berto.]

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domingo, 2 de janeiro de 2022

AL BERTO


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi o sexto poema de Réstia de Sangue de Al Berto (1948-1997), poeta que trouxe à poesia portuguesa o lampejo de uma identidade queer coerente com os acidentes biográficos.

Nascido em Coimbra como Alberto Raposo Pidwell Tavares, foi viver para Sines no ano seguinte. Frequentou a Escola António Arroio, em Lisboa, antes de partir para a Bélgica em Abril de 1967.

Em Bruxelas frequentou a École Nationale Supérieure d’Architecture et des Arts Visuels, tendo vivido na comunidade hippie onde conheceu Joëlle de La Casinière, amiga com quem fundaria, em 1972, o Montfaucon Research Center.

Regressado a Portugal em Novembro de 1975, foi viver para Sines, onde publicou À Procura do Vento Num Jardim d’Agosto (1977). Em Sines foi editor e livreiro, animador cultural da autarquia e director do Centro Cultural Emmerico Nunes.

A partir de 1987, ano de publicação de O Medo, Al Berto tornou-se uma figura mediática, com presença regular em festivais e outros eventos da cena literária. Em 1992 foi feito Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada. Horto de Incêndio (1997), o livro derradeiro, foi escrito e publicado no âmbito de uma bolsa de criação literária do ministério da Cultura.

Sofrendo de um linfoma, foi internado no Hospital dos Capuchos no dia 25 de Abril de 1997, morrendo naquele hospital a 13 de Junho.

Vinte anos após a sua morte estreou (em Outubro de 2017) o filme Al Berto, de Vicente Alves do Ó.

O poema desta semana pertence a Livro Décimo (1985). A imagem foi obtida a partir da 1.ª edição de O Medo, editada pela Contexto.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa, Eugénio de Andrade, José Carlos Ary dos Santos, António Manuel Couto Viana e Ruy Cinatti.]

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terça-feira, 28 de dezembro de 2021

GRABATO DIAS EM ANTOLOGIA


Pedro Mexia conseguiu a proeza de organizar, para a Tinta da China, uma antologia de poemas de João Pedro Grabato Dias, coisa que até aqui ninguém tinha conseguido, alegadamente por reticências dos herdeiros.

Para quem não sabe: João Pedro Grabato Dias é o principal pseudónimo literário de António Augusto de Melo Lucena e Quadros (1933-1994), personalidade irreverente da vida cultural moçambicana.

Nascido em Viseu, foi para Lourenço Marques em 1964, tendo vivido em Moçambique até 1984. Além de pintor sob o nome civil — António Quadros —, com obra espalhada por colecções exigentes e museus de referência, o António fez tudo: encenou peças para o teatro universitário, escreveu canções para Zeca Afonso (então professor em Moçambique), deu aulas na Universidade, co-editou com Rui Knopfli os cadernos de poesia Caliban, fascinou Sena com as Qvybyrycas de Frey Ioannes Garabatus (outro pseudónimo seu), convenceu Samora Machel da existência de um guerrilheiro-poeta chamado Mutimati Barnabé João (outra vez ele), mais o que aqui se não diz por ser de natureza privada.

Agora, quem nunca leu «o Grabato», tem as Odes Didácticas para o fazer.

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domingo, 26 de dezembro de 2021

RUY CINATTI


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi Reisebilder de Ruy Cinatti (1915-1986), poeta que não teve nunca a divulgação merecida.

Nascido em Londres, onde seu avô materno exercia o cargo de cônsul-geral de Portugal, Ruy Cinatti formou-se em agronomia (Lisboa) e antropologia social e cultural (doutoramento em Oxford). Aos 19 anos, o pai expulsou-o de casa.

Com Tomaz Kim e José Blanc de Portugal fundou em 1940 os Cadernos de Poesia, estreando-se em livro no ano seguinte, com Nós Não Somos Deste Mundo. Trabalhou dois anos na Pan-American como meteorologista, partindo em 1944 para Timor como secretário do governador-geral. Mais tarde seria o responsável máximo dos Serviços de Agricultura de Timor, ingressando no quadro da Junta de Investigações do Ultramar.

Viveu em Timor entre 1944 e 1966, mas viajou intensamente pelo extremo-Oriente, Europa, Estados Unidos e México, proferindo conferências e participando de seminários científicos. Antes de deixar Timor, fez juramento de sangue com dois liurais timorenses.

Deixou uma obra poética muito extensa, estando editados em volume único — mais de 1.400 páginas — todos os livros que publicou em vida.

Monárquico, católico, conservador, ficou profundamente abalado com a ocupação de Timor. Além de poesia, publicou o conto Ossobó (1936), diários de viagem às colónias portuguesas, excepto Moçambique, bem como monografias botânicas e antropológicas.

Morreu em Outubro de 1986, em Lisboa, estando sepultado no Cemitério dos Ingleses.

O poema desta semana pertence a Paisagens Timorenses Com Vultos (1974). A imagem foi obtida a partir do primeiro volume de Obra Poética, organizado por Luis Manuel Gaspar e publicado pela Assírio & Alvim em 2016.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa, Eugénio de Andrade, José Carlos Ary dos Santos e António Manuel Couto Viana.]

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domingo, 19 de dezembro de 2021

ANTÓNIO MANUEL COUTO VIANA


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi Muito Urgente de António Manuel Couto Viana (1923-2010), o poeta que a democracia obliterou.

Nascido em Viana do Castelo, veio viver para Lisboa em 1946, tendo-se estreado em livro com O Avestruz Lírico (1948), primeiro de mais de cem títulos de uma vasta bibliografia. A sua proximidade com instituições do Estado Novo fez com que, após 1974, tivesse sido praticamente silenciado. Exceptuando Joaquim Manuel Magalhães, que sobre ele escreveu um denso ensaio incluído em Rima Pobre (1999), a recepção crítica dos livros que publicou em democracia foi residual. Sobretudo a partir de Café de Subúrbio (1991), assumiu sem reservas a identidade homossexual.

Por ter herdado da avó o Teatro Sá de Miranda, de Viana do Castelo, esteve desde sempre ligado ao teatro — mas também à ópera: Teatro Nacional de São Carlos, Círculo Portuense de Ópera, etc. —, como director, encenador, tradutor, actor e figurinista. Contudo, é como poeta que a posteridade o fixa.

Membro da Academia das Ciências de Lisboa, conselheiro de leitura da Fundação Calouste Gulbenkian, director de revistas literárias como Graal, Távola Redonda e outras, viveu dois anos (1986-88) em Macau. Várias vezes premiado e condecorado, foi feito Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique em 1995.

Além de poesia, escreveu teatro, contos, ensaios, memórias, literatura para a infância e gastronomia. Entre outros, traduziu Sófocles, Molière e Neruda. Por seu turno, livros seus estão traduzidos em Espanha, França, Alemanha, Rússia, Inglaterra e China.

Editada pela Imprensa Nacional, a poesia que publicou até 2001 encontra-se coligida nos dois volumes de 60 Anos de Poesia (2004). Deixou inédito um livro de memórias, provável continuação dos três que publicou em vida. Morreu na Casa do Artista, em Lisboa.

O poema desta semana pertence a Relatório Secreto (1963). A imagem foi obtida a partir do 2.º volume da Terceira Série de Líricas Portuguesas, a mítica antologia organizada por Jorge de Sena.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa, Eugénio de Andrade e José Carlos Ary dos Santos.]

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domingo, 12 de dezembro de 2021

ARY DOS SANTOS


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi Soneto Presente de José Carlos Ary dos Santos (1936-1984), o homossexual politicamente incorrecto que embaraçava o PCP.

Nascido em Lisboa no seio de uma família da alta burguesia com origens aristocráticas, abandonou a casa de família na adolescência. Ainda não tinha dezasseis anos quando se estreou em livro (Asas, 1952), embora a obra canónica comece apenas onze anos mais tarde, ao publicar A Liturgia do Sangue (1963).

Como muitos outros poetas, fez da publicidade a sua profissão. O facto de ter sido um letrista profícuo — escreveu cerca de mil canções — e famoso, e de ter vencido quatro edições do Festival da Canção da RTP, colocou-o à margem da Academia. Contudo, de Amália a Simone, poemas seus são cantados por quase toda a gente que conta na música portuguesa. Morreu de cirrose semanas depois de completar 46 anos.

O poema desta semana pertence a Resumo (1972), edição do autor a partir da qual foi obtida a imagem do poema.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa e Eugénio de Andrade.]

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domingo, 5 de dezembro de 2021

EUGÉNIO DE ANDRADE


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi Green God de Eugénio de Andrade (1923-2005), poeta que levou ao limite a elipse do confessionalismo.

Natural da Póvoa de Atalaia, no Fundão, passou a infância e a adolescência entre Castelo Branco, Coimbra e Lisboa, radicando-se no Porto em Dezembro de 1950, cidade onde viveu até morrer e faria dele cidadão honorário.

Estreou-se em livro ainda com o nome civil, José Fontinhas. A edição de Narciso (1939), o livro inaugural, foi paga por António Botto. Ao publicar Adolescente (1942) adopta o pseudónimo que o celebraria. Mais tarde renegaria toda a obra anterior a 1948.

Homossexual notório, a obra e a intervenção cívica elidem essa identidade.

Por iniciativa da Câmara do Porto foi criada em 1991 a Fundação Eugénio de Andrade (extinta em 2011), em cujas instalações o poeta passou a residir.

Poeta popular —  no sentido em que o foram Florbela Espanca, António Gedeão e Ary dos Santos —, nem por isso deixou de receber o reconhecimento formal da Academia.

Largamente traduzido e antologiado, traduziu ele próprio as Lettres Portugaises de Mariana Alcoforado (a freira de Beja), bem como, entre outros, Lorca, Ritsos e Borges. Também publicou prosa — Os Afluentes do Silêncio, de 1969, é um dos títulos centrais da obra —, incluindo literatura para a infância. Em 1999 deu à estampa uma Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa, que nas suas sucessivas edições vai de Roi Fernandez de Santiago, poeta do século XIII, a Ruy Belo (1933-1978). 

No século XX, nenhum poeta gozou como ele de tantas celebrações institucionais. Depois de receber todos os prémios que havia para receber, foi laureado com o Prémio Camões em 2001. Foi ainda condecorado: Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada em 1982, Grã-Cruz da Ordem do Mérito em 1989.

O poema desta semana pertence à obra que o consagrou, As Mãos e os Frutos (1948). A imagem foi obtida a partir de Poesia, volume da obra poética completa publicado em 2000 pela Fundação Eugénio de Andrade.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava e António Maria Lisboa.]

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domingo, 28 de novembro de 2021

ANTÓNIO MARIA LISBOA


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi Poema de António Maria Lisboa (1928-1953), autor do principal manifesto do surrealismo português, Erro Próprio, publicado em 1949.

Natural de Lisboa, morreu aos 25 anos vítima de tuberculose. Homossexual em busca do andrógino ideal, pretendia o fim da distinção homem/mulher.

Segundo Cesariny, a destruição feita por familiares de parte da obra (manuscritos inéditos) constitui uma perda irreparável para a história da poesia surrealista portuguesa. Antes de morrer, passou largas temporadas em Paris, cidade onde se iniciou nas ciências do Ocultismo.

O poema desta semana pertence a Ossóptico (1952). A imagem foi obtida a partir de Poesia (1995), volume da obra poética completa organizado por Mário Cesariny para a Assírio & Alvim.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal e Luís Miguel Nava.]

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