sábado, 2 de março de 2019

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA


O Presidente da República promulgou ontem o decreto do Governo que declara Dia de Luto Nacional Pelas Vítimas de Violência Doméstica o dia 7 de Março.

Exarou Marcelo: «Mais do que mero ato simbólico, o luto ora decretado significa maior mobilização nacional, incluindo todos os Órgãos de Soberania, no combate a este flagelo da nossa sociedade...»

Proposto por Mariana Vieira da Silva, ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, o diploma foi aprovado anteontem em Conselho de Ministros. Uma equipa técnica, multidisciplinar, coordenada pelo procurador Rui do Carmo, foi mandatada para apresentar propostas concretas em matéria de violência doméstica. A primeira reunião ocorre no próximo dia 7.

E que tal começar por uma proposta de alteração do Código Penal na parte atinente ao crime de violência doméstica, seja ela física ou psicológica?

sexta-feira, 1 de março de 2019

PE


Vale o que vale. Uma sondagem divulgada hoje pelo Parlamento Europeu (a parte portuguesa foi trabalhada pela Aximage) prevê:

— subida do PS de 8 para 10 eurodeputados;
— subida do BE de 1 para 2 eurodeputados;
— queda da CDU, que ficaria apenas com um eurodeputado; 
— estagnação do PSD e do CDS;
— e, sem surpresa, desaparecimento do MPT.

Nem o PAN nem a ALIANÇA conseguiriam ter representação.

Clique na imagem da RTP.

AGUSTINA POR ISABEL RIO NOVO


Por norma, não comento livros antes de sobre eles escrever em sede própria. Abro uma excepção para assinalar a publicação de O Poço e a Estrada, a biografia de Agustina Bessa-Luís escrita por Isabel Rio Novo. Porquê a excepção? Porque o livro é muito bom.

Em 503 páginas — sendo 80 de Notas e 7 de índice remissivo —, Isabel Rio Novo faz o retrato de uma vida. Que o tenha feito sem acesso aos arquivos pessoais de Agustina (a família recusou), facto que provavelmente explicará a ausência de portfolio fotográfico, e, mesmo assim, tenha atingido tamanho grau de conseguimento, dá a medida da seriedade da obra.

Escrita num registo de grande desenvoltura narrativa, trata-se de uma verdadeira biografia: factos, datas, endereços, nomes, genealogias, a figura tutelar do Pai, interditos, correspondência, entrevistas, depoimentos, equívocos e tensões familiares, petite histoire, zonas de sombra, milieu literário do Porto e de Lisboa, close reading da obra agustiniana, etc., nada fica de fora.

Conhecia algum do anedotário citado, mas foram-me grata surpresa as páginas dedicadas ao Norte, em especial à Póvoa dos anos 1930. Lê-se como um romance, mas não é um romance. É uma biografia como deve ser.

Eu teria acrescentado a bibliografia de Agustina, mas esse é o tipo de ‘falha’ que pode (e deve) resolver-se em próxima edição ou simples reimpressão.

O Poço e a Estrada suscita um problema: fica muito alta a fasquia para os outros títulos já anunciados (as biografias de Natália Correia, José Cardoso Pires, Herberto Helder, Amália, etc.) pela Contraponto. A ver vamos.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

VERGNE CAIU DO CÉU?


Quase 24 horas depois de se saber que Serralves tinha um novo director, o francês Philippe Vergne, não vejo ninguém fazer as perguntas óbvias:

— por que razão não foi aberto concurso público internacional para escolher o sucessor de João Ribas?

— por que razão foi escolhido o director de um museu que anunciou publicamente, em Maio do ano passado, não tencionar dar continuidade ao contrato desse director?

— por que razão o MOCA anunciou a cessação do contrato de Philippe Vergne dois meses depois do controverso despedimento de Helen Molesworth (a curadora-chefe que Vergne afastou)?

Serralves não é um museu qualquer. Os media e o Porto, por esta ordem, não têm necessidade de ficar ‘deslumbrados’ com a contratação de um director que vem da Califórnia, o qual, em princípio, ia ficar desempregado em Abril.

Na imagem, escultura de Joana Vasconcelos nos jardins de Serralves, da exposição I’m your mirror, exposição patente até ao fim de Junho.

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PATUSCADA

Por 323 contra 240 votos, o Parlamento britânico chumbou a proposta de Corbyn para um Brexit soft.

O líder trabalhista (até quando?) pretendia impor um Brexit que mantivesse o Reino Unido na união aduaneira europeia, nos programas de financiamento da UE, nos esquemas de segurança, etc. Levou por tabela. Ressabiado, diz agora que o Labour vai lutar por um segundo referendo. Os seja, tudo fará para transformar o Reino Unido no Zimbabué.

COHEN VS TRUMP


Michael Cohen, ex-advogado e conselheiro pessoal de Trump, foi ontem ouvido no Congresso. Durante oito horas, cinco das quais transmitidas em directo pela televisão, Cohen disse do Presidente o que Mafoma não disse do toucinho: «Estou aqui para dizer a verdade sobre Trump. Ele é racista, mentiroso, vigarista e trapaceiro. Arrependo-me de ter colaborado com uma fraude

Aparentemente, nada ficou de fora do testemunho de Cohen: conluio de Trump com a Wikileaks durante a campanha de 2016 (o cartel de Julian Assange colocou hackers a piratear o correio electrónico pessoal de Hillary Clinton, bem como o dos Democratas); os pagamentos efectuados a prostitutas para pagar o seu silêncio; o projecto de construção de uma Trump Tower em Moscovo; fraudes fiscais e bancárias; racismo assumido e apoio aos supremacistas brancos; interferência russa na campanha de 2016 intermediada pelo filho e pelo genro de Trump; financiamentos ilegais; o apagão dos registos escolares do Presidente; etc.

Condenado a três anos de prisão efectiva (começará a cumprir a pena no próximo 6 de Maio) por ter colaborado na violação das leis de financiamento da campanha de Trump, Cohen não tem nada a perder. Não admira que ontem tenha desopilado o fígado.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

SERRALVES


O francês Philippe Vergne, 53 anos, actual director do MOCA, o museu de arte contemporânea de Los Angeles, será o novo director artístico do Museu de Serralves. Assume essas funções em Abril.

Em Março do ano passado, Vergne demitiu a curadora-chefe do MOCA, Helen Molesworth, submergindo o museu numa onda de especulações sobre a real motivação do despedimento. Mas, nos círculos bem informados, há quem refira divergências sobre políticas de identidade sexual e racial.

Num statement publicado em ArtNews após a demissão, Ms Molesworth afirmou: «As directorias dos museus são cada vez mais compostas por pessoas excessivamente ricas que não têm formação filantrópica ou cultural

Antes do MOCA, Vergne passou por museus de Marselha, Nova Iorque e Minneapolis.

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INTOLERÂNCIA EM COIMBRA


O brasileiro Jean Wyllys, deputado federal do Rio de Janeiro eleito nas listas do PSOL, o Partido Socialismo e Liberdade, foi ontem atacado com ovos durante uma conferência na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Por que será que não me admiro?

É provável que o atacante fosse um dos indivíduos que participou na manif do PNR contra a conferência de Wyllys.

Lembrar que Wyllys renunciou ao mandato de deputado no passado 24 de Janeiro, após receber várias ameaças de morte e não querer acabar como Marielle Franco, a vereadora lésbica-feminista assassinada em Março do ano passado.

Wyllys, 44 anos, homossexual assumido, professor universitário de cultura brasileira e de teoria da comunicação, foi, em 2010, o primeiro deputado eleito que fez campanha afirmando a sua condição homossexual.

Activista LGBTI responsável por parte da legislação que alterou e revogou artigos do Código Civil brasileiro na parte respeitante às uniões de facto e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, tornou-se um homem a abater pela extrema-direita pentecostal, razão pela qual, após renunciar ao mandato, abandonou o Brasil.

Em 2015, a revista The Economist incluiu Wyllys na Lista Global da Diversidade, ao lado de Hillary Clinton, o Dalai Lama, Bill Gates e outras 46 personalidades.

No passado dia 8, por proposta do PAN, a Assembleia da República aprovou (com os votos favotáveis do PAN, PS, BE, PCP, PEV, Paulo Trigo Pereira e três deputados do CDS) uma moção condenando «as ameaças à integridade física de titulares de cargos políticos e activistas dos direitos humanos no Brasil.»

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terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

VICE


Se tinha dúvidas acerca do poder real de Dick Cheney, vice-presidente dos Estados Unidos nos dois mandatos de Bush W (2001-09), deve ir ver Vice, o filme de Adam McKay que não recebeu o Óscar de melhor do ano porque a Academia de Hollywood faz questão de distinguir xaropadas.

Está lá tudo: o 11 de Setembro, o Patriot Act (conjunto de leis que caucionam a tortura, o acesso ilimitado a registos privados de telefone e correio electrónico, bem como toda a sorte de atropelos a liberdades e garantias individuais), as guerras do Afeganistão e do Iraque, o reforço do poder executivo, as querelas ambientais, a filha lésbica, etc. O filme é muito bom e Christian Bale, no protagonista, não podia estar melhor.

Quem acompanha de perto a política americana, tal como quem conhece a vasta bibliografia entretanto publicada, sabe que Cheney foi, de facto, o Presidente. Quem não sabe, tem oportunidade de conferir.

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BREXIT AGAIN

Jeremy Corbyn, o homem que está a destruir metodicamente o Labour, vai propor ao Parlamento britânico uma votação sobre o impasse do Brexit.

Os deputados teriam de escolher entre aprovar o acordo negociado por Theresa May com a UE ou, em caso de chumbo, darem luz verde a um segundo referendo, o que obrigaria a estender o calendário do artigo 50.

Corbyn, um antissemita teimoso que participou em comícios do Hezzbollah, fez esta nova pirueta a pensar naquilo que julga ser o seu eleitorado. Vai-lhe sair o tiro pela culatra. Cerca de 30 deputados trabalhistas já se demarcaram da iniciativa e, do lado dos tories, ninguém de bom senso está disposto a pôr em cheque o resultado do referendo de 2016.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

ÓSCARES 2019


Ontem foi noite de Óscares. A cerimónia, desta vez sem apresentador/a (opção tomada para evitar discursos heterodoxos), seguiu à risca o protocolo da political correctness.

Mais uma vez, Glenn Close, 72 anos em Março próximo, candidata pela oitava vez, perdeu o prémio de Melhor Actriz.

Verdade que Olivia Colman está superlativa no overacting que este ano lhe valeu o Óscar, mas eu teria preferido a subtileza de Glenn Close em The Wife. Provavelmente vai-lhe acontecer o mesmo que aconteceu a Peter O’Toole, oito vezes nomeado, teve de contentar-se em 2003 com um Óscar Honorário pelo conjunto da carreira.

Ontem, os prémios principais foram:

Como esperado, Olivia Colman, inglesa, activista da luta contra a violência exercida sobre mulheres, recebeu o Óscar de Melhor Actriz pela sua interpretação de Queen Anne (a rainha lésbica) em A Favorita.

Rami Malek, americano de origem egípcia, recebeu o Óscar de Melhor Actor pela sua interpretação de Freddie Mercury (o cantor homossexual que fez a fama dos Queen) em Bohemian Rhapsody.

Regina King recebeu o Óscar de Melhor Actriz Coadjuvante pela sua interpretação em Se esta rua falasse, inspirado no livro homónimo do escritor negro James Baldwin.

Mahershala Ali, muçulmano americano, premiado em 2017 com o Óscar de Melhor Actor Coadjuvante pela sua interpretação em Moonlight, repetiu o prémio pela sua interpretação em Green Book.

Green Book, de Peter Farrelly, recebeu o Óscar de Melhor Filme.

Álfonso Cuarón, mexicano, recebeu o Óscar de Melhor Realizador.

Roma, de Álfonso Cuarón, recebeu o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. É a primeira vez que um filme produzido por uma produtora de televisão (a Netflix), para exibição exclusiva em televisão, recebe um Óscar.

Nas imagens, de cima para baixo e da esquerda para a direita, Olivia Colman, Rami Malek, Regina King e Mahershala Ali. Clique.

domingo, 24 de fevereiro de 2019

JOÃO BIGOTTE CHORÃO 1933-2019


Morreu ontem à noite o crítico e ensaísta João Bigotte Chorão, membro da Academia das Ciências de Lisboa, do Instituto Luso-Brasileiro de Filosofia, e antigo director (1997-2003) do Círculo Eça de Queiroz.

Bigotte Chorão foi um dos grandes especialistas de Camilo Castelo Branco. Da sua vasta obra destacaria O Discípulo Nocturno (1965), Camilo, a Obra e o Homem (1979), O Escritor na Cidade (1986), O Reino Dividido (1999), Galeria de Retratos (2000), Diário Quase Completo (2001), obra que recebeu o Grande Prémio da Literatura Biográfica da Associação Portuguesa de Escritores, Além da Literatura (2014) e Diário 2000-2015 (2018).

Na Editorial Verbo, de que foi director, coordenou e editou várias enciclopédias, tais como, entre outras, a BIBLOS, dedicada às literaturas de língua portuguesa, ou a luso-brasileira LOGOS, de filosofia.

Personalidade discreta da vida cultural portuguesa, Bigotte Chorão é pai do crítico e poeta Pedro Mexia.

VENEZUELA EM TRANSE


Cada vez mais confusa a situação na Venezuela. Maduro continua de pedra e cal. Guiaidó continua a circular livremente e a nomear representantes diplomáticos em vários países. Portugal foi um deles. Foram encerradas as fronteiras da Venezuela com a Colômbia e o Brasil. Camiões TIR da ajuda humanitária americana (alimentação e medicamentos) foram incendiados, tendo morrido, até ao momento, quatro pessoas.

Apesar de proibido de sair do país, Guiaidó atravessou a fronteira com a Colômbia para participar no happening organizado em Cúcuta em simultâneo com o concerto bolivariano. Mas a marcha humana que Guaidó queria que fosse de um milhão, não aconteceu.

Amanhã, Guaidó vai a Bogotá participar numa cimeira do Grupo de Lima (Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru e Santa Lúcia), criado expressamente para monitorizar a situação na Venezuela. O Grupo de Lima é reconhecido e apoiado pela UE e pelos Estados Unidos. De Bogotá seguirá para Washington. Ontem, não se coibiu de pedir uma intervenção militar internacional, escrevendo no Twitter:

«Los acontecimientos de hoy me obligan a tomar una decisión: plantear a la comunidad internacional de manera formal que debemos tener abiertas todas las opciones para lograr la liberación de esta patria que lucha y seguirá luchando. ¡La esperanza nació para no morir, Venezuela!»

Por enquanto parece a guerra do Solnado. A ver vamos.

Clique na foto de El País.