sábado, 20 de outubro de 2018

JAMAL KHASHOGGI


O assassinato de Jamal Khashoggi (1958-2018), um de vários correspondentes estrangeiros do Washington Post, não foi a primeira nem será a última execução de um jornalista. Pondo de lado o horror do episódio (o jornalista terá sido desmembrado em vida, acabando por morrer ao fim de sete minutos, no momento da decapitação), o que surpreende é a pronta reacção da Turquia, país que não é um modelo de liberdades e garantias.

Ontem, após dezassete dias de pressão por parte de Ankara, Washington e Londres, a Arábia Saudita acabou por reconhecer a morte de Khashoggi no interior do consulado saudita em Istambul, onde o jornalista se tinha deslocado, no passado dia 2, para obter documentação necessária ao casamento com uma turca. Segundo as autoridades de Riade, a morte terá ocorrido em consequência de uma luta corpo a corpo. Mas, se é assim, o que os impede de devolver o corpo?

Riade também diz que os responsáveis directos são 18, e estão presos. Três altos funcionários dos serviços secretos sauditas, um deles muito próximo do príncipe herdeiro Mohammad bin Salman, teriam sido demitidos.

A Turquia avisou os Estados Unidos, com base em gravações de imagem e som: Khashoggi foi desmembrado até morrer. Ou seja: a Turquia assume que monitoriza o interior de instalações diplomáticas estrangeiras. Não é inédito, mas permanece um interdito.

Isto suscita outra questão: os alegados assassinos puderam regressar à Arábia Saudita (existem imagens do embarque) sem serem incomodados pelas autoridades turcas. Porquê?

O próprio empenho de Trump, que mandou um emissário falar com o rei saudita, não deixa de ser curioso. Afinal, a defesa da liberdade de expressão não faz parte dos traços distintivos do presidente americano.

O assassinato de Jamal Khashoggi suscita a repulsa do mundo civilizado, com certeza que sim. O que continua por explicar é o tom da reacção de Ankara e Washgington, porque nenhuma destas ondas de choque bate certo.

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

REFORMAS ANTECIPADAS


As redes sociais espelham a realidade: uma pessoa escreve branco, mas, lá onde escrevemos branco, quase todos lêem preto. Acontece a todo o momento.

Pelos vistos, acontece o mesmo a deputados em funções. Muitos de nós ouviram Carlos César, Rui Rio (o único que não é deputado), José Soeiro, Diana Ferreira e Assunção Cristas, dizerem que as novas regras das reformas antecipadas não constam do OE 2019. Ontem tive mais que fazer, mas hoje fui consultar a Proposta de Lei 385/2018, de 13 de Outubro, ou seja, a proposta do Orçamento do Estado para 2019.

Na imagem vê-se a página 87, onde aparece o artigo 90.º que regula o tema. O articulado é claro. Os excelentíssimos deputados não sabem ler?

A peixeirada do CDS, a indignação do PCP, a perplexidade do BE e a surpresa do PSD, fazem parte do jogo político. A reacção da bancada parlamentar do PS suscita interrogações.

Em consequência do sururu no PS, Vieira da Silva, o ministro, esclareceu ontem à noite: «Haverá um processo de transição em que os direitos dessas pessoas se manterão durante o tempo necessário.» Dito de outro modo, o articulado vai ser alterado. Muito bonito. Isto não podia ter sido feito antes?

Clique na imagem.

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

ROVISCO SAI

O general Rovisco Duarte, Chefe do Estado-Maior do Exército, demitiu-se esta tarde, alegando, em comunicado distribuído às Forças Armadas: «As circunstâncias políticas assim o exigiram.» Exactamente o contrário do que diz o site da Presidência da República: «Invocando razões pessoais, pede a resignação do cargo...»

Não esquecer que, ontem mesmo, Carlos César, membro do Conselho de Estado, presidente do PS e líder da bancada parlamentar socialista, disse à TSF que a saída de Azeredo Lopes não punha um ponto final no caso de Tancos: «Espero consequências do ponto de vista das Forças Armadas, em particular, do Exército

Foi o empurrão decisivo.

THE CHILDREN ACT


Gosta de Emma Thompson? E dos livros de Ian McEwan? Então vá ver The Children Act, ou seja, A Balada de Adam Henry. O livro é de 2014 e está traduzido em Portugal. O filme é de 2017 mas só este ano teve distribuição comercial (estreou em Londres em Agosto). Emma Thompson está superlativa. A realização de Richard Eyre tem um quê de operático, ou não fosse ele quem é. No livro, o grau de ambiguidade é maior, mas o filme tem o registo certo. Magnífico. Face à acelerada infantilização do cinema, filmes como este fazem bem.