sábado, 14 de abril de 2018

MILOS FORMAN 1932-2018


Após doença breve, morreu ontem à noite, na sua casa do Connecticut, o realizador checo Miloš Forman, naturalizado americano desde 1968. Autor de filmes que ficaram no imaginário popular, como foi o caso de, entre outros, O Baile dos Bombeiros (1967), proibido após a invasão de Praga pela URSS, Voando Sobre um Ninho de Cucos (1975, cinco óscares), Amadeus (1984, oito óscares) e Valmont (1989), Forman, que também era actor, tornou-se um nome de referência da história do cinema. Filho de pais judeus, praticamente não os conheceu, pois foram mortos num campo de concentração nazi. Tinha 86 anos.

COMEÇOU


Por volta das duas da madrugada, hora portuguesa, os Estados Unidos, o Reino Unido e a França bombardearam os arredores de Damasco e outra localidade a Norte da capital síria. Sabemos como começou, não sabemos como irá acabar. O Senado americano, o Parlamento britânico e o Senado francês autorizaram a operação.

A imagem do New York Times mostra o momento em que os mísseis sobrevoavam Damasco. Clique.

sexta-feira, 13 de abril de 2018

IDENTIDADE DE GÉNERO


Por 109 contra 106 votos, o Parlamento aprovou hoje a nova lei de identidade de género, baixando para 16 anos a idade para mudar de sexo no Cartão do Cidadão. Acaba também a obrigatoriedade de apresentar relatório médico. Votaram a favor: PS, BE, PAN, PEV e Teresa Leal Coelho, do PSD. Votaram contra: PSD e CDS. O PCP absteve-se.

LITERATURA SEM NOBEL?


Sara Danius, secretária permanente e porta-voz da Fundação Nobel, demitiu-se ontem na sequência da demissão de Katarina Frostenson, poeta, membro da Academia Sueca, casada com o fotógrafo Jean-Claude Arnault, acusado de assédio sexual por dezoito mulheres. O escândalo rebentou em Novembro, e o apoio de Sara Danius a Katarina Frostenson levou à demissão, a semana passada, de três membros da Academia. Agora que Katarina bateu com a porta, Sara foi forçada a fazer o mesmo. O busílis é que a Academia ficou sem quorum para decidir sobre o Nobel da Literatura. A eleição de novos membros está vedada enquanto não for resolvido o processo que opõe dois membros (ausentes das votações dos últimos anos) à direcção da Academia. O rei Carlos XVI Gustavo acompanha a situação de perto.

Na imagem, Sara Danius. Clique.

TORTURA

Carlos Botas, capitão, ex-comandante da GNR de Santiago do Cacém, foi ontem condenado pelo Tribunal de Setúbal a 4 anos e 6 meses de prisão efectiva por, em 2011, ter chicoteado repetidamente quatro suspeitos de assaltos na Comporta. «Na minha zona ninguém rouba», reiterou. Em Portugal, terá sido a primeira condenação de um militar/polícia por tortura.

quinta-feira, 12 de abril de 2018

CORTÁZAR & MÃE


Hoje na Sábado escrevo sobre o romance de estreia de Julio Cortázar (1914-1984), Os Prémios, finalmente traduzido. Não foi o primeiro que o autor escreveu, mas foi o primeiro a ser publicado, antecipando O Jogo do Mundo (1963), o livro da consagração, epítome da ruptura com o modelo clássico da ficção latino-americana. A trama é simples: os vencedores da lotaria têm direito a um cruzeiro. O destino é desconhecido e há regras a cumprir. Depois de um encontro no café London, de Buenos Aires, um grupo de contemplados aceita embarcar num cargueiro misto da Magenta Star. Como o embarque se faz às escuras, desconhecem o nome do navio, Malcolm. Deveras enigmático. Nenhum deles tem afinidades entre si: nem origem social, nem profissão, nem convicções ideológicas, nem conta bancária, nem sequer as razões pelas quais aceitaram o prémio. A partir daí, tudo gira em torno do quotidiano de Lucio, Nora, Medrano, Paula, Raúl, Claudia, Felipe, Persio e outros. Idiossincrasias, equívocos, sexo (área em que Cortázar revela exemplar à-vontade), rancores, pusilanimidades, intrigas, decepções, arrivismo, prosápia intelectual, atritos, tudo contribui para fazer daquele peculiar microcosmo um retrato da sociedade da época. Persio, provável alter ego de Cortázar, parece ser o único com a chave dos acontecimentos. Medo e perplexidade face ao desconhecido. A existência de tifo a bordo piora a situação. Por que motivo o navio foi autorizado a partir com tripulantes doentes? Porquê a inexplicada ancoragem? A proibição de aceder à ponte tem a ver com o tifo? A tripulação nada esclarece e o seu mutismo provoca um motim entre os passageiros. O desfecho pícaro quadra de viés com a retórica existencialista. A grelha semântica seria afinada com O Jogo do Mundo, mas, por enquanto, largas passagens são redundantes. Filho de um diplomata argentino, Cortázar nasceu na Bélgica, poucas semanas após a eclosão da Primeira Guerra Mundial. Mais tarde viveu na Argentina, onde publicou contos e outros textos. Em 1951, descontente com o regime de Perón, fixa-se em Paris como tradutor da Unesco. Em 1981, em protesto contra a ditadura militar de Videla e Viola, solicita e obtém a nacionalidade francesa. Quatro estrelas. Publicou a Cavalo de Ferro.

Escrevo ainda sobre Publicação da Mortalidade, a poesia reunida de Valter Hugo Mãe (n. 1971). Mais conhecido como ficcionista, o autor voltou à poesia. Melhor dito, reuniu num único volume os poemas definitivos. Os livros originais foram agrupados sem referência à primeira publicação. Nenhuma introdução ou simples nota indica os critérios da recolha. O leitor terá de descobrir por si os poemas omissos ou de tal modo alterados que devêm inéditos. Valter Hugo Mãe tinha dez livros de poesia publicados quando o primeiro de sete romances fez dele um autor mediático. Portanto, o grande mérito desta poesia reunida consiste na demonstração do conseguimento do autor enquanto poeta (em detrimento do ficcionista, entenda-se). Numa época em que a narrativa vive refém da retórica mais adiposa, a sua poesia não tem medo da elipse: «vem ver-nos / tarda nada chega a primavera / e as flores que plantámos no / quintal vão florir como / símios loucos aos teus pés». A lição modernista é recuperada com brio. Noutro registo, a sequência «os olhos encaracolados de sonho» (um extenso poema) dá a medida do fôlego do poeta. Quatro estrelas. Publicou a Assírio & Alvim.

RECUO?

A reviravolta indicia que alguém tomou as rédeas em Washington. Depois das ameaças que fizeram subir a tensão para níveis incomportáveis, Sarah Huckabee Sanders, porta-voz da Casa Branca, esclareceu que, existindo outras opções, não está iminente um ataque à Síria. Antes assim. Não obstante, Theresa May mantém para hoje uma reunião de emergência do Governo britânico com vista a acertar detalhes da intervenção. Se formos optimistas, podemos concluir que alguém fez um desenho ao Presidente.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

SÍRIA

Parece estar iminente um ataque aéreo à Síria por parte dos Estados Unidos. A aviação civil já foi avisada para a ocorrência de perturbações na área do Mediterrâneo oriental. Há porém um sério busílis: havendo, como parece haver, militares e equipamento russo em todas as instalações militares sírias, um ataque à Síria será também um ataque à Rússia. Para já não falar do Irão.

Claro que a Síria é um pretexto. O vasto mundo, a Ocidente e a Oriente, a ONU, a NATO e a UE borrifam-se para a tragédia síria. Mas Trump tem de distrair a opinião pública das declarações de duas mulheres: Karen McDougal, ex-modelo da Playboy, alega ter tido durante um ano (2006) uma relação amorosa com o Presidente e de, em conformidade, ter recebido 150 mil dólares; e Stephanie Clifford, actriz porno conhecida como Stormy Daniels, recebeu 130 mil dólares para garantir que mantinha a boca fechada durante a eleição presidencial de 2016. Bem pode Trump dizer que tudo não passa de... A total witch hunt, que Robert S. Mueller III, o Procurador, não se comoveu. Agentes do FBI invadiram e revistaram o gabinete do advogado pessoal do Presidente, Michael D. Cohen, recolhendo provas dos pagamentos e outras acusações. Tudo isto explica a urgência do ataque à Síria. A ver vamos.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

ORBÁN REELEITO


A reeleição de Viktor Orbán para um terceiro mandato consecutivo deve fazer a Europa reflectir. O outdoor da imagem ilustra o enfoque da campanha eleitoral: Stop à emigração. Com este slogan, o partido de Orbán, o Fidesz, ou Magyar Polgári Szövetség, elegeu 70% dos deputados do Parlamento húngaro. O mundo está perigoso.

Clique na imagem.

domingo, 8 de abril de 2018

BRASIL

Se, como tudo parece indicar, Bolsonaro for o próximo Presidente do Brasil, a maioria silenciosa que caucionou a prisão de Lula vai acabar como os aristocratas franceses que festejaram a execução de Luís XVI. Na carroça, que é como quem diz no camburão.

Jair Bolsonaro, 63 anos, olho azul sibilino, militar na reserva, apoiante declarado da ditadura militar, defensor da legalização da tortura policial e da pena de morte, deputado (o mais votado no Rio de Janeiro), católico fundamentalista, activista anti-LGBT e anti-aborto, é considerado o político brasileiro mais influente nas redes sociais.

Os media que comparam Lula a Capone, e as classes médias blasé, vão sentir o pau. Não haverá vaselina que chegue.

ACABOU


Sábado, 7 de Abril. Fixar a data. Eram 18:42 em São Bernardo do Campo quando Lula da Silva saiu do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e entrou no carro da polícia que o conduziu à sede da Polícia Federal em São Paulo. Ali fez exame de corpo de delito, seguindo depois para o aeroporto de Congonhas, onde um avião da Força Aérea Brasileira o levou até Curitiba. Passava das 22:00 quando deu entrada na Superintendência da Polícia Federal da capital do Paraná. Para milhões de brasileiros da classe trabalhadora, e um número residual de estudantes, artistas e intelectuais da classe média, acabou o sonho de um Brasil mais justo.

Clique na imagem do Diário de Notícias.