sábado, 28 de janeiro de 2017

COMEÇOU

Trump assinou um decreto presidencial que proíbe, por tempo indeterminado, a entrada nos Estados Unidos de cidadãos oriundos da Síria, do Irão, do Iraque, da Líbia, da Somália, do Sudão e do Iémen. A medida já está em vigor e, um pouco por toda a parte, vários passageiros têm sido impedidos de embarcar:

«Confusion turned to panic at airports around the world, as travelers found themselves unable to board flights bound for the United States. In Dubai and Istanbul, airport and immigration officials turned passengers away at boarding gates and, in at least one case, ejected a family from a flight they had boarded.» — NYT

Não estamos a falar de refugiados. Estamos a falar de pessoas com autorização de residência e trabalho nos Estados Unidos que, por qualquer razão, se ausentaram do país. Por exemplo, a Google tem cerca de uma centena de trabalhadores nessas condições e mandou-os regressar imediatamente mas, tudo indica, tarde de mais. De fora da proibição ficam os funcionários da ONU e pessoal diplomático.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

RAHMAN & KNAUSGARD


A avaliar pela unanimidade crítica, e estamos a falar de um coro que inclui gente do calibre de Joyce Carol Oates e James Wood, a literatura pós-colonial ganhou um nome de peso na pessoa de Zia Haider Rahman, cidadão britânico nascido no Bangladesh, radicado no Reino Unido desde criança, formado em Cambridge, Oxford e Yale, banqueiro da Goldman Sachs e, actualmente, advogado de direitos humanos na Transparency International. Também escritor “sem domicílio”, como Steiner disse de outros ao falar de extraterritorialidade. As epígrafes de cada uma das 22 secções do livro são eloquentes, mas Somerset Maugham chegava: «Há pessoas que se adaptam tão bem à máscara que assumiram que por vezes acabam por tornar-se quem pareciam ser.» Porém, quem abre o volume é Sebald. Rahman publicou em 2014 o seu primeiro (e até à data único) livro, À Luz do que Sabemos. A guerra do Afeganistão, o crash de 2008 e as migrações forçadas são três tópicos fortes deste romance de matriz enciclopédica. O autor sabe do que fala, seja sobre Wall Street ou a pulsão de alteridade que molda a sociedade britânica actual, o lodaçal de Islamabad ou os códigos Oxbridge. A partir do lugar de déraciné, constrói uma narrativa focada no confronto de castas. Atenção: castas e não classes, na medida em que tudo se joga nas mil nuances das relações sociais, em particular na identificação do «charme desprendido de quem tem origens superiores.» O narrador sabe que nunca será um “deles”. E não é pelo facto de não ter um bom alfaiate. Vários episódios estabelecem essa linha de fronteira. O da funcionária de apelido sonante que arromba uma janela em Cabul porque a «sua pele branca» lhe dava esse direito, ilustra bem o ponto de vista que defende. À Luz do que Sabemos é o retrato do mundo pós-11/9 nas suas formas mais evidentes: Iluminismo do sector financeiro, terrorismo, povos expatriados. A imagem de Gödel e Einstein a caminharem no terreno de uma quinta americana (ver página 734) é um exemplo do desenraizamento que o livro explora em todos os matizes. De Zafar, o protagonista, Rahman poderá dizer o que Flaubert disse da Bovary. Quatro estrelas. Publicou a Quetzal.

Chegou às livrarias No Outono, um dos volumes da tetralogia que Karl Ove Knausgard (n. 1968) dedicou às estações do ano. Célebre pela saga autobiográfica A Minha Luta, da qual estão traduzidos quatro dos seis volumes, Knausgard tornou-se um autor de culto também em Portugal, apesar da mudança de registo na língua de chegada: João Reis e Pedro Fernandes traduziram dois livros a partir dos originais noruegueses, enquanto Miguel Serras Pereira fez as suas traduções a partir das edições inglesas de Um Homem Apaixonado, A Ilha da Infância e Dança no Escuro. No Outono tem ilustrações de Vanessa Baird e compõe-se de um conjunto de três cartas dirigidas a uma filha que vai nascer. Cada carta é preenchida por vinte textos breves, sobre tópicos tão diferentes como sacos de plástico, gasolina, urina, sangue, febre, lábios vaginais, piolhos, Van Gogh, latas de conserva, vomitado, moscas, retretes, etc. Em cada um deles Knausgard expõe o seu ponto de vista: «A vergonha ajusta diferenças, cria segredos, desenvolve tensões. […] É na sexualidade que se trava a grande batalha entre a vergonha e o desejo.» Flaubert tem direito a vénia. Quatro estrelas. Publicou a Relógio d'Água.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

TSU & SALÁRIO MÍNIMO

BE, PCP, PEV, PAN e PSD preparam-se para chumbar hoje a descida temporária (vigoraria durante 12 meses) da TSU que incide sobre o salário mínimo. A descida seria de 1,25%. O CDS anunciou ir abster-se. Ficando o PS sozinho, a medida cai. Não vale a pena comentar a cambalhota de Passos Coelho. Lembrar que, em 2014, o PSD aprovou uma medida praticamente igual: 0,75% durante 15 meses. Até à votação, pode ser que alguma água passe pelas pontes. O Governo prepara-se para baixar o valor do Pagamento Especial por Conta, vulgo PEC, decisão que agrada ao BE, ao PCP, aos patrões e às confederações sindicais, tendo a vantagem adicional de compensar a descida da TSU. A ver vamos.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

CLARO COMO ÁGUA

Marcelo deu ontem a sua primeira entrevista televisiva desde que é Presidente da República. Driblou, do princípio ao fim, as rasteiras de Ricardo Costa e Bernardo Ferrão. A cada investida, o PR foi claro: Era preciso fazer, e o Governo fez bem. Também ficou claro que haverá um segundo mandato. Preferindo a solução do mandato único, de seis ou sete anos, mas não sendo esse o Diktat constitucional, terá de ponderar: Em Setembro de 2020 esclareço. Gostei.

BENOÎT HAMON


Obtendo 36,3% dos votos expressos, Benoît Hamon, 49 anos, antigo ministro da Educação e da Economia, ganhou a primeira volta das primárias da Esquerda francesa. Manuel Valls, 54 anos, primeiro-ministro até ao mês passado, ficou em segundo lugar com 31,1%. Apresentaram-se sete candidatos à 1.ª volta. Ao contrário do que sucedeu em 2011, quando 2,6 milhões de franceses votaram nas primárias da Esquerda, ontem o número de votantes não excedeu 1,5 milhões. No próximo dia 29, o duelo será portanto entre Hamon e Valls. Hamon representa a ala esquerda do PS francês, e Valls a ala direita. Clique na imagem.

domingo, 22 de janeiro de 2017

OBRA CONCLUÍDA


Esta foto de Nuno Correia mostra o estado actual do Saldanha. As obras acabaram em todo o eixo que vai do Marquês de Pombal a Entrecampos, vasta área que inclui a Avenida Fontes Pereira de Melo, o Saldanha, a Avenida da República e o Campo Pequeno. Antecipou-se em dois meses a promessa de Fernando Medina de ter as obras concluídas em Março. Hoje, das 10 às 17:00h, a zona estará por conta dos peões, com animação de rua para todos os gostos: taichi, zumba, concertos pop, jazz, bandas, artistas do Chapitô, aulas de bicicleta, feira de artesanato, exposição de fotografia das Avenidas Novas, jogos tradicionais, uma marcha da acessibilidade, street food, etc. Como se vê pela imagem, as árvores do Saldanha estão lá. E ao longo do trajecto foram plantadas centenas de árvores novas. Muito bom!

Apenas lamento que a CML não tenha aproveitado para retirar os placards de propaganda partidária, inestéticos, anacrónicos e, no caso de Entrecampos, prejudicando a visão do Monumento aos Heróis da Guerra Peninsular.

Clique na imagem.