sábado, 5 de outubro de 2019

MONOS


Como é dia de reflexão, reflitamos sobre monos.

A imagem de cima mostra a nova Deichman Bjørvika, biblioteca pública de Oslo, obra do gabinete de arquitectura de Lund Hagem. Hordas de especialistas, opinião pública tout court e os media, todos rendidos.

Pergunta não inocente: em que parte o edifício dos arquitectos Manuel Aires Mateus e Frederico Valsassina projectado para o Rato (a praça mais feia e desordenada de Lisboa), lhe é inferior?

Clique nas imagens: Oslo ao alto, Lisboa em baixo.

MONUMENTAL


Quem não se lembra do Monumental e das suas três salas: o cinema, com 1.967 lugares; o teatro, com 1.086; e o estúdio, onde eram exibidos “filmes de autor”, com 208. O Monumental foi inaugurado em Novembro de 1951 e fechou em Novembro de 1983. Denominada Satélite, a sala-estúdio só abriu em Fevereiro de 1971, ocupando o espaço do antigo salão de chá do primeiro andar.

No piso térreo, virado à Fontes Pereira de Melo, o café-restaurante Monumental marcou uma época da vida gay de Lisboa (embora o Monte Carlo, mesmo ao lado, fosse muito mais divertido). Resumindo: durante 32 anos, o Monumental foi um lugar de eleição.

Demolido em Maio de 1984, deu lugar a um edifício pavoroso, todo espelhado, com quatro salecas de cinema desconfortáveis extremamente feias, inauguradas em 1993 pela Medeia Filmes, de Paulo Branco, actualmente encerradas.

Agora muda tudo. Por 29 milhões de euros, a Broadway Malyan, responsável pelo projecto arquitectónico, vai pôr o edifício como se vê na imagem. Além da fachada, a remodelação inclui os equipamentos interiores.

Continuará um pavor, embora o actual seja pior. Com abertura prevista para Outubro de 2020, manterá as salas de cinema (mas sem a Medeia Filmes), que espero sejam melhores que as actuais. O shopping desaparece, ficando a área comercial ocupada por uma grande loja-âncora.

Para mal dos nossos pecados, o Saldanha está condenado a ser cobaia de todas as experiências.

Clique nas imagens. De cima para baixo: projecto 2020 (em curso), versão 1993, obra original (1951).

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

PS, OBVIAMENTE


Na medida em que é público o meu apoio ao partido, parece-me redundante dizer que no próximo domingo irei votar no PS.

Faço-o desde 1976 (vivendo em Lourenço Marques, em 1975 não pude votar para a Constituinte) e nunca me arrependi, fossem eleições legislativas, autárquicas ou europeias. O mesmo se diga relativamente a eleições presidenciais, exceptuando 2016, ano em que apoiei e votei em Marisa Matias.

Espero que uma hipotética pulverização do Parlamento não dinamite o essencial, ou seja, consolidar o trabalho feito nos últimos quatro anos.

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EUROSONDAGEM


Estudo da Eurosondagem divulgado hoje no semanário Sol.
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AXIMAGE


Sondagem da Aximage para o Jornal Económico, divulgada hoje.
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ICS/ISCTE


Sondagem do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e do ISCTE, para o Expresso e a SIC, divulgada esta sexta-feira:

PS = 38% / PSD = 28% / BE = 10% / CDU = 7% / CDS = 5% / PAN = 3% 

PS e PSD separados por 10%

Maioria de Esquerda = 55%. Juntando o PAN, seriam 58%.

Clique nas imagens do Expresso.

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

FREITAS DO AMARAL 1941-2019


Vítima de cancro nos ossos, morreu hoje Diogo Freitas do Amaral, internado há cerca de três semanas no Hospital da CUF, em Cascais, embora também estivesse a ser seguido por especialistas da Fundação Champalimaud. Tinha 78 anos.

Professor catedrático de Direito, antigo procurador da Câmara Corporativa, deputado em várias legislaturas, vice-primeiro-ministro de Sá Carneiro (e primeiro-ministro interino após a sua morte), membro do Conselho de Estado, mais de uma vez ministro da Defesa Nacional e dos Negócios Estrangeiros, Presidente da União Europeia das Democracias Cristãs, um dos autores da revisão constitucional de 1982, candidato presidencial em 1986 e, em 1995, Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, deixa uma bibliografia com mais de sessenta títulos, incluindo os três volumes das Memórias, o último dos quais lançado há três meses.

Fundador do CDS em Julho de 1974, juntamente com Adelino Amaro da Costa, Basílio Horta, Victor Sá Machado, João Morais Leitão e outros, dirigiu o partido até 1982, mas abandonou-o em 1992.

O Governo decretou luto nacional no próximo sábado, dia do funeral. O primeiro-ministro foi claro: «Morreu um dos fundadores do regime democrático». O Presidente da República cancelou a viagem ao Vaticano.

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JACKSON & DRNDIC


Hoje na Sábado escrevo sobre A Lotaria e Outras Histórias, de Shirley Jackson (1916-1965). Sendo a tradição gótica tão importante na literatura norte-americana, Ms Jackson conseguiu a proeza de construir uma das obras ficcionais mais sólidas do género, podendo medir-se com Hawthorne ou mesmo Edgar Allan Poe. Antes de morrer aos 48 anos de idade, escreveu seis romances, uma centena de contos, três volumes de memórias e quatro livros infantis. A Lotaria e Outras Histórias constitui a primeira, e única publicada em vida, das sete colectâneas em que os seus contos estão coligidos. O romance de terror A Maldição de Hill House, já publicado em Portugal, foi adaptado ao cinema duas vezes (1963 e 1999), tendo a Netflix feito a partir dele uma série de dez episódios. Outras obras suas foram igualmente adaptadas ao teatro, cinema e televisão. Juntamente com o conto titular que fecha o conjunto, o livro inclui outras 24 histórias e o poema de James Harris que serve de epílogo. Em 1948, quando a New Yorker publicou A Lotaria, a controvérsia foi enorme. Os leitores da revista ficaram chocados com o ritual de violência associado à festa (o dia da lotaria) da aldeia. Lido hoje, o que mais surpreende neste conto é o ponto de vista, feminista, da narradora. Por muito subtil que seja, a natureza anti-patriarcal é evidente. Num registo oposto, porque urbano, O Amante Demoníaco relata a história de uma mulher de 34 anos à procura do noivo (indo de casa em casa), no dia que julgava ser o do seu casamento. Outro exemplo “macabro” é A Renegada, a história de uma cadela que dizima as galinhas da vizinhança. Parece banal. O pior, o verdadeiro horror, subjaz à solução preconizada pelos filhos pré-adolescentes de uma pacata dona de casa: «A Sra. Walpole fechou os olhos sentindo, de súbito, mãos ásperas que a puxavam, pontas afiadas que lhe apertavam a garganta.»  São assim os contos de Shirley Jackson. Aparentemente triviais, sobre pessoas comuns, porém encharcados de genuína maldade. Não podendo comentar todos, gostaria de destacar, além dos citados, os seguintes: Charles, Estátua de Sal e O Dente. Cinco estrelas. Publicou a Cavalo de Ferro.

Escrevo ainda sobre Trieste, da escritora croata Daša Drndić (1946-2018). Traduzido a partir da versão em língua inglesa, é um documento para a história. Se dúvidas houvesse, a lista de 44 páginas com os nomes dos cerca de nove mil judeus deportados de Itália, aí está para o provar. A história de Haya Tedeschi, professora de matemática, nascida em 1923, em Gorizia, cidade italiana que foi outrora uma possessão do império austro-húngaro, é um pretexto para contar a história da Europa no século XX. A partir da cidade de Trieste, Daša Drndić compõe o mosaico do horror: parte de uma lista com os nomes de membros do Aktion T4 (o departamento nazi responsável pelo extermínio de doentes), os verbetes biográficos de alguns carrascos, excertos de interrogatórios dos Julgamentos de Nuremberga, velhas histórias de família, genealogias, retratos, poemas e citações de muitos autores: Pound, Ungaretti, Borges, Magris, Celan, T.S. Eliot e outros. Muito ténue, o fio condutor gira em torno da busca de um filho perdido. Quatro estrelas. Publicou a Sextante.

TANCÓLOGA

Quem senão D. Assunção? Tancóloga, of course. O achado é de Martim Silva, director-adjunto do Expresso. A presidenta da CDS entrou definitivamente no reino da anedota.

INTERCAMPUS


Sondagem da Intercampus para Correio da Manhã e o Negócios, divulgada hoje.

PS = 35,0% / PSD = 26,1% / BE = 8,7% / CDU = 8,0% / PAN = 5,6% / CDS = 4,5%

O PAN ultrapassa o CDS.

Maioria de Esquerda = 51,7%. Juntando o PAN, seriam 57,3%.

Clique na imagem do Negócios.

PITAGÓRICA


Pitagórica, ontem à noite, para a TVI, JN e TSF:

PS = 37,4% / PSD = 28,5% / BE = 8,9% / CDU = 7,4% / CDS = 4,0% / PAN = 3,8%

Clique na imagem do Jornal de Notícias.

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

CHICANA INDIGENTE

Rio e Cristas querem que o Parlamento volte a discutir o Caso Tancos, desejo bizarro, uma vez que a acusação já foi deduzida pelo Ministério Público. O que ambos de facto pretendem é introduzir ruído na campanha eleitoral.

Nem por isso o PSD deixou de solicitar a convocação da comissão permanente da Assembleia da República, tendo Ferro Rodrigues convocado para esta manhã uma conferência de líderes

Feita a conferência, PS, BE, PCP e PEV decidiram que o assunto seria discutido depois das eleições, nunca antes. PSD e CDS não conseguiram agendar a pretendida sessão extraordinária da comissão permanente da AR.

Cereja em cima do bolo foi a extravagante exigência de Cristas ao Presidente da Assembleia da República: enviar ao MP as declarações que Azeredo Lopes e António Costa prestaram no âmbito da Comissão Parlamentar de Inquérito.

Depois de fazer notar que o pedido fora feito de forma «inapropriada, incorrecta e injustificada», Ferro Rodrigues teve de lembrar à presidente do CDS que são públicos — estando disponíveis online na página do Parlamento na Internet — todos os documentos relativos à referida CPI.

RENASCENÇA


Renascença, hoje:

PS = 38,02% / PSD = 26,66% / BE = 9,85% / CDU = 6,87% / CDS = 4,9% /
PAN = 3,32%

Clique no gráfico.

VITÓRIA DE PIRRO?

A leitura atenta da sondagem do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica Portuguesa divulgada ontem à noite pela RTP e hoje de manhã pelo Público, demonstra várias coisas.

Não vou aqui dissecar todos os dados, mas alguns merecem reflexão.

Apesar da persistente contestação interna e do boicote sistemático dos seus barões, tudo indica que Rui Rio coloque o PSD no patamar de 2015. O anunciado descalabro do partido foi uma miragem.

O povo de Direita não vai em fantasias. Fantasias: votar no ALIANÇA ou no CHEGA com o único intuito de apear o homem do Porto.

Do mesmo passo, grande parte dos votantes do CDS prefere transferir-se para o antigo parceiro do que votar num partido que se foi progressivamente abimbalhando e não tem pudor de apresentar um programa com medidas inexequíveis. Exemplo: redução de 15% no IRS de todos os portugueses

Infelizmente, o instinto de sobrevivência nunca foi um traço distintivo da Esquerda.

Foi sempre a classe média (médicos, advogados, professores, enfermeiros, quadros médios e superiores do Estado e das empresas privadas, pequenos empresários e comerciantes, etc.) quem decidiu as eleições. Não são os clubes de opinião.

Aqui chegados, tudo indica que o PS será o partido mais votado, mas não é de descartar uma vitória de Pirro.

terça-feira, 1 de outubro de 2019

UNIVERSIDADE CATÓLICA


Ao mesmo tempo que em Viseu e Aveiro se distribuíram hoje, a partir do fim da tarde, panfletos de uma sondagem apócrifa que dá o PS e o PSD tecnicamente empatados (e o BE em 4.º lugar), a RTP divulgou esta noite uma sondagem da Universidade Católica feita também para o Público.

PS = 37% / PSD = 30% / BE = 10% / CDU = 6% / CDS = 5% / PAN = 3%

Clique na imagem.

RENASCENÇA


Não é só a Pitagórica que faz tracking poll para a troika TVI/JN/TSF.

A Renascença faz melhor: colige todos os inquéritos de opinião políticos realizados em Portugal acerca dos resultados previstos para as próximas eleições Legislativas.

A estimativa hoje:

PS = 38,68% / PSD = 24,49% / BE = 9,79% / CDU = 7,03% /
CDS = 4,76% / PAN = 3,74%

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O GOVERNO CUMPRIU

Entram hoje em vigor várias Leis importantes. Destaco três:

A Lei de Bases da Habitação, uma lacuna que se mantinha desde a aprovação da Constituição.

O novo Código de Trabalho, que, entre outras medidas, reduz de três para dois anos a duração máxima dos contratos a termo.

A norma do OE 2019 que, no âmbito do acesso à reforma antecipada, equipara os funcionários públicos aos trabalhadores do sector privado.

A partir de hoje, o corte de 14,7% correspondente ao factor de sustentabilidade deixa de aplicar-se a quem tenha, cumulativamente, 60 anos de idade e 40 anos de contribuições.

Até ontem, a idade mínima era de 63 anos, não se aplicando aos funcionários públicos.

A partir de hoje ficam todos equiparados. Contudo, mantém-se, para todos (subscritores da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações), o corte de 0,5% por cada mês de antecipação face à idade legal de reforma, que em 2019 é de 66 anos e cinco meses.

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

JESSYE NORMAN 1945-2019


Vítima de choque séptico, morreu hoje no Mount Sinai St Luke Hospital de Nova Iorque a soprano americana Jessye Norman. Iniciada no gospel, Jessye notabilizou-se pelas suas interpretações de Schubert, Mahler, Wagner, Brahms, Satie, Bartok, Strauss, Poulenc, Messiaen, Purcell, Berlioz, Verdi e outros. Provavelmente a soprano americana mais amada na Europa, Jessye deu sempre primazia ao cânone europeu. Em 1989, Mitterrand convidou-a para cantar La Marseillaise na cerimónia oficial de celebração dos duzentos anos da Revolução. Tinha 74 anos.

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EM QUE FICAMOS?


E mesmo assim, tendo Fernando Negrão utilizado abusivamente as assinaturas de vários deputados do PSD, o pedido de fiscalização sucessiva segue nesses termos para o Palácio Ratton?

Os deputados cuja assinatura digital foi usada sem o seu conhecimento não exigem que a mesma seja retirada? O CDS aceita partilhar um documento com assinaturas-fantasma?

Rui Rio não tem força para actuar como devia?

Clique na imagem do Observador.

ÁUSTRIA


Obtendo 38,4% dos votos expressos e elegendo 73 deputados, o Österreichische Volkspartei, ou Partido do Povo (centro-direita), de Sebastian Kurz, venceu as eleições.

Com 33 anos, Kurz continuará a ser o chefe de Governo mais novo da UE.

Os sociais democratas do SPÖ perderam 11 lugares, tantos quantos o Partido do Povo acrescentou aos que já tinha. Ainda não foi desta que Pamela Rendi-Wagner tirou Kurz do lugar de Chanceler.

Sem surpresa, o FPO, ou Partido da Liberdade (extrema-direita), perdeu 19 deputados. É portanto pouco provável nova coligação entre Kurz e o FPO, liderado por Norbert Hofer após a demissão de Heinz-Christian Strache (vice-chanceler até à dissolução do Parlamento), na sequência do caso Ibiza.

Irá Kurz coligar-se com a senhora Rendi-Wagner ou com os verdes de Werner Kogler? Ambas as soluções garantem maioria absoluta.

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NONSENSE


Diz o CM que Manuel Pinho terá comprado um apartamento de luxo em Nova Iorque, junto à Broadway.

Junto à Broadway? Mas junto a que parte da Broadway? Esse detalhe muda tudo.

Porque a Broadway tem 53 quilómetros, dos quais 21 atravessam Manhattan em diagonal. Eu sei que é de uso chamar-se Broadway ao perímetro dos teatros, ou seja, à zona balizada pelas ruas 40 e 54 West. Mas isso é gíria. A Broadway cruza bairros completamente diferentes de Manhattan, do Bronx e de Westchester. Fiquemos por Manhattan.

Onde fica, afinal, a casa de Pinho? Perto de Washington Square Park, ou seja, da Universidade de Nova Iorque? Perto da Juilliard School e do Lincoln Center, ou seja, da Ópera? Perto do campus da Universidade de Columbia? Tudo isto é Broadway (e em Manhattan), variando os preços de cada uma destas três zonas na proporção em que variam os da Buraca com os do Restelo.

No n.º 2109 da Broadway, entre as ruas 73 e 74 West, ou seja, no edifício Ansonia, não terá sido. Os valores que a imprensa tem citado dariam para um T1 num beco esconso. Onde raio terá sido?

Dizer que alguém comprou um apartamento junto à Broadway é o mesmo que dizer que alguém comprou um apartamento junto à EN10, a estrada nacional que vai de Cacilhas a Sacavém, passando pela Serra da Arrábida e atravessando o Tejo na ponte de Vila Franca de Xira. Disparate de quem não sabe do que está a falar.

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