quinta-feira, 6 de setembro de 2018

FOI DEUS, DIZ ELE


Adélio Bispo de Oliveira, 40 anos, servente de pedreiro, missionário evangélico, esfaqueou Jair Bolsonaro durante uma acção de campanha em Juiz de Fora (Minas Gerais). O líder da extrema-direita brasileira ficou com o intestino perfurado em três sítios e o fígado afectado, estando internado no Hospital da Santa Casa, onde foi sujeito a uma melindrosa intervenção cirúrgica.

Um segundo homem, alegado cúmplice de Adélio, foi entretanto preso.

Bolsonaro, 63 anos, deputado (o mais votado no Rio de Janeiro), olho azul sibilino, militar na reserva, apoiante declarado da ditadura militar, defensor da legalização da tortura policial e da pena de morte, católico fundamentalista, activista anti-LGBT e anti-aborto, é o político brasileiro mais influente nas redes sociais e, com Lula fora da corrida, o candidato presidencial que lidera as sondagens.

Na foto do Estadão, Bolsonaro a ser retirado do local após o ataque. Clique.

PAGLIA & CUSK


Hoje na Sábado escrevo sobre Mulheres Livres Homens Livres, de Camille Paglia (n. 1947). Cada novo livro da autora é sempre um acontecimento. Mesmo que seja uma compilação de textos de natureza diversa sobre sexo, género e feminismo: ensaios académicos, conferências, recensões, capítulos de outras obras. Mulheres Livres Homens Livres é uma visão alargada sobre a sociedade contemporânea e a cultura ocidental (arte e decadência). Quem leu Personas Sexuais, a obra-prima que em 1990 projectou o nome da autora para fora da Academia, sabe do que falo. Palavras suas: «As ideias fundamentais deste livro são a liberdade de pensamento e a liberdade de expressão.» Oriunda do feminismo radical e dos círculos académicos mais exigentes, Paglia nunca evitou chocar de frente com o establishment: «Permanece um mistério a razão pela qual um psicanalista trapaceiro, cínico e verborreico como Jacques Lacan […] se tornou o ídolo de tantas feministas anglo-americanas.» Com o sarcasmo de regra, os temas abordados reportam à crise do sistema de ensino universitário americano, ao retrato que Mapplethorpe fez de Patti Smith, a sexo nas escolas, à violação, ao aborto, aos equívocos da candidatura presidencial de Hillary Clinton, à série de televisão The Real Housewives, a cirurgia plástica, à prática do masoquismo por parte das classes médias educadas, à «mistela bafienta» do pós-estruturalismo, à regressão dos grupos feministas, etc. Paglia nunca desilude. A desenvoltura da sua escrita, empenhada, envolvente, apoiada numa vasta erudição e num desprezo total pela mentalidade dominante, fazem de cada livro uma provocação. Em O espelho cruel: tipos físicos e imagens do corpo tal como os reflecte a arte, a digressão sobre arte (escultura, pintura, fotografia, design publicitário) tem como contraponto a aridez do registo dos media: «Para o bem e para o mal, o corpo tornou-se um indicador identitário fundamental…» Entre vários outros, são recuperados os artigos dedicados a Nefertiti e Madona: «Madona é a verdadeira feminista. Ela põe a nu o puritanismo e a ideologia sufocante do feminismo americano […] Madona é o futuro do feminismo.» Isto foi publicado em 1990 no New York Times. Cinco estrelas. Publicou a Quetzal.

Escrevo ainda sobre o penúltimo romance de Rachel Cusk (n. 1967), Trânsito, que corresponde ao livro do meio da trilogia Outline, a história de uma escritora divorciada, com dois filhos, decidida a reformar uma casa em ruínas. A casa existe. Os amantes de parábolas têm aqui o relato escarolado do que seja reconstruir uma vida reduzida a cacos. A prosa irrepreensível de Cusk transfigura o quotidiano mais prosaico no tipo de narrativa que prende o leitor da primeira à última página. A acção decorre em Londres, numa zona isenta de glamour. A intriga salta com naturalidade de cenas da vida doméstica para reflexões sobre cães, formação de adolescentes, idiossincrasias literárias (a escrita onde ‘nada acontece’), responsabilidade social, trabalho precário, gentrificação, imigrantes, multiculturalisno, conjugalidade entre casais do mesmo sexo: «Não era propriamente a primeira vez que presenciara a homossexualidade: era a primeira vez que tinha presenciado amor.» O fluxo da consciência nunca derrapa. Trânsito respeita a arquitectura da trilogia, mas tem vida própria. Nenhum óbice para quem não tenha lido A Contraluz, o primeiro volume da vida de Fay. Quatro estrelas. Publicou a Quetzal.

AXIMAGE


Sondagem da AXIMAGE para o Correio da Manhã e o Jornal de Negócios.

Maioria de Esquerda = 54,8%. Sozinho, o PS ultrapassa o PSD em 15,8% (e a PAF em 6,6%). O PSD cai três pontos. O CDS consegue ultrapassar o BE e passa a ser o terceiro partido com assento parlamentar.

Clique no gráfico do Negócios.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

FEAR


Aguardo com expectativa o novo livro de Bob Woodward, Fear, com lançamento previsto para o próximo dia 11. A data escolhida pela Simon & Schuster é uma metáfora macabra?

Se, por um lado, as revelações são preocupantes (disfunção total na West Wing e no gabinete de crise), por outro confirmam o que já se sabia: Trump é o boneco de uma administração sem rosto. A ver vamos.

Clique no retrato de Bob Woodward.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

GOOGLE


O Google faz hoje vinte anos. Graças a ele, a vida dos povos mudou mais que nos cem anos precedentes. Ter nascido antes ou depois do aparecimento do Google faz toda a diferença. Sou do tempo em que o Google Earth e o Google Maps eram coisa de ficção científica. E quem diz esses diz o Gmail e o sistema Android e o YouTube. As nossas vidas nunca mais foram as mesmas.

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

RIO EM CHAMAS


Ardeu por completo o Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Das mais de vinte milhões de peças do espólio, apenas escapou o meteorito Bendegó, uma pedra de 5,6 toneladas descoberta em 1784 no interior da Bahia. Por decisão do imperador Dom Pedro II, o meteorito estava no museu desde 1888.

O palácio da Quinta da Boa Vista foi residência da família real portuguesa (1808-21) e da família imperial brasileira (1822-89). O museu foi fundado em 1818, por D. João VI, mas só em 1892 foi transferido para o palácio da Quinta da Boa Vista. Era um dos mais importantes museus de história natural e antropologia da América Latina. Agora acabou. Ainda bem que o visitei em 1982.

Clique na imagem de El País.

domingo, 2 de setembro de 2018

MUDANÇA DA HORA

Segundo a Pordata, a população da UE corresponde a 512 milhões de pessoas. Daqui a seis meses, com a saída do Reino Unido, seremos 460 milhões. Não obstante, a Comissão Europeia deu por bom um inquérito em que alegadamente participaram 4,6 milhões de cidadãos dos Estados-membros.

Não sei o que aconteceu nos outros países. Em Portugal praticamente não se ouviu falar do inquérito à mudança da hora. Não vi publicidade institucional na televisão ou na imprensa (estou a falar de publicidade, não confundir com artigos de opinião), não dei por nenhum debate no Parlamento, não recebi nenhum sms sobre o assunto (como recebo para a provável ocorrência de fogos ou a vacinação contra a gripe), o Partido Ecologista Os Verdes não deu um pio, o Governo não se pronunciou, e até o Presidente da República, que emite opinião sobre tudo, fez silêncio sobre o tema. Anteontem, o Observatório Astronómico de Lisboa deu um parecer favorável à continuação da mudança da hora. Dito de outro modo, o inquérito europeu foi, entre nós, um interdito.

Por aquilo que leio nas redes sociais, a maior parte dos portugueses que “participaram” fê-lo de forma errada. Estava em pauta saber se a «mudança» da hora era para manter. Mais nada. Bruxelas quer acabar com a mudança e promoveu este circo. Mas muita gente achou que se tratava de escolher a hora preferida. Nonsense.

Vamos cumprir o que Bruxelas decidir. O circo era escusado.

VERDES ANOS


Estive ontem no primeiro dos três encontros programados para o ciclo dedicado ao bairro de Alvalade: Os Cafés e outras Constelações de Encontro da Avenida de Roma. Falou-se de quando o cinema português era novo. Foi no café-restaurante Vá-Vá, e nem fazia sentido que fosse noutro sítio, pois foi por ali que passaram as gerações que nos anos 1960 e 70 mudaram a paisagem de parte importante da vida cultural portuguesa.

Na imagem, da esquerda para a direita, Aquilino Machado, organizador dos encontros (e respectivos itinerários pedonais), Alfredo Barroso, Isabel Maria Mendes Ferreira, Isabel Ruth e Lauro Antonio. Um belo fim de tarde.

Clique na imagem.