sábado, 14 de dezembro de 2019

O PRÉMIO

Todos os anos, sempre que é atribuído o Prémio Pessoa, alguém sugere que o vencedor devia ou podia ter sido outro/a. Em 1987, quando surgiu, não havia redes sociais. Nessa altura, o jornalismo cultural (que ainda existia) dava palpites. Hoje toda a gente se sente habilitada a invectivar a escolha do júri.

Mas há um detalhe em que pouca gente terá reparado: o Prémio Pessoa não é um prémio de consagração, é um prémio que visa dar visibilidade a pessoas ou instituições que se tenham distinguido na vida científica, artística ou literária. Dito de outro modo, não é para “consagrados” como tal reconhecidos pela opinião pública. Destina-se «a pessoas que não têm uma obra terminada, de quem se espera continuidade no seu trabalho.»


Justamente por não ter “consagrados” como alvo, não se percebe — ou percebe-se demasiadamente bem — que tenha sido atribuído a José Mattoso (1987), António Ramos Rosa (1988), Maria João Pires (1989), Menez (1990), Fernando Gil (1993), Herberto Helder (1994, recusou), Vasco Graça Moura (1995), José Cardoso Pires (1997), Manuel Alegre (1999), Emmanuel Nunes (2000), Mário Cláudio (2004), Luís Miguel Cintra (2005), Eduardo Lourenço (2011) e Rui Chafes (2015). Por feliz coincidência admiro estas catorze personalidades. Mas a minha admiração não é para aqui chamada.

A tendência parece estar a mudar. Um prémio que começou por caucionar o já caucionado, fixando o crème de la crème da nomenklatura nacional, aposta hoje em valores seguros que ainda não acederam ao Panteão. O arquitecto Manuel Aires Mateus (2017), o geógrafo Miguel Bastos Araújo (2018), bem como o actor e encenador Tiago Rodrigues (2019), são três bons exemplos.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

PRAGA


Milhares de peixes-pénis [urechis unicinctus] deram à costa na praia de Drake, da Califórnia. Drake fica a cerca de 80 quilómetros de São Francisco. As alterações climáticas são endiabradas.

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PRÉMIO PESSOA


Tiago Rodrigues, 42 anos, actor, dramaturgo, encenador, gestor cultural e actual director artístico do Teatro Nacional D. Maria II, de Lisboa, é o vencedor do Prémio Pessoa 2019.

Ao longo dos últimos vinte anos, Tiago Rodrigues trabalhou com companhias de teatro nacionais e estrangeiras (uma delas sendo a STAN belga), foi argumentista das Produções Fictícias, criou a companhia Mundo Perfeito, foi professor na Universidade de Évora e na Escola Superior de Dança de Lisboa, colaborou com coreógrafos e cineastas, etc. Actualmente colabora com a Royal Shakespeare Company numa adaptação de dois romances de Saramago.

O júri do prémio é constituído por Francisco Pinto Balsemão, Rui Vilar, Ana Pinho, António Barreto, Clara Ferreira Alves, Diogo Lucena, Maria Manuel Mota, Eduardo Souto de Moura, Maria de Sousa, José Luís Porfírio, Pedro Norton, Rui Magalhães Baião, Rui Vieira Nery e Viriato Soromenho-Marques.

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CHANGE QUÊ?

Tem ideia do que seja o Change UK...? É o partido pró-UE, fundado por dissidentes do Labour e do Partido Conservador, obstinados com a realização de um segundo referendo ao Brexit.

Sem surpresa, nenhum dos seus membros conseguiu ser eleito ontem, repetindo o resultado das eleições europeias de Maio, palco por excelência do programa do partido. Em Maio como ontem, zero mandatos.

Em Maio, onze dos seus membros mais destacados passaram-se para os LibDem. Estão todos bem uns para os outros.

ISLINGTON


Corbyn foi reeleito no círculo de Islington, o coração do Labour.

Foi nesse bairro que, em 1381, o povo lutou contra os impostos de Ricardo II e, em 1791, Thomas Paine escreveu Os Direitos do Homem.

Era também ali que Trotsky e Lenine se encontravam para conspirar. Lenine vivia no bairro, no n.º 30 de Holford Square, e Estaline num pardieiro local.

A História regista que foi numa igreja de Southgate Road que se realizou o V Congresso do Partido Social Democrata da Rússia (antecessor do Partido Comunista) que deu a supremacia aos bolcheviques radicais em detrimento dos mencheviques moderados.

Ironia das ironias, Boris Johnson também ali viveu. Mas quem conhece Londres sabe que Islington é hoje uma zona trendy.

Na imagem, mural de Francis Hastings, 16.º conde de Huntingdon, numa das salas de leitura da Marx Memorial Library, biblioteca pública do bairro. Hastings, político proeminente, foi aluno de Diego Rivera e era conhecido como “o conde vermelho”.

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NOTAS SOBRE AS ELEIÇÕES BRITÂNICAS


Vá-se lá saber porquê, os media andaram mais de três anos a impingir a ideia de que os britânicos estavam arrependidos do seu voto no Brexit. Esta tolice fez escola.

A tal respeito, as eleições de ontem foram eloquentes. Os mais estrénuos defensores do segundo referendo (a líder do C-UK, a líder dos LibDem, um terço dos notáveis do Labour, um grupo de tories rebeldes) ficaram sem lugar em Westminster.

Uma delas foi Jo Swinson, líder dos LibDem. A senhora perdeu a cadeira. Por junto, os liberal-democratas, paladinos do um segundo referendo ao Brexit, perderam dez lugares. Então e os milhões de novos eleitores, jovens alegadamente pró-europeus, que iam mudar o curso da História? Foi tudo pelo cano?

Os ingleses (não confundir com britânicos) querem o Brexit e querem-no hard. Boris percebeu isso, fez tudo para chegar ao n.º 10, e foi a votos com um programa claro: sair e depressa.

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ACONTECEU


Desde 1987, ou seja, desde Thatcher, que os tories não alcançavam uma vitória tão expressiva. Até Dilyn, o cachorro cruzado com Jack Russell Terrier que habita o n.º 10, ficou perplexo.

Entretanto, Corbyn, o lunático, conseguiu a proeza de transformar o Labour numa anedota. O partido sofreu a maior derrota dos últimos 85 anos.

Clique na capa do Times.

NÚMEROS FINAIS


Resultados oficiais das eleições britânicas.
Clique na imagem do Guardian.

OFICIAL E SIMBÓLICO


O círculo de Blyth Valley, em Northumberland, bastião do Labour desde a sua criação em 1950 (maiorias trabalhistas inequívocas), foi hoje ganho pelos tories. O conservador Ian Levy já foi eleito.

lique na imagem do Guardian.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

A VIDA COMO ELA É


A sondagem à boca das urnas dá maioria absoluta aos tories. Não espanta. A única surpresa é a dimensão da vitória de Boris Johnson face ao trambolhão dos trabalhistas.

Clique na imagem da Sky News,

REINO UNIDO A VOTOS


Os britânicos começaram a votar às 8 da manhã e vão poder fazê-lo até às 10 da noite, hora em que serão divulgadas as sondagens efectuadas à boca das urnas.

Na imagem, vemos Boris Johnson a sair a assembleia de voto do Methodist Central Hall, em Londres.

Clique na imagem do Guardian.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

A BOA SURPRESA

Falando no Parlamento, António Costa tinha prometido para hoje uma prenda no sapatinho (e menos ansiedade para Catarina Martins). Chegou.

Esta manhã, o Conselho de Ministros aprovou a contratação, em 2020-21, de 8.426 profissionais de saúde: médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico e outros. Oito mil quatrocentos e vinte e seis.

Ainda este mês, a dívida dos hospitais será abatida em 550 milhões de euros.

Para modernizar e requalificar a rede hospitalar, foram desbloqueados 190 milhões de euros. Mais cem milhões para prémios de desempenho.

Por junto, o SNS disporá de mais 800 milhões de euros. Se calhar o problema não é de dinheiro, mas de gestão [in]eficaz. A ver vamos.

JOSÉ LOPES 1958-2019


Não há palavras para descrever o horror.

Na tenda que lhe servia de tecto, morreu um homem de 61 anos. Vivia sozinho, na miséria, sem acesso ao rendimento mínimo alegadamente garantido. O corpo foi descoberto ontem, por um amigo, mas o óbito terá ocorrido em data anterior.

Era um actor, o José Lopes, outrora respeitado e aplaudido, antigo colaborador de Luís Miguel Cintra no Teatro da Cornucópia e na Escola Superior de Teatro e Cinema.

Não há palavras.

O ministério da Cultura vai pagar as despesas do funeral, ou nem isso?

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terça-feira, 10 de dezembro de 2019

MFL

Manuela Ferreira Leite foi ministra das Finanças de um Governo (Barroso) penalizado por défice excessivo pela Comissão Europeia. Mas tem o topete de sugerir a demissão imediata de Centeno, responsável, diz ela, por «orçamentos de brincar» que ninguém leva a sério. Extraordinário!

A senhora devia ter algum recato, porque os portugueses recordam-se da sua “engenharia financeira”. 

Três exemplos: Utilizou (i.e., hipotecou) o fundo de pensões da Caixa Geral de Depósitos para equilibrar o Orçamento de Estado. Vendeu a rede de cobre que servia os telefones fixos e a banda larga através do ADSL. E também vendeu dívida pública a bancos privados estrangeiros.

ENTALAR TRUMP

Os Democratas formalizaram hoje a acusação contra Trump: abuso de poder sob a forma de privilegiar os seus interesses pessoais em detrimento do país, e obstrução às investigações do Congresso.

A votação na Comissão de Justiça da câmara baixa do Congresso deverá realizar-se na próxima quinta ou sexta-feira.

Mas a votação decisiva, a efectuar no Senado, onde os Republicanos têm maioria absoluta, só ocorrerá a partir de Janeiro, prevendo-se que dure semanas.

Para fazer valer o impeachment é necessário o voto favorável de dois terços dos senadores.

CORRUPÇÃO

Lembram-se da Alta Autoridade Contra a Corrupção, criada em 1983 e extinta em 1993? Foi seu alto-comissário, eleito pelo Parlamento, o coronel Manuel Costa Braz (1934-2019), primeiro Provedor de Justiça e antigo ministro da Administração Interna em governos de Soares e Maria de Lourdes Pintasilgo.

A AACC tinha como função «prevenir, averiguar e denunciar à entidade competente para acção penal ou disciplinar, actos de corrupção e de fraudes cometidas no exercício de funções administrativas

Nos termos do artigo 164.º da Constituição, funcionava junto da Assembleia da República, que podia solicitar à referida Alta Autoridade «a averiguação de indícios ou notícias de factos que justificassem fundadas suspeitas de acto de corrupção ou de fraude, de delito contra o património público, de exercício abusivo de funções públicas ou de quaisquer outros lesivos do interesse público ou da moralidade da Administração

Os seus vastos arquivos, cerca de dois milhões de documentos, actualmente digitalizados, estão depositados na Torre do Tombo desde 2001.

Agora, o Governo quer criar um grupo de trabalho para “limar” a legislação vigente. Não seria mais prático ressuscitar a AACC?

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

RÚSSIA OUT

Por decisão unânime da WADA, a Agência Mundial de Antidopagem, a Rússia está impedida de participar nas Olimpíadas de Tóquio (2020), nos Jogos de Inverno de Pequim (2022) e no Mundial de Futebol do Qatar (2022), bem como em qualquer competição desportiva internacional até 2023.

A interdição exceptua o Europeu de Futebol de 2020, que se realiza em doze cidades de doze países diferentes.

Advertida em 2013, a Rússia continuou a usar doping nos últimos seis anos. A sanção chegou hoje.

SAÚDE NO REINO UNIDO

Foi ontem divulgado mais um relatório sobre o caos do National Health Service britânico.

Então é assim: entre Novembro de 2018 e Outubro de 2019 registaram-se 4,3 milhões de incidentes de segurança. Número exacto: 4.356.227 pacientes afectados, sobretudo com medicação inadequada, infecções generalizadas, cuidados incorrectos, crianças deitadas no chão por falta de camas, etc. Nove em cada dez directores de serviço queixam-se de falta de condições. Isto acontece no reino de Sua Majestade.

As eleições estão à porta e, lá como cá, a saúde rende.

O caos britânico não nos serve de consolação. Lembrar apenas, a quem não reparou ainda, que a “disfunção” do nosso Serviço Nacional de Saúde não começou ontem. Dura há cerca de vinte anos, embora os media falam dela como se antes de Centeno fosse tudo um mar de rosas. Nunca foi. As urgências continuam a dar resposta eficiente aos grandes sinistrados, mas o resto tem dias, varia consoante a unidade hospitalar e o perfil do paciente, etc. Sempre assim foi e será. O que mudou foi a vozearia dos profissionais e o agitprop militante.