sábado, 5 de dezembro de 2015

MARÍLIA PÊRA 1943-2015


Vítima de cancro, morreu hoje Marília Pêra, actriz excelentíssima, mas também encenadora e cantora. Tinha 72 anos. Não me conformo. Filha de actores, começou a representar com cinco anos de idade. Mais número menos número, Marília entrou em cinquenta peças de teatro, quarenta novelas e trinta filmes, tendo recebido todos os prémios que havia para receber. Em 1968, durante a ditadura militar, foi presa em pleno palco, enquanto actuava na peça Roda Viva, de Chico Buarque. Mais tarde, a polícia invadiu a sua casa e prendeu-a de novo. Quem pode esquecer a prostituta Sueli, de Pixote, o filme de Hector Babenco que em 1980 fixou para sempre a estatura de Marília? Quem viu, nunca esquecerá. Passam agora dez anos sobre a representação que fez em Portugal (Lisboa, Porto e Figueira da Foz) de Mademoiselle Chanel, a peça de Maria Adelaide Amaral que Jorge Takla encenou. Deixa viúvo o quarto marido.

A foto, uma das últimas que tirou, é do Estadão. Clique.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

COFRES VAZIOS

Segundo a UTAO, Unidade Técnica de Apoio Orçamental, o Governo PAF gastou em Novembro 278,3 milhões de euros da chamada “almofada financeira” (a soma da dotação provisional e da reserva orçamental, duas verbas inscritas no OE para despesas imprevistas), que era de 945,4 milhões de euros. Entre Janeiro e Outubro gastou 351,5 milhões, e em Novembro mais 278,3 milhões. Portanto, em onze meses, o Governo PAF gastou 629,8 milhões de euros, 67% do total da “almofada financeira” que deu azo ao mito dos cofres cheios.

Para onde foi o dinheiro? Para «despesas com pessoal dos ministérios da Educação e da Justiça». Curioso é o facto de um terço da “almofada” ter sido gasto depois do chumbo do Governo na Assembleia da República.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

MIA COUTO


Hoje na Sábado escrevo sobre Mulheres de Cinza, de Mia Couto (n. 1955). Couto não é o primeiro autor a ficcionar a vida de Ngungunyane, o imperador de Gaza — a metade Sul de Moçambique — que Mouzinho de Albuquerque derrotou, prendeu e deportou em 1895. Também o fizeram Guilherme de Melo, Ungulani Ba Ka Khosa e Ana Cristina Silva. Mas Couto tem outra ambição. Mulheres de Cinza, agora publicado, é o primeiro volume de uma trilogia sobre o império dos vátuas, As Areias do Imperador, que seguirá o rasto de Ngungunyane até ao desterro e morte nos Açores. Ngungunyane e Gungunhana, nome pelo qual é conhecido em Portugal, são uma e a mesma pessoa. Uma não-presença neste primeiro volume, na medida em que surge apenas na boca de terceiros. Trata-se de contextualizar o mito, tendo Couto optado por intercalar na narrativa catorze cartas de um sargento português, de forma a balizar o pano de fundo histórico: «Todo o Sul de Moçambique era, no seu distorcido entender, uma colónia zulu, temporariamente concedida à gestão dos brancos.» A pretexto do avô de Imani, protagonista do romance, Couto traz à colação a existência dos tshipas, homens que nas minas faziam as vezes de mulher, “casando” com outros homens (não meros actos homossexuais, mas ligações duradouras). Tudo visto, Mulheres de Cinza será o preâmbulo de uma saga a haver. Três estrelas.

DILMA


Este não é um twitter qualquer. Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados do Brasil, aceitou o pedido e deu início à impugnação de Dilma Rousseff, com base na acusação de fraude nas contas públicas. Cunha, 42 anos, evangelista, membro do PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), tem sido acusado de usar o cargo para se defender de acusações de suborno. Segundo o Estadão, ao ter conhecimento da decisão de Cunha, Dilma afirmou: C’est la vie. Eu não vou ser chantageada. Para agravar a situação, o Brasil vive a pior recessão dos últimos 80 anos, tendo o PIB caído 5% nos últimos doze meses. Clique na imagem.

EM QUE FICAMOS?


Para lá do facto de pôr eventuais compradores de pré-aviso, deixando Sérgio Monteiro numa situação equívoca, isto significa o quê? O Banco de Portugal não tem autonomia face ao ministério das Finanças? O ministro pode anular o contrato a termo feito pelo BdP com o antigo secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações?

Imagem: Económico. Clique.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

COMEÇOU

Começou hoje a discussão do programa do Governo. Retive duas garantias dadas por Costa. A reversão da concessão dos transportes públicos de Lisboa e do Porto (os contratos não foram validados pelo Tribunal de Contas e o Governo aproveita para os anular). Entretanto, foi convocado o Conselho Económico e Social, salvo erro para o próximo dia 10, a fim de discutir, entre outros assuntos, o aumento do salário mínimo.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

DISCURSO DIRECTO, 29

Ferreira Fernandes, no Diário de Notícias. Sublinhados meus:

«Não sei datar (procurando, encontro: lei 20/2013, de 21 de fevereiro, mas só o escrevo para os adeptos de ninharias) o que permite filmar o interrogatório dum arguido, nem me apetece saber o que arguido significa, mas sei o que é um homem ou uma mulher. Eu não sei se havendo “registo audiovisual”, seja lá isso o que for, vai “constar dos autos”, e com isso só fico sabendo, pela linguagem de ranhosos, que vai acabar mal. Mas mesmo sabendo prossigo. Eu não sei se a divulgação de tais “registos” está proibida “nos termos do...” Marimbo-me para os termos, o artigo e o código, tão frouxos são eles. Não sei também o que são “intervenientes processuais”, mas já deu para ver que vai desembocar em “assistentes” (lá está, eu sabia!), que, isso sei, são homens, mulheres e badalhocos. Falemos deste terço de trampa. Não sei quando se decide ser badalhoco, mas sei que quem o aceita ser pode consultar o processo e, pedindo, fica com a cópia do já referido registo audiovisual. Então, o badalhoco faz passar numa televisão a imagem e as palavras dum homem que está a ser interrogado. Os gestos, a voz e os olhares, o que em tribunal um juiz de bem não autoriza ser filmado (só em casos raros, e na sentença) pode, agora, passar em prime time, por causa da trafulhice de linguagem que atrás refiro. Custo da badalhoquice: uma multa. O que não vale nada para os ladrões de alma. Ao cidadão Miguel Macedo peço desculpa pela parte que me cabe por ser português

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

NÓS ELEGEMOS DEPUTADOS

Lars Løkke Rasmussen, o primeiro-ministro da Dinamarca, é líder do partido que ficou em terceiro lugar nas últimas Legislativas. Já tinha ocupado o cargo entre 2009 e 2011. Há seis meses voltou (o processo levou dez dias), apesar de o Venstre ter obtido apenas 19% dos votos, ficando em terceiro lugar. Nada disto é novidade. O que é sintomático do estado da nossa imprensa é que seja preciso ler um jornal online, da Direita pura e dura, o Observador, para termos a noção de como esta situação é natural numa democracia avançada. O texto de João de Almeida Dias devia ser distribuído aos deputados PAF e a vários colunistas encartados. Talvez os ajudasse a dizer menos disparates. E a perceber melhor as sucessivas falências, pré-falências, reestruturações e despedimentos nos media tradicionais.

domingo, 29 de novembro de 2015

OE 2016

Já toda a gente percebeu que vai valer tudo para baralhar a opinião pública relativamente ao OE 2016. À boleia do DN, que fez manchete, a TVI, pela boca da ínclita Judite, garantia ontem que o OE 2016 apenas será entregue ao próximo Presidente da República. Nas suas palavras estava implícito que essa possibilidade decorria de uma estratégia de confronto de Costa com Cavaco.

Enfim, os prazos são o que são, mas o primeiro-ministro e o ministro das Finanças já fizeram saber que tencionam entregar o documento na Assembleia da República no mais curto espaço de tempo, sem esgotar os 90 dias da praxe.

Lembrar apenas que, se isso acontecer (o OE ser promulgado por outro Presidente), não será caso inédito. Guterres tomou posse a 28 de Outubro de 1995, com Soares em Belém, mas o OE 1996 só foi aprovado pela AR em 15 de Março de 1996, tendo sido promulgado já por Sampaio.

Não vale portanto a pena agitar fantasmas.