sexta-feira, 12 de abril de 2019

FAMILYGATE

Com tanto assunto sério para resolver, tais como contratar médicos e enfermeiros para o SNS, agilizar os pedidos de contagem de tempo e reforma da Segurança Social, pôr um travão no descalabro da Refer, aumentar a oferta de transportes públicos, abrir a ADSE a cônjuges de beneficiários, arranjar forma de moderar o sufoco fiscal, etc., o país entretém-se com o familygate.

O PS propõe interditar nomeações até ao 4.º grau, patamar que inclui os filhos dos primos. Mas o Presidente da República, que não pode legislar, vai entregar ao Governo o draft de um diploma sobre nomeações para Belém (Casa Civil, Casa Militar, gabinete do PR, centro de comunicações, segurança, serviço de apoio médico), interditando nomeações até ao 6.º grau, patamar que inclui primos segundos, primos-tios-avós, primos-sobrinhos-netos, tios-trisavós, sobrinhos-trinetos, pentavós e pentanetos.

Não sei se ria se chore.

quinta-feira, 11 de abril de 2019

ASSANGE PRESO


A Scotland Yard confirmou a prisão de Julian Assange, hoje às 10:35, na embaixada do Equador em Londres (onde se encontrava refugiado desde 2012), minutos após aquele país ter retirado a imunidade diplomática ao hacker australiano que fundou a WikiLeaks.

Assange foi preso e levado para uma esquadra de polícia, onde aguardará ser ouvido por um tribunal. As autoridades britânicas vão cumprir o mandado de extradição emitido pelos Estados Unidos.

A Suécia acusou Assange de violação de menor, mas a acusação foi entretanto retirada. Em Julho de 2015, a França recusou conceder-lhe asilo político (um filho de Assange tem nacionalidade francesa). Em Agosto de 2016, o advogado de Assange no Reino Unido, John Jones, foi assassinado. Em 2018, falhou uma alegada tentativa de ‘extração’, conduzida pelos serviços secretos russos.

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos esclarece que Assange é acusado de, em conluio com Chelsea Manning, antiga analista de intelligence do Exército americano, ter acedido ilegalmente a uma rede secreta de computadores do Pentágono, ajudando-a a decifrar uma senha criptografada.

Se for condenado, a pena máxima são cinco anos, sublinha o Departamento de Justiça dos Estados Unidos

Clique na imagem do Guardian.

AGUSTINA BIOGRAFADA


Hoje na Sábado.

Em Janeiro, na presença de Graça Fonseca, ministra da Cultura, a editora Contraponto apresentou na Biblioteca Nacional de Portugal o ambicioso projecto de uma colecção de biografias de Agustina Bessa-Luís, José Cardoso Pires, Natália Correia, Herberto Helder e outros. Os autores destas quatro são, respectivamente, Isabel Rio Novo, Bruno Vieira Amaral, Filipa Martins e João Pedro George. A presença da ministra surpreendeu muita gente e abriu um precedente. Graça Fonseca tenciona doravante caucionar a apresentação de colecções literárias?

A primeira, O Poço e a Estrada. Biografia de Agustina Bessa-Luís, de Isabel Rio Novo, chegou às livrarias em Fevereiro. Feita à revelia da família de Agustina, já comprometida com a editora Relógio d’Água e o historiador Rui Ramos, autor da aguardada biografia canónica, ressente-se da interdição a documentação privada, bem como da ausência de portfolio fotográfico. Isabel Rio Novo teve de fazer o seu trabalho a partir da leitura da obra, da bibliografia passiva, de alguma correspondência publicada, e de recortes de imprensa. A tudo isso acrescentou entrevistas com diversas personalidades, mas nenhuma delas ultrapassa anedotário conhecido e trivialidades domésticas. Talvez por isso, Carlos Maria Bobone tenha escrito no Observador que «O livro está cheio de historietas, descrições de paisagens, sentimentos, que por vezes conseguem ser interessantes, sim; no entanto, são interessantes pelo que Agustina disse ou escreveu sobre eles, não são interessantes por si próprios.» Noutro registo, Mário Santos escreveu no Público: «a leitura do livro é proveitosa e, em geral, prazenteira. Sobretudo, na parte concernente à infância, à juventude e aos primeiros anos do percurso literário da romancista

Sejamos claros: O Poço e a Estrada tem o mérito de exarar factos, datas, endereços, genealogias, equívocos, tensões familiares, a pulsão do Pai pelo jogo, o apoio do marido, a filha (a escritora Mónica Baldaque), os atritos com o crítico Jaime Brasil, as relações com Régio e Ferreira de Castro, a coquetterie inata, o enfado do milieu literário, um breve período depressivo, as adaptações de Manoel de Oliveira, a proximidade com a mulher de Francisco Sá Carneiro, as posições políticas, o ódio de estimação por Natália Correia, as amizades electivas com Sophia de Mello Breyner Andresen e Maria Helena Vieira da Silva. Aqui chegados, podemos presumir que Isabel Rio Novo apenas omite dados constantes dos arquivos pessoais de Agustina.

Escrita com grande desenvoltura narrativa, O Poço e a Estrada lê-se como um romance (o título adapta uma frase de Agustina). São aliciantes as páginas dedicadas à Póvoa de Varzim dos anos 1930. E muito oportuna a lembrança da sua nomeação como directora do Teatro Nacional D. Maria II, de Lisboa, ao tempo em que Santana Lopes era secretário de Estado da Cultura. Foi ali na sala de Garrett que, para escândalo da intelligentsia, Agustina promoveu (em 1991) a exibição da revista Passa por mim no Rossio, de Filipe La Féria.

O livro de Isabel Rio Novo também não esquece a fortuna crítica, as viagens, os prémios, o apoio à despenalização da interrupção voluntária da gravidez e, por fim, o acidente vascular cerebral que obrigou à retirada da vida pública no início de 2007, pouco depois de, no fim de 2006, Agustina ter publicado A Ronda da Noite. Certas zonas de sombra são iluminadas por petite histoire avulsa. Efabulação? A biógrafa conclui: «O enigma de Agustina e da noite em que está encerrada já não pode ser auscultado.» 

O volume inclui índice onomástico e 80 páginas de notas remissivas. A grande falha é a ausência de uma bibliografia de Agustina. Os livros são citados (e muitos analisados), mas uma coisa não dispensa a outra. Porém, isso pode e deve resolver-se em próxima edição.

Publicou a Contraponto.

quarta-feira, 10 de abril de 2019

SEIS MESES


Depois de quase sete horas de discussão, com jantar pelo meio, os 27 aceitaram prorrogar o Brexit até 31 de Outubro.

Mas Macron exigiu, e fez valer o seu ponto de vista, que em Junho seja feito o ponto da situação do comportamento do Reino Unido. Leia-se, do comportamento dos Comuns. Ou seja: se, antes de Outubro, de preferência antes de 30 de Junho, Westminster aprovar o Acordo negociado com a UE, o Brexit deve ser antecipado.

A intransigência de Macron fez gorar os planos de Tusk, que tentou, sem sucesso, sensibilizar os 27 para um ano de prorrogação. 

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GLEN HAGUE NO FAROL


Estava no Porto quando a exposição abriu, mas fui hoje a Cascais ver a nova exposição de Glen Hague, pintor inglês meu amigo, radicado em Portugal desde 1980, cuja obra acompanho há muito.

Os dezassete quadros de On the water estão espalhados pelo lobby, salas e bar do Hotel do Farol, na Avenida Rei Humberto II de Itália, em Cascais.

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O DIA D


Quando forem cinco da tarde em Bruxelas, começa a cimeira extraordinária para decidir a nova data do Brexit. Para já, a data em cima da mesa é a próxima sexta-feira, dia 12. Mas Theresa May quer que seja 30 de Junho (e ontem obteve uma vitória no Comuns, que fixaram a data em forma de lei). Junker sugeriu 31 de Dezembro. Mas Tusk, farto das birras de Westminster, prefere 31 de Março de 2020. Não vale a pena especular sobre o que vai acontecer.

Na imagem, May e Macron ontem em Paris. Clique.

terça-feira, 9 de abril de 2019

TERESA ROZA d’OLIVEIRA 1945-2019


Vítima de problemas cardíacos, morreu ontem a Teresa Roza d’Oliveira (1945-2019), artista plástica com lugar cativo nas minhas memórias. Tinha 74 anos.

Fomos amigos desde 1961, estivemos juntos em Lisboa na semana que antecedeu o 25 de Abril, foi ela a autora da capa do meu primeiro livro (1974), e escrevo estas linhas defronte de um dos seus quadros. Natural da Ilha de Moçambique, cedo acompanhou a família para Lourenço Marques. Foi casada com o poeta Lourenço de Carvalho, pai dos seus dois filhos, de quem se separou no fim dos anos 1970.

Teresa Roza d’Oliveira, que fez parte do grupo de artistas revelado pelo Núcleo de Arte de Lourenço Marques, tem obra espalhada por museus de Maputo, Joanesburgo, Pretória e Durban, bem como pelas colecções de arte da Universidade Eduardo Mondlane (Maputo), BNU, Banco Central de Moçambique, Instituto de Crédito de Moçambique, Linhas Aéreas de Moçambique, Petróleos de Moçambique, Banco Pinto & Sotto Mayor, Banco de Fomento Exterior, Portugal Telecom, Petróleos de Angola, Organização Nacional dos Jornalistas (Maputo), Cimpor, outras empresas e coleccionadores particulares. O espólio de arte de Natália Correia inclui obras suas. Entre outros, trabalhou com os pintores João Ayres, Bertina Lopes, José Júlio e Malangatana.

Radicada em Portugal a partir de 1977, depois de uma estadia fugaz na África do Sul, manteve presença discreta no milieu artístico nacional, em exposições individuais e colectivas, na Galeria Moira (Lisboa), na Bienal de Pintura de Óbidos, na Biblioteca-Museu República e Resistência, na Galeria Paula Cabral (Lisboa), na Galeria de Arte Lóios (Porto), na Galeria Arade (Portimão), na Fundação Sousa Pedro (Lisboa), na Cooperativa Árvore (Porto), na Casa da Imprensa, na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, etc. Nos anos 1990 voltou a Moçambique, onde permaneceu cerca de um ano. Vivia há largos anos na aldeia do Meco, na companhia de Maria Emília Moraes, sua companheira.

Na imagem, eu e a Teresa, fotografados por Kok Nam, na noite de 2 de Março de 1974, em Lourenço Marques. Clique.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

OMERTÀ, IGNORÂNCIA OU ESTUPIDEZ?


Sabem o que penso das frioleiras do familygate, mas recordo a reportagem suculenta para que remete esta capa de 7 de Fevereiro de 1992 do jornal de Paulo Portas.

Resumindo muito: onze mulheres de ministros e secretários de Estado no governo de Cavaco. Umas como chefes de gabinete, outras como adjuntas, outras como assessoras, e por aí fora.

Entre muitas, as mulheres de Marques Mendes, Fernando Nogueira, Dias Loureiro, Arlindo Cunha, Paulo Teixeira Pinto, Luís Filipe Menezes e Álvaro Amaro.

Mas também irmãos ministros, casos de Leonor e Miguel Beleza (o ministro das Finanças entrou no dia em que a irmã saiu). E pais de ministros em cargos de topo do Estado, mas vamos dar de barato que os papás já estavam nesses lugares.

E com tanta ficha arquivada, tanto notebook, tanto livro de memórias publicado, Cavaco esqueceu-se disto?

Os jornalistas que agora têm 45 anos, tinham 18 à data dos factos. Mas não investigam? Vão atrás do bruaá das redes sociais? Ou têm o rabo preso à omertà...?

Clique na imagem.