Morreu hoje Maria Isabel Barreno, escritora e feminista de origem caboverdiana, co-autora, com Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, de Novas Cartas Portuguesas (1972) e, por consequência, do affaire Três Marias, que teve ampla repercussão na imprensa internacional, em particular na francesa e britânica. Na ocasião, foi convidada a proferir conferências em universidades europeias e norte-americanas. Contudo, nem toda a obra ficcional tem esse recorte militante. Sirvam de exemplo, entre outros, romances como De Noite as Árvores são Negras (1968), Os Outros Legítimos Superiores (1970), Célia e Celina (1985), A Morte da Mãe (1989), Os Sensos Incomuns (1993), O Senhor das Ilhas (1994), As Vésperas Esquecidas (1999) ou Vozes do Vento (2009). Durante muitos anos, Maria Isabel Barreno foi responsável pelo ensino do português em França, país onde também exerceu funções de conselheira cultural na embaixada de Portugal. Publicou ainda ensaios de índole sociológica sobre a condição dos trabalhadores e, em especial, da mulher. Tinha 77 anos. Clique na imagem.
sábado, 3 de setembro de 2016
DISCURSO DIRECTO, 43
Luís Filipe Castro Mendes, ministro da Cultura, hoje. Excerto:
«Estou um pouco perplexo. Não entendo que o senhor director do Museu Nacional de Arte Antiga, sem me dar qualquer conhecimento, e tendo reunido comigo na semana passada, venha dar alarme na comunicação social, e alarme público, porque não se pode dizer que uma casa não está segura, é quase um convite ao assalto.»
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17:00
AINDA O MNAA
Perguntar não ofende. Quando, em Março de 2010, assumiu o cargo de director do Museu Nacional de Arte Antiga e, por inerência, o de subdirector-geral do Património, António Filipe Pimentel estava ciente da escassez de recursos humanos do museu? Eram em número igual ao que são hoje? Mais? Menos? Em 2010 já eram 64 os funcionários do quadro (conservadores, técnicos superiores, investigadores, bibliotecários, pessoal administrativo, staff de comunicação, vigilantes), ou esse número mudou durante o Governo PSD-CDS? Se o museu está à beira de uma «calamidade», seja ela de que tipo for, por que não se demitiu? Não foi ele quem disse, em 2010, quando trocou o Museu Grão Vasco pelo MNAA, que não era «o homem da Regisconta»? Que sentido faz continuar no cargo tendo consciência da sua inutilidade? Seis anos é muito tempo. A importância do MNAA não justifica concurso público internacional para o cargo de director?
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09:50
sexta-feira, 2 de setembro de 2016
CALAMIDADE, DIZ ELE
António Filipe Pimentel, director do Museu Nacional de Arte Antiga, afirmou hoje de manhã:
«Um destes dias há uma calamidade no museu. São 64 pessoas para 82 salas abertas ao público. De certeza absoluta que um destes dias há uma calamidade no museu. Só pode, porque andamos a brincar ao património. O país tem um grave problema a resolver [no MNAA] porque aquilo vai partir e vai partir em muito pouco tempo. Quando acontecer, abre os telejornais.»
Provavelmente o director do MNAA sabe do que fala. Mas faz-me espécie que tenha feito estas afirmações, não numa conferência de imprensa, mas na Escola de Quadros do CDS (se fosse de outro partido qualquer também me encanitava), no âmbito de um debate sobre Cultura e Economia.
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19:00
CAMILIANA
O Círculo de Leitores lança este mês uma colecção dedicada a Camilo Castelo Branco, dividida em quatro volumes de capa dura: o 1.º e o 2.º coligem todos os contos, as novelas curtas e os romances breves, nos quais se inclui o romance inacabado, e inédito, A Infanta Capelista; no 3.º encontramos uma parte da correspondência [Cartas Escolhidas] e, no 4.º, uma selecção de crónicas, textos polémicos e outros artigos. A recolha, prefácio e notas são de José Viale Moutinho. Clique na imagem.
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15:00
LIVROS EM BELÉM
No próximo domingo, dia 4, estarei na Festa do Livro que abriu ontem nos jardins do Palácio de Belém. Repito o que escrevi dezenas de vezes: não gosto de feiras. Só o respeito pelos leitores e as obrigações contratuais e de amizade com os meus editores fazem com que esteja presente neste tipo de eventos.
Tendo livros publicados por várias chancelas, deixo aqui detalhes das capas dos cinco mais recentes: Cidade Proibida, romance, 2007 (a edição disponível é a de 2013, ou seja, a quarta); Desobediência, poesia, 2011 (colige os anteriores livros de poesia); Cadernos Italianos, diário de viagem, 2013; Um Rapaz a Arder, memórias, 2013; e Pompas Fúnebres, crónicas, 2014. Conforme o gosto de cada um, estas obras podem encontrar-se, respectivamente, nos stands da Planeta, Dom Quixote, Tinta da China, Quetzal e Babel. Clique na imagem.
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10:00
quinta-feira, 1 de setembro de 2016
MEGAN BRADBURY
Hoje na Sábado escrevo o primeiro “romance” de Megan Bradbury, centrado em Nova Iorque. Por que será que nove em cada dez livros são actualmente classificados como romances? Onde Todos Observam, o referido livro de estreia, é uma interessante narrativa de não-ficção construída a partir de fragmentos biográficos de habitantes ilustres da cidade, tais como Walt Whitman, Robert Moses, Edmund White, John McKendry, Robert Mapplethorpe, Patti Smith e outros. Um apêndice final remete para a bibliografia, filmografia e discografia atinente. Diz a autora: «Acredito que tem de existir uma forma de escrever ficção sobre o real…» Curiosa afirmação por parte de uma especialista em escrita criativa. Portanto, Balzac, Zola e Faulkner nunca existiram. Onde Todos Observam cruza de forma hábil as vidas de gente que faz parte da memorabilia de Nova Iorque. A infância e adolescência de Mapplethorpe em Queens e Brooklyn, o encontro com Patti Smith, a conquista de Manhattan com o patrocínio de John McKendry, o curador de fotografia do MET. O regresso de Edmund White após oito anos em Paris. O sonho de Robert Moses, o homem que deu uma praia aos novaiorquinos. (No século XX, Moses foi o mais influente urbanista americano. Entre outras obras que mudaram a vida da cidade, está Battery Park.) As memórias de Whitman filtradas por Richard Maurice Bucke, o psiquiatra canadense que escreveu a sua primeira biografia. Referências aos nus masculinos de Thomas Eakins, bem como a fotografias de Jacob Riis, Berenice Abbott e Lewis Hine, mas também obras de Nan Goldin, Laurie Anderson e Gordon Matta-Clark, pontuam a narrativa. Nem sequer falta o Chelsea Hotel. De certo modo, Onde Todos Observam é uma espécie de guia artístico de Nova Iorque. Mas um leitor menos versado perde-se na vertigem do name-dropping. A trama de Megan Bradbury não ignora a Nova Iorque falida e permissiva dos anos 1970, quando nos decrépitos pontões do Hudson a comunidade gay dava livre curso a todas as pulsões. De passagem, são referidas as razões que levaram Edmund White a escrever Hotel de Dream (2007), o livro atribuído a Stephen Crane, jamais encontrado: «Na ausência deste, Edmund escreveu-o ele mesmo.» Em suma, um livro que se lê com agrado. Três estrelas. Publicou a Elsinore.
Escrevo ainda sobre À Beira da Água, o primeiro volume dos contos reunidos do americano Paul Bowles (1910-1999). Ficcionista, poeta, memorialista, tradutor dos contos orais do pintor Mohamed Mrabet, mas também de Sartre e Genet, Bowles fixou a lenda do expatriado em Marrocos desde que em 1947 trocou Nova Iorque por Tânger, onde viveu até morrer e foi anfitrião da geração beat. A integral dos contos começou agora a ser publicada em Portugal. Este volume colige 29 contos escritos entre 1946 e 1964. Embora grande parte deles tenham sido escritos em Marrocos, a acção decorre em Manhattan, sendo as personagens new yorkers típicos dos anos 1940-50. Neste volume, são os mais consistentes. Veremos se os do próximo alteram o juízo. Facto: Bowles é melhor contista que romancista. Na sua obra, os textos curtos têm uma eficácia superior aos que exigem discurso de longo fôlego. A excepção são os livros de viagens e de memórias, do melhor que nos deixou. É provável que o seu trabalho de compositor (música erudita e scores para a Broadway) esteja na raiz de tudo. Nos contos parece-me evidente. Quatro estrelas. Publicou a Quetzal.
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11:55
FESTA DO LIVRO
Um realejo com Florbela Espanca abre hoje (18:00), nos jardins do Palácio de Belém, a Festa do Livro. Estão representadas 33 editoras e os seus autores de língua portuguesa. Além de quiosques de venda de livros, haverá um kindergarten e sete pontos de restauração. Pedro Mexia, assessor cultural do Presidente da República, organizou debates sobre vários temas em que participarão, entre outros, Bernardo Pires de Lima, Bruno Vieira Amaral, Djaimilia Pereira da Silva, Eduardo Lourenço, Frederico Lourenço e Maria de Fátima Bonifácio. Também haverá jogos didácticos (seja lá o que isso for), sessões de leitura de poesia, charlas com contadores de histórias, uma palestra sobre Pessoa, intervenções do Quarteto de Cordas da GNR, um espectáculo de fado com Cristina Branco (amanhã), bem como, no sábado, a estreia de «Visita ou Memórias e Confissões», o filme póstumo de Manoel de Oliveira, que volta a ser exibido no domingo. Pela parte que me toca, estarei presente no domingo a partir das 17h. A entrada é livre, mas quem quiser ir terá de levar consigo o cartão de cidadão ou o bilhete de identidade.
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09:00
quarta-feira, 31 de agosto de 2016
RESISTIR
A Europa tornou-se um sítio perigoso. Mas há quem comece a resistir. É o caso da cantora húngara Fullajtár Andrea, que estreou em Budapeste o espectáculo Boomerang Baby, inspirado em canções e na vida de Marlene Dietrich. Fullajtár Andrea tem consciência de que o seu país caminha a passos largos para o fascismo. E não ficou parada.
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15:00
MARC RIBOUD 1923-2016
Morreu ontem o fotógrafo francês Marc Riboud, referência incontornável da fotografia do século XX, em especial pelas reportagens da Revolução Cultural Chinesa e da Guerra do Vietname, registadas na imprensa de todo o mundo mas também em livros como Les Trois Bannières de la Chine (1966) e Face of North Vietnam (1970). Mas não só. A Cuba de Fidel, o caso Watergate, a Primavera de Praga, a invasão da embaixada dos Estados Unidos em Teerão, o contributo do sindicato Solidariedade para a queda do regime comunista na Polónia, o julgamento do nazi Klaus Barbie, o apartheid sul-africano, etc., foram alguns dos temas que o ocuparam. Membro da resistência francesa durante a Segunda Grande Guerra, Riboud tinha 93 anos. A notícia da sua morte só hoje foi tornada pública.
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Eduardo Pitta
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11:30
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