segunda-feira, 4 de abril de 2022

O MASSACRE DE BUCHA


Face a dezenas de vídeos e fotografias divulgadas por sites de jornais e televisões de todo o mundo, passei as últimas 24 horas em estupor.

O levantamento do cerco russo a Kiev deixa ver o rasto de devastação que assola as áreas periféricas da capital ucraniana, em especial as cidades de Irpin e Bucha.

Corpos mutilados, cadáveres de mulheres estupradas, crianças com a cabeça esmagada, cães e gatos esventrados, corpos amontoados em valas comuns, homens enforcados, carros incendiados, prédios destruídos, viadutos colapsados, bunkers inutilizados, tanques russos carbonizados, centenas de minas terrestres espalhadas por vias de comunicação, etc. Não há palavras para descrever o horror. Também não há água, nem electricidade, nem mantimentos.

Quando julgávamos impossível a repetição de Srebrenica e dos snipers de Sarajevo, eis que Bucha nos lembra que tudo pode regredir com a rapidez de um fósforo.

Que perante tudo isto haja gente capaz de falar em “encenação”, só acrescenta uma intolerável quota de nojo à realidade. Afinal, se houve (e continua a haver) quem negasse o Holocausto, por que não haveria agora igual número de energúmenos?

Intencionalmente, a imagem é a mais benigna que encontrei. Clique.

domingo, 3 de abril de 2022

ANTÓNIO OSÓRIO


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi [Dois filhos Adolescentes] de António Osório (1933-2021), poeta maior do século XX português.

Filho de pai português e mãe italiana, António Osório nasceu em Setúbal. Embora colaborasse em revistas literárias desde 1954, quando fundou a revista Anteu, publicou o primeiro livro, A Raiz Afectuosa (1972), à beira de completar 40 anos. A partir de 1978 — ano de publicação de A Ignorância da Morte —, tornou-se um dos poetas centrais do chamado regresso ao real.

Várias vezes premiado, com obra traduzida e publicada em Espanha, França, Bélgica, Itália, Alemanha, Roménia, Croácia, Estados Unidos e Brasil, Osório foi elogiado e estudado por críticos de todas as gerações, de João Gaspar Simões a António Carlos Cortez.

Além de poesia publicou o livro de ensaios A Mitologia Fadista (1974). Muitos dos seus livros de poesia têm ilustrações de Mário Botas, Júlio Pomar, Graça Morais, Júlio Resende, Manuel Cargaleiro, Pedro Cabrita Reis e outros.

Advogado de profissão, foi Bastonário da respectiva Ordem entre 1984 e 1986. Membro da Academia das Ciências de Lisboa, presidente da Associação Portuguesa para o Direito do Ambiente (1994-96), administrador da Comissão Portuguesa da Fundação Europeia da Cultura, representante de Portugal na Convenção da Haia (1980), presidente da delegação portuguesa no Tribunal Europeu de Arbitragem (Estrasburgo), fundador da revista Direito do Ambiente e do Ordenamento do Território, membro do Instituto de Direito Comparado Luso-Brasileiro, director da Biblioteca da Ordem dos Advogados (1995-2002), director da revista Foro das Letras, etc., exerceu diversos outros cargos de interesse público.

Passou os seus últimos anos na casa de família em Azeitão.

O poema desta semana é um dos quinze que compõem a sequência Gratidão que nem sabe a quem deve ser grata, do livro O Lugar do Amor (1981). A imagem foi obtida a partir da edição que a Gótica fez em 2001. A obra poética completa do autor encontra-se reunida em A Luz Fraterna, volume publicado em 2009 pela Assírio & Alvim.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa, Eugénio de Andrade, José Carlos Ary dos Santos, António Manuel Couto Viana, Ruy Cinatti, Al Berto, Alexandre O’Neill, Vitorino Nemésio, David Mourão-Ferreira, Miguel Torga, Ângelo de Lima, Pedro Tamen, António Ramos Rosa, José Régio, Antero de Quental, Pedro Homem de Mello, Teixeira de Pascoaes e Afonso Duarte.]

Clique na imagem.