sábado, 30 de janeiro de 2021

A GOLPADA


A ideia não é nova. Em Março do ano passado, com o país em transe, Rui Rio disse na televisão que [cito de cor] lá mais para a frente vai colocar-se a necessidade de um Governo de Salvação Nacional, que até pode ser o que temos hoje, mas terá que ter dimensão de emergência...

Ontem, no Expresso, Miguel Sousa Tavares glosa o tema em tom heróico. Chegou a hora, diz ele, do Presidente da República substituir o Governo de António Costa por um de iniciativa presidencial, «sem dissolver o Parlamento, sem necessariamente despedir todo o elenco do actual Governo...», apenas metade dos ministros, aqueles que «não fazem nada ou só atrapalham...» Um tal governo seria para governar «enquanto durar esta situação de catástrofe pública.» 

Vindo da boca de quem quem — além de jornalista, MST é advogado —, o dislate tem de ser associado a liberdade poética.

Toda a gente sabe, ou devia saber, que a possibilidade de existirem governos de iniciativa presidencial acabou em 1982, com a primeira revisão constitucional.

Hoje é a vez de Santana Lopes, o primeiro-ministro que em 2004 caracterizou assim o seu Governo: «Este é um Governo a quem ninguém deu quase o direito de existir antes dele nascer, e que, depois de nascer através de um parto difícil teve que ir para uma incubadora e vinham alguns irmãos mais velhos e davam-lhe uns estalos e uns pontapés

Este cavalheiro, que também é advogado, e tem um currículo estonteante (membro de um governo de iniciativa presidencial, assessor jurídico de Francisco Sá Carneiro, deputado, professor de direito constitucional e ciência política, líder parlamentar do PSD, secretário de Estado da Cultura de Cavaco, presidente do Sporting, marido de Cinha Jardim, fundador do jornal O Liberal e accionista de vários media, presidente das Câmaras da Figueira da Foz e de Lisboa, líder do PSD, primeiro-ministro do XVI Governo Constitucional, Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, comentador político, líder da Aliança, etc.) deu uma entrevista ao Diário de Notícias, publicada hoje, na qual glosa o tema do Governo de Emergência Nacional, sem exclusão do BE e do CHEGA.

Santana também quer as autárquicas adiadas seis meses.

Miguel Sousa Tavares e Santana Lopes não estão sozinhos. Há mais gente a bater na mesma tecla. É natural, porque o ridículo não tem limites.

Imagem: detalhe da capa do Diário de Notícias. Clique.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

AGITPROP COVÍDICO

O terrorismo noticioso afasta cada vez mais pessoas dos telejornais, transformados em almanaques de terror.

Não serve para nada estar 75 minutos (em cada 90) a misturar mentiras com meias-verdades, a manipular factos, a fazer insinuações torpes, a dar palco aos apparatchiks da Oposição e das corporações profissionais directamente envolvidas na gestão da pandemia, em suma, a provocar alarme social.

Não é por fazerem agitprop que diminui o número de infectados, internamentos hospitalares e mortos.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

EMERGÊNCIA RENOVADA

Foi aprovada esta tarde a renovação do Estado de Emergência. Vigorará até às 23:59h do próximo 14 de Fevereiro.

Votaram a favor o PS, o PSD, o CDS e o PAN. Contra: PCP, PEV, IL, CHEGA e JKM. O BE absteve-se.

As fronteiras com Espanha fecham a partir do próximo dia 31. Para outros países, as viagens aéreas apenas serão possíveis por motivos essenciais.

VACINAS


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quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

LARS NORÉN 1944-2021


Vítima de Covid-19 morreu ontem Lars Norén, dramaturgo, ficcionista e poeta sueco, considerado o sucessor de Strindberg. Tinha 76 anos.

Como encenador, além do Dramaten, ou Kungliga Dramatiska Teatern de Estocolmo, Norén trabalhou em Paris e Copenhaga.

Em 1999, a sua peça 7:3 foi interpretada no Riksteatern por presidiários neo-nazis. Três fugiram, assaltaram a agência de Kisa do Banco Östgöta Enskilda e assassinaram barbaramente dois polícias. O caso é conhecido como ‘os assassinatos de Malexander’.

Estreado como poeta, foi no teatro que se notabilizou, sendo considerado o mais importante dramaturgo contemporâneo da Suécia.

Figura polémica, publicou em 2008 o primeiro volume do seu diário, En dramatikers dagbok, um cartapácio de mil e setecentas páginas. Os volumes seguintes foram publicados em 2013 e 2016. A sua extensa bibliografia inclui textos para rádio e televisão.

Dizem os especialistas que Norén constitui, com Ibsen, Strindberg e Bergman, o quarteto mais brilhante da cultura nórdica.

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terça-feira, 26 de janeiro de 2021

PAÍSES BAIXOS EM TRANSE

Pela terceira noite consecutiva, manifestantes holandeses protestaram de forma violenta contra o confinamento. 

Os motins ocorreram em nove cidades: Amesterdão, Roterdão, Den Bosch, Zwolle, Gouda, Amersfoort, Haarlem, Hoorn e Alkmaar. Aparentemente só Haia escapou.

Desde sábado, a polícia prendeu cerca de 500 manifestantes (ontem foram 180), tendo multado mais de seis mil pessoas que não acataram o recolher obrigatório imposto para as 21h.

Foi apedrejado um hospital, incendiados centros de teste Covid-19, destruídos carros e vandalizados restaurantes e lojas.

AXIMAGE LEGISLATIVAS


Sondagem da Aximage para a TSF, Diário de Notícias e JN, divulgada hoje.

PS 39,9% / PSD 26,6% / CHEGA 7,5% / BE 7,2% / CDU 5% / PAN 3,5% / IL 3,5% / CDS 0,8%.

Imagem: infografia do JN. Clique.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

A NOITE DE TODOS OS EQUÍVOCOS


OS PERSONAGENS

— Sem surpresa, Marcelo foi reeleito por 2,5 milhões de eleitores (60,7% dos votos expressos), conseguindo ultrapassar o patamar das reeleições de Cavaco e Sampaio.

— Graças ao voto útil, Ana Gomes conseguiu o segundo lugar à tangente. Valeram-lhe as freguesias burguesas de Lisboa e do Porto. Por exemplo, aqui em Alvalade, freguesia com mais de 32 mil habitantes, Ana Gomes obteve 19,2%. Mas Alvalade, onde Tiago Mayan Gonçalves obteve 8%, não representa o Portugal profundo. 

— Sem o voto útil (nunca inferior a 5%) do eleitorado que percebeu o risco da fragmentação à Esquerda, Marcelo teria sido reeleito com 65% e Ventura teria ficado em segundo lugar.

—  Com a Direita refém da extrema-direita, foi penoso ouvir Rui Rio e FRS (aka Chicão) apropriarem-se da vitória de Marcelo.

— O resultado de Ventura, segundo classificado em doze distritos, incluindo os três do Alentejo, só espanta quem não conhece a história do Partido de Le Pen, que cresceu à custa de quatro quintos do antigo eleitorado PCF. Quem quiser conferir tem muito por onde escolher (a bibliografia é extensa). É um problema para o PSD, que terá de apoiar-se na bengala do radicalismo.

— Apesar do discurso sensato e moderado, João Ferreira não chegou aos duzentos mil votos. E perdeu nas praças-fortes do PCP.

— Marisa Matias acrescentou o fait divers do batom à tradicional futilidade do BE. Não resultou. Portugal não é o Lux. E, desta vez, os que votam no BE com o único intuito de “travar” o PS (conheço muitos) não tinham esse acicate.

— Falando para um Portugal que não existe, Tiago Mayan Gonçalves ainda assim conseguiu mais de 130 mil votos.

— Quem acompanhou os debates, sabe que os votos de Vitorino Silva podem ser acrescentados aos de Ventura. A forma do discurso era outra, mas as ideias são as mesmas.

Clique na imagem do Público.

domingo, 24 de janeiro de 2021

PRESIDENCIAIS 2021


Com 99,75% do escrutínio fechado, Marcelo venceu as eleições por 60,81% dos votos expressos.

Seguem-se Ana Gomes 12,92% / André Ventura 11,90% / João Ferreira 4,27% / Marisa Matias 3,94% / Tiago Mayan Gonçalves 3,20% / Vitorino Silva 2,97%.

A abstenção foi de 60,28%.

Imagem: Secretaria-Geral do MAI. Clique.