quinta-feira, 10 de setembro de 2020

PAUSA NO SUL


As tardes emolientes do Sul.
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terça-feira, 8 de setembro de 2020

VICENTE JORGE SILVA 1945-2020


Morreu hoje Vicente Jorge Silva, fundador do Público (1990) e seu director até 25 de Setembro de 1996. Ficou célebre o editorial Geração rasca?, publicado em Maio de 1994, no auge das manifestações dos alunos do ensino secundário que se realizaram em Lisboa como consequência da introdução de provas globais no 10.º ano de escolaridade, uma decisão de Manuela Ferreira Leite, então ministra da Educação.

Além do Público, Vicente Jorge Silva deixou a sua marca noutros títulos, em particular no Comércio do Funchal (1966-74) e no Expresso (1974-90), cuja revista criou. Mas foi igualmente colunista no Diário de Notícias e no Económico, comentador da SICN, etc. Além de jornalista, realizou seis filmes.

Em paralelo foi deputado do PS eleito pelo círculo de Lisboa.

Faria 75 anos em Novembro próximo.

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segunda-feira, 7 de setembro de 2020

7 DE SETEMBRO DE 1974


Passam hoje 46 anos sobre uma das datas mais trágicas vividas em Lourenço Marques, actual Maputo. Ainda lá vivia e tenho presentes esses dias de caos universal. Respigo do meu livro de memórias Um Rapaz a Arder, publicado em 2013 na Quetzal:

«[...] Do ponto de vista das expectativas individuais, o 25 de Abril dividiu a população branca em dois grandes grupos: os que queriam a independência branca, como na Rodésia de Ian Smith; e os que queriam a independência sob tutela da Frelimo. Entalado entre os dois, sem expressão numérica relevante, o núcleo dos que acreditavam numa solução de compromisso, com exclusão das teses federalistas. Era o meu caso. A ilusão durou pouco.

A tentativa de secessão branca de 7 de Setembro de 1974 foi um episódio tenebroso com ramificações nunca devidamente esclarecidas. Nesse sábado, foi assinado em Lusaca o acordo que definia os termos e condições da independência de Moçambique, tendo Mário Soares e Samora Machel como principais signatários. Assim que o facto foi divulgado, um grupo de antigos colonos reunidos no denominado Movimento de Moçambique Livre ocupou as instalações do Rádio Clube e fechou o aeroporto da cidade. Eram seis da tarde. Fiz alguns telefonemas e percebi que a situação era muito grave. Horas antes, um grupo de insurrectos tinha invadido a penitenciária e libertado os pides.

A situação ficou fora de controlo. Jornais pró-independência, como o Notícias e A Tribuna, foram tomados de assalto, o mesmo acontecendo às instalações da Associação Académica. O Diário foi o único jornal que saiu no domingo. Entre alusões patrióticas e recados aos vendilhões de feira (o alvo era Soares), apoiava a secessão. Os Democratas de Moçambique, cujo bureau fora destruído, deixaram as suas casas no Sommerschield e na Polana e foram refugiar-se no Caniço. Rui Knopfli foi para casa de José Craveirinha. Os transportes públicos deixaram de circular, grande parte dos restaurantes encerrou e, durante quatro dias, os cinemas não funcionaram.

O Movimento de Moçambique Livre confiava no apoio do Presidente da República, mas Spínola não abriu a boca. E contava também com Jorge Jardim, mas o ideólogo do federalismo desapareceu de cena. Apesar do apoio da BOSS, a polícia política sul-africana, o golpe não teve repercussão noutras cidades de Moçambique, nem sequer na Beira, feudo de Jorge Jardim. Mesmo assim, o MML galvanizou os sectores mais reaccionários de Lourenço Marques.

A cidade mergulhou num caos sem precedentes. Enquanto a tranquibérnia durou, não me atrevi a ir mais longe que o Parque José Cabral, a cem metros de minha casa. O Jorge estava retido em Boane, na escola de oficiais milicianos. Os rostos visíveis do MML eram Manuel Gomes dos Santos, o locutor Manuel; Victor Hugo Vellez Grilo, dirigente do PCP até às purgas de 1940 (vivia em Lourenço Marques desde 1942); Gonçalo Mesquitela, líder da direita, vogal do Conselho Ultramarino e deputado à Assembleia Nacional; Arlindo Malosso, Vasco Cardiga, Vasco Ferreira Pinto, Pires Moreira e o comandante de milícias Daniel Roxo.

Uma companhia de comandos oriunda do Niassa reabriu o aeroporto e desocupou o Rádio Clube na tarde do dia 10. Soube-se que a opera buffa tinha acabado quando as arengas de Gomes dos Santos e Vellez Grilo foram substituídas pelo grito «Galo, galo, galo. Amanheceu. Galo, amanheceu». Para uns, a senha da Frelimo visava apaziguar o Caniço. Para outros, foi o tiro de partida da desforra que se manifestou de forma assaz violenta nas vilas da Machava e da Matola. Parte significativa da população branca via esboroar-se o sonho de uma secessão de perfil rodesiano. O êxodo foi imediato. Entre os dias 10 e 12, as autoridades da África do Sul e da Suazilândia facilitaram a passagem de mais de cinquenta mil brancos, a maioria sem passaporte. Muitos regressaram ao fim de semanas. [...]»

Eduardo Pitta, Um Rapaz a Arder, Lisboa: Quetzal, 2013.

domingo, 6 de setembro de 2020

CIDADANIA

Tenho o mail e o messenger entupidos com o Manifesto em Defesa da Educação para a Cidadania e respectiva petição. Não assinei nem tenciono fazê-lo. Por princípio, não assino petições (não confundir com abaixo-assinados), sejam propostas por quem forem. Nesta, a natureza abstrusa da prosa segue o protocolo de regra. O que me surpreende é o seu objecto.

Porquê? Porque não vi, até ao momento, nenhum órgão de soberania pôr em causa a legitimidade da Educação para a Cidadania. Nem tenho conhecimento de nenhum projecto legislativo contra a disciplina. E também desconheço a existência de decisão judicial sobre a matéria.

Se fizéssemos petições de cada vez que um mamífero estaciona o carro em cima do passeio ou sacode tapetes à janela, etc., etc., não fazíamos outra coisa senão redigir petições.

Nessa medida, parece-me bizarro protestar contra uma decisão individual. Faltaram às aulas? Perdem o ano por faltas. Ponto. As pessoas são livres de agir em conformidade com a sua consciência e de proferir os disparates que entenderem. Ao Estado e aos tribunais (não confundir com redes sociais) compete fazer cumprir a Lei. O resto são frioleiras e uma forma de caucionar a pulsão tablóide que tomou conta da agenda política.