O coração lateja?
O sangue é uma parede cega?
E se tudo, de repente?
O levantamento do cerco russo a Kiev deixa ver o rasto de devastação que assola as áreas periféricas da capital ucraniana, em especial as cidades de Irpin e Bucha.
Corpos mutilados, cadáveres de mulheres estupradas, crianças com a cabeça esmagada, cães e gatos esventrados, corpos amontoados em valas comuns, homens enforcados, carros incendiados, prédios destruídos, viadutos colapsados, bunkers inutilizados, tanques russos carbonizados, centenas de minas terrestres espalhadas por vias de comunicação, etc. Não há palavras para descrever o horror. Também não há água, nem electricidade, nem mantimentos.
Quando julgávamos impossível a repetição de Srebrenica e dos snipers de Sarajevo, eis que Bucha nos lembra que tudo pode regredir com a rapidez de um fósforo.
Que perante tudo isto haja gente capaz de falar em “encenação”, só acrescenta uma intolerável quota de nojo à realidade. Afinal, se houve (e continua a haver) quem negasse o Holocausto, por que não haveria agora igual número de energúmenos?
Intencionalmente, a imagem é a mais benigna que encontrei. Clique.
Filho de pai português e mãe italiana, António Osório nasceu em Setúbal. Embora colaborasse em revistas literárias desde 1954, quando fundou a revista Anteu, publicou o primeiro livro, A Raiz Afectuosa (1972), à beira de completar 40 anos. A partir de 1978 — ano de publicação de A Ignorância da Morte —, tornou-se um dos poetas centrais do chamado regresso ao real.
Várias vezes premiado, com obra traduzida e publicada em Espanha, França, Bélgica, Itália, Alemanha, Roménia, Croácia, Estados Unidos e Brasil, Osório foi elogiado e estudado por críticos de todas as gerações, de João Gaspar Simões a António Carlos Cortez.
Além de poesia publicou o livro de ensaios A Mitologia Fadista (1974). Muitos dos seus livros de poesia têm ilustrações de Mário Botas, Júlio Pomar, Graça Morais, Júlio Resende, Manuel Cargaleiro, Pedro Cabrita Reis e outros.
Advogado de profissão, foi Bastonário da respectiva Ordem entre 1984 e 1986. Membro da Academia das Ciências de Lisboa, presidente da Associação Portuguesa para o Direito do Ambiente (1994-96), administrador da Comissão Portuguesa da Fundação Europeia da Cultura, representante de Portugal na Convenção da Haia (1980), presidente da delegação portuguesa no Tribunal Europeu de Arbitragem (Estrasburgo), fundador da revista Direito do Ambiente e do Ordenamento do Território, membro do Instituto de Direito Comparado Luso-Brasileiro, director da Biblioteca da Ordem dos Advogados (1995-2002), director da revista Foro das Letras, etc., exerceu diversos outros cargos de interesse público.
Passou os seus últimos anos na casa de família em Azeitão.
O poema desta semana é um dos quinze que compõem a sequência Gratidão que nem sabe a quem deve ser grata, do livro O Lugar do Amor (1981). A imagem foi obtida a partir da edição que a Gótica fez em 2001. A obra poética completa do autor encontra-se reunida em A Luz Fraterna, volume publicado em 2009 pela Assírio & Alvim.
[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa, Eugénio de Andrade, José Carlos Ary dos Santos, António Manuel Couto Viana, Ruy Cinatti, Al Berto, Alexandre O’Neill, Vitorino Nemésio, David Mourão-Ferreira, Miguel Torga, Ângelo de Lima, Pedro Tamen, António Ramos Rosa, José Régio, Antero de Quental, Pedro Homem de Mello, Teixeira de Pascoaes e Afonso Duarte.]
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A sessão das Cortes de Espanha (Senado e Congresso de Deputados) está marcada para o próximo dia 5. E a do Parlamento da Grécia para o próximo dia 7.
E nós por cá?
Imagem: hoje, em Camberra. Clique.
Surpreendeu-me que o terço inicial do discurso do PR tenha incidido nas consequências da invasão da Ucrânia pela Rússia, nessa «manhã de 24 de Fevereiro em que o mundo mudou [...] Uma manifestação de força sem legitimidade jurídica, nem política, que teve condenação internacional.»
Foi bom que o tivesse feito, mas apanhou-me (como provavelmente a muita gente) de surpresa. Arriscaria dizer que andou ali mão de um dos novos ministros, e não é preciso trabalhar na West Wing para saber que é assim que estas coisas se fazem.
Muito bom, e certeiro, o discurso do primeiro-ministro, também ele focando (no momento próprio) a guerra na Europa.
Novidade mesmo foi a afirmação de António Costa de que «a proposta do Orçamento do Estado já está finalizada...» Sabia-se que o programa do Governo é aprovado amanhã em Conselho de Ministros, para ser discutido na AR nos próximos dias 7 e 8 de Abril, mas termos o OE 2022 finalizado é uma revelação inesperada (mais do que a mudança de ministro das Finanças, a guerra terá alterado a versão chumbada em Outubro do ano passado). São boas notícias.
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Augusto Santos Silva substitui Eduardo Ferro Rodrigues como Presidente da Assembleia da República, cargo para que foi eleito por 156 votos a favor, 63 brancos e 11 nulos.
Santos Silva fez um bom discurso. Destaco dois tópicos:
«A liberdade e a igualdade custaram-nos demasiado para regredirmos...» / «O discurso sem lugar aqui será o discurso de ódio, que insulta o outro que é diferente e que discrimina, seja qual for o motivo da discriminação...»
O statement não deixou de invectivar os «nacionalistas antipatriotas», razão que explica o azedume da primeira intervenção da extrema-direita.
Num acto cerimonial como este, foi deprimente ver os deputados do PSD de braços cruzados, incapazes de aplaudir alguém que, não sendo um dos seus, defendia valores e princípios que são universais.
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Natural de Ereira (Coimbra), Afonso Duarte estreou-se em 1912 com Cancioneiro das Pedras, mas seria só a partir de 1929, com Os 7 Poemas Líricos — volume publicado pela Presença — que o seu nome obteria ressonância nacional.
Tinha formação em ciências físico-naturais mas era etnógrafo por opção. Professor do ensino básico, adversário da Ditadura Nacional (1928-33), foi aposentado compulsivamente do ensino em 1932. Viveu grande parte da vida com paralisia nos membros inferiores.
Colaborou nas principais revistas literárias do seu tempo, interessou-se por arte popular, escreveu e publicou obras sobre pedagogia e etnografia.
A primeira edição da sua Obra Poética (1956) completa foi organizada por Carlos de Oliveira e João José Cochofel.
O poema desta semana pertence a Ossadas (1947). A imagem foi obtida a partir da edição de 2003 (Cotovia) de A Poesia da Presença, antologia organizada por Adolfo Casais Monteiro, que a publicou no Brasil em 1959.
[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa, Eugénio de Andrade, José Carlos Ary dos Santos, António Manuel Couto Viana, Ruy Cinatti, Al Berto, Alexandre O’Neill, Vitorino Nemésio, David Mourão-Ferreira, Miguel Torga, Ângelo de Lima, Pedro Tamen, António Ramos Rosa, José Régio, Antero de Quental, Pedro Homem de Mello e Teixeira de Pascoaes.]
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Trinta dias de confronto deram origem a seis milhões de deslocados no seu próprio país, quatro milhões de refugiados no Ocidente, meio milhão de deportados para a Rússia, milhares de civis mortos, corredores humanitários atacados à bomba, cidades destruídas, tráfico de seres humanos, crise económica planetária, etc. Kiev ainda não caiu. Só cairá se a Rússia adoptar a solução final. Se isso acontecer, a NATO intervirá. Não pode ficar de braços cruzados como ficou há oito anos.
Um dia saberemos o que levou Putin a supor que a invasão da Ucrânia seria um remake da libertação de Paris, em Agosto de 1944, quando os franceses receberam os militares americanos com flores, beijos e canções. Quem terá convencido Putin dessa ilusão?
A “operação especial militar” que visava “desnazificar” a Ucrânia foi prevista para durar umas horas, porque, julgavam os idiotas de todos os matizes, a chegada do primeiro tanque ao Donbass levaria Zelensky a fugir para o Ocidente e a população ucraniana a receber os “libertadores” em triunfo. Nada disso aconteceu. A Ucrânia resiste, a Ucrânia vai continuar a resistir, para desgosto dos “pacifistas” que apelam à capitulação de um Estado soberano.
A guerra na Europa atrapalha o querido mês de Agosto? Paciência.
Na imagem, Tetiana Chornovol, uma militar ucraniana, carrega um míssil anti-tanque. Clique.
Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, foi claro: «Concordámos em fornecer à Ucrânia equipamentos e treino que os habilitem a lidar com as consequências de um possível ataque russo com armas químicas, biológicas ou mesmo nucleares.»
Recordar que Sergei Shoigu, ministro russo da Defesa, não é visto desde o passado dia 11.
Imagem: foto oficial da Cimeira, em Bruxelas. Clique.
A Suécia e a Finlândia participam da Cimeira como «observadores», como tem acontecido desde a invasão da Ucrânia.
Biden chegou ontem à capital belga, deslocando-se amanhã a Varsóvia.
O edifício da organização tem as bandeiras a meia-haste em homenagem a Madeleine Albright, falecida ontem.
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Queriam o quê? Que António Costa fosse recrutar quadros da CIP e membros do Turf Club?
Não sei se repararam, mas deixou de haver ministros de Estado.
Se as minhas contas estão certas, seis dos dezassete ministros nem militantes do PS são, sendo os seis personalidades destacadas da sociedade civil.
Tenho pena que Alexandra Leitão e Tiago Brandão Rodrigues tenham saído, mas, tudo visto, a equipa inspira confiança técnica e política. A ver vamos quem são os/as escolhidos/as para as 38 secretarias de Estado.
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Autor de uma obra parcimoniosa, balizada entre A Morte Percutiva (1961) e Existência (2017), Gastão Cruz nasceu em Faro e veio para Lisboa aos dezassete anos. Na Faculdade de Letras conheceu Fiama Hasse Pais Brandão, com quem viria a casar. Data desse tempo o seu interesse pelo teatro: integrou o Grupo de Teatro de Letras, tendo mais tarde dirigido o Grupo de Teatro Hoje/Teatro da Graça. Entre outras, adaptou ao teatro o romance Uma Abelha na Chuva de Carlos de Oliveira.
Foi professor do ensino secundário e, durante seis anos (1980-86), leitor de português no King’s College de Londres.
Tendo, durante três décadas, colaborado largamente na imprensa cultural, coligiu parte desses textos nos volumes A Poesia Portuguesa Hoje (1973) e A Vida da Poesia (2009). Coordenou colecções de poesia, organizou antologias, presidiu à Fundação Luís Miguel Nava, dirigiu a revista Relâmpago e recebeu todos os prémios que havia para receber. Em 2019 foi agraciado com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante Dom Henrique.
Vítima de doença degenerativa, estava internado no hospital Egas Moniz, de Lisboa.
Até sempre, Gastão.
Natural de Amarante, Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos passou à posteridade com o pseudónimo de Teixeira de Pascoaes. Filho de um agricultor abastado (e culto) que foi deputado às Cortes, Pascoaes formou-se em Direito e chegou a juiz na sua terra natal.
Estreou-se em livro em 1895, com a colectânea poética Embriões. Mais tarde, dirigiu durante quatro anos A Águia, revista de literatura, arte, ciência, filosofia e crítica social, órgão teórico do movimento da Renascença Portuguesa.
Eremita, místico, espírito filosófico, foi eleito membro da Academia de Ciências de Lisboa em 1923. Além de poesia, publicou ensaios, uma autobiografia [Livro de Memórias, 1928], duas novelas, mas também biografias romanceadas de São Paulo, São Jerónimo, Santo Agostinho, Camilo Castelo Branco e Napoleão.
Pascoaes não gostava de Pessoa e considerava António Nobre a nossa maior poetisa.
O poema desta semana pertence a Senhora da Noite (1909). A imagem foi obtida a partir de Poesia de Teixeira de Pascoaes, antologia organizada por Mário Cesariny, editada por António Cândido Franco e publicada pela Assírio & Alvim em 2002.
[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa, Eugénio de Andrade, José Carlos Ary dos Santos, António Manuel Couto Viana, Ruy Cinatti, Al Berto, Alexandre O’Neill, Vitorino Nemésio, David Mourão-Ferreira, Miguel Torga, Ângelo de Lima, Pedro Tamen, António Ramos Rosa, José Régio, Antero de Quental e Pedro Homem de Mello.]
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O grande dilema dos historiadores que, no futuro, tentarem perceber a invasão da Ucrânia de 2022 radica no móbil que terá levado Putin a ordenar uma guerra em moldes que, sendo plausíveis há 80 anos ou mais anos, não fazem hoje sentido.
Admitindo que alguém o tenha convencido de que Zelensky fugia para o Ocidente assim que os tanques entrassem no Donbass, mesmo nessa hipótese absurda, havia que contar com a resistência de um povo determinado. Se Zelensky fosse abatido, ou fugisse (como em 2014 fugiu Víktor Yanukóvytch), outro ucraniano anti-Moscovo ocuparia o seu lugar. O mito dos russófilos que receberiam as tropas russas de cravos na mão foi engendrado por quem?
Tentar ocupar a Ucrânia, um país maior do que a França, com 150 mil homens (desconhecedores do terreno) e divisões panzer, ultrapassa toda a lógica. Claro que, como tem estado a ser feito, o país pode ser arrasado de Leste a Oeste e de Norte a Sul. Mas de que servirá uma tão vasta extensão de terra queimada?
Sim, há que contar com os mísseis. E não podemos descartar a hipótese de que, para vergonha de todos nós, Kiev venha a ser a nova Hiroshima.
«Vou cumprir até ao fim todos os meus objectivos, e sei como fazê-lo», reiterou ontem Putin, no Estádio Luzhniki, de Moscovo, durante o comício em que celebrou a anexação da Crimeia.
Natural de Lisboa, Silva Melo passou a infância e o início da adolescência em Angola, onde seus pais estavam radicados. Frequentou a Faculdade Letras da Universidade de Lisboa e, a partir de 1969, a London Film School. Fez teatro em Berlim, Paris e Milão.
Antes de partir para Inglaterra foi um dos fundadores do Grupo de Teatro de Letras. Mais tarde (1973) fundou com Luís Miguel Cintra o Teatro da Cornucópia, onde permaneceu até 1979. Como bolseiro da Gulbenkian estagiou em Berlim com Peter Stein, em Paris com Jean Jourdheuil e em Milão com Giorgio Strehler. Em 1995 fundou os Artistas Unidos (verdadeira escola de teatro), exigente companhia que dirigiu até morrer.
Como realizador de cinema integrou a cooperativa Grupo Zero (1975-79), tendo realizado mais de uma dúzia de filmes, entre eles o mítico António, Um Rapaz de Lisboa (2000). Como actor de cinema trabalhou com Manoel de Oliveira, Paulo Rocha, João César Monteiro, Alberto Seixas Santos, Joaquim Pinto, Manuel Mozos, José Álvaro Morais, João Botelho e outros. Da sua filmografia constam filmes sobre diversos artistas plásticos: António Palolo, Nikias Skapinakis, Álvaro Lapa, Sofia Areal, Joaquim Bravo, Ângelo de Sousa e Fernando Lemos.
Deixa-nos dois excepcionais livros de memórias: O Século Passado (2007) e A Mesa Está Posta (2019). Da restante bibliografia consta o libreto de Le Château dês Carpathes de Philippe Hersant. Entre outras, traduziu obras de Pasolini, Goldoni, Pirandello, Brecht, Oscar Wilde, Harold Pinter, H.P. Lovecraft, Georg Büchner, Heiner Müller e Ramón Gómez de la Serna.
Em Maio de 2021 foi doutorado honoris causa pela Universidade de Lisboa.
Muito mais haveria a dizer, mas a morte de um amigo deixa-nos sempre interditos. Até sempre, Jorge.
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Um dos melhores actores da sua geração, notabilizou-se com Noites Escaldantes (1981), recebendo, quatro anos depois, o Óscar de Melhor Actor Principal pela sua interpretação no filme de Hector Babenco O Beijo da Mulher Aranha, de 1985.
Outros êxitos planetários foram Os Amigos de Alex (1983), Filhos de Um Deus Menor (1986), Edição Especial (1987), O Turista Acidental (1988), Uma História de Violência (2005) e O Bom Pastor (2006).
Além de filmes, fez muito teatro em Nova Iorque. No cinema, mesmo quando fazia papéis secundários, e fez vários ao longo dos mais de 40 anos de uma carreira extremamente exigente, a sua presença era decisiva.
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Natural do Porto, nascido no seio de uma família de aristocratas, Homem de Mello passou grande parte da sua vida em Afife.
Foi professor do ensino secundário, subdelegado do Procurador da República e estudioso do folclore nacional. Além de poesia, escreveu ensaios sobre tradições portuguesas e diversas obras para o ensino. Estreou-se em livro com Caravela ao Mar (1934) e recebeu todos os prémios que havia para receber antes de 1974. Colaborou assiduamente na imprensa e na televisão. O Rapaz da Camisola Verde continua sendo um grandes poemas da poesia portuguesa.
Conotado com o Estado Novo, passou a última década de vida sem que a crítica lhe desse atenção. Contudo, David Mourão-Ferreira, Natália Correia e Vasco Graça Moura, para citar apenas três grandes nomes, nunca lhe regatearam elogios.
O poema desta semana pertence a Eu, Poeta e Tu, Cidade (2007), obra publicada pelas Quasi Edições a partir da qual a imagem foi obtida.
[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa, Eugénio de Andrade, José Carlos Ary dos Santos, António Manuel Couto Viana, Ruy Cinatti, Al Berto, Alexandre O’Neill, Vitorino Nemésio, David Mourão-Ferreira, Miguel Torga, Ângelo de Lima, Pedro Tamen, António Ramos Rosa, José Régio e Antero de Quental.]
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Dito de outro modo, a guerra está a 25km da fronteira da NATO. Até ao momento estão identificados 35 mortos e cerca de 150 feridos. As vítimas são de nacionalidade ucraniana, polaca, norte-americana, britânica, alemã, francesa e australiana. Especula-se que no local também estivessem quatro consultores portugueses.
Consta nos círculos russófilos que o CIMPS estaria a servir de base logística para treino e equipamento dos voluntários estrangeiros que estão a chegar à Ucrânia para lutar ao lado do exército ucraniano.
O eco do bombardeamento ouviu-se em Lviv, onde estilhaçaram os vidros de alguns edifícios. Recordar que foi para Lviv, cidade situada a 80 quilómetros da fronteira polaca, que se transferiram todas as representações diplomáticas estrangeiras, cujo staff foi reduzido ao mínimo.
O ataque representa uma sinistra mudança de paradigma na condução da guerra.
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Colaboram no vídeo a London Symphony Orchestra, a Tokyo Symphony, a Oslo Philharmonic e a Orquestra de Câmara de Munique.
Participam violinistas do Reino Unido, Japão, Noruega, Alemanha, Portugal [Elisabete Gomes], Espanha, França, Bélgica, Irlanda, Países Baixos, Dinamarca, Suécia, Israel, Polónia, República Checa, Moldávia, Geórgia, Índia, Coreia do Sul, Nova Zelândia, Colômbia, África do Sul, Estados Unidos, Canadá, Ucrânia e outros.
Os ucranianos actuaram a partir dos bunkers onde se encontram refugiados.
O vídeo é patrocinado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.
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Transcrevo na íntegra
Cultura highbrow como arma de guerra?
Perguntam-me se Putin pode ser derrotado pelo ostracismo da cultura russa. Admitindo que a cultura russa estivesse a ser ostracizada pelos adversários de Putin (e não me parece que esteja), o tema não afecta o quotidiano da larga maioria do povo russo, elites de Moscovo e São Petersburgo incluídas.
As quebras de contrato que atingiram a soprano Anna Netrebko e o maestro Valery Gergiev, a primeira afastada da Metropolitan Opera de Nova Iorque, o segundo da Filarmónica de Munique, são desaires que afectam a carreira de ambos, artistas de reputação planetária. Mas nenhum deles detém o monopólio da cultura russa.
Dir-me-ão que não são casos isolados. Pois não: atletas russos foram impedidos de participar nas Paralimpíadas de Pequim, universidades de prestígio cancelam cursos de literatura russa, cineastas russos são afastados de festivais de cinema para os quais haviam sido convidados, e até a Federação Felina Internacional proibiu gatos russos de participarem nas competições agendadas para este ano.
Todos os dias surge uma nova forma de boicote. É deprimente, mas não será por aí que Putin verga. O grande mistério radica na razão que terá levado Putin a desencadear uma guerra que terá consequências no quotidiano da população da Rússia, hoje completamente ocidentalizada, dependente do vasto arsenal de bens de consumo que moldam o dia-a-dia da geração pós-Perestroika.
Aparentemente, terá julgado que a ocupação da Ucrânia durava umas horas, graças a hordas de ucranianos russófilos desejosos de afastar Zelensky. Nada disso aconteceu. No trágico ínterim em que todos estamos mergulhados, o povo russo descobre, estupefacto, estar a um passo de regredir cinquenta anos.
A classe trabalhadora russa não quer saber da visibilidade internacional da sua cultura highbrow. Quer saber se vai poder continuar a manter o padrão de vida dos povos das nações industrializadas, a começar pelos seus vizinhos da Finlândia.