terça-feira, 8 de outubro de 2019

COSTA INDIGITADO


Tendo em conta os resultados eleitorais e ouvidos todos os partidos com representação na nova Assembleia da República, o Presidente da República indigitou hoje António Costa como primeiro-ministro do XXII Governo Constitucional.

Clique na imagem.

IDENTIDADES


Todos sabemos que a extrema-direita não gosta de políticas de género nem reconhece a natureza das identidades étnicas e sexuais.

Surpresa foi descobrir que pessoas sensatas desatinaram com o facto de ter escrito que, 45 anos após o 25 de Abril, o Parlamento terá pela 1.ª vez quem defenda os interesses específicos da comunidade negra residente em Portugal.

Joacine Katar Moreira, Beatriz Gomes Dias e Romualda Fernandes, eleitas, respectivamente, nas listas do LIVRE, do BE e do PS, são mulheres negras. A primeira fez campanha nessa qualidade. As outras passaram relativamente despercebidas, embora Romualda Fernandes, do PS, tenha divulgado a mensagem recebida de uma amiga:

«A partir de agora nós, mulheres negras, cada vez que olharmos para a escadaria da Assembleia da República não nos iremos ver apenas com baldes e esfregonas para limpar: estamos lá dentro, temos voz e podemos sonhar

A eleição destas três mulheres permite mudar o paradigma da representação parlamentar. Assim estejam à altura do que se espera delas.

Verdade que, nos últimos 44 anos, passaram pela AR alguns deputados negros. Mas nunca vimos nenhum preocupado com os vários tipos de discriminação (sobretudo no emprego e na habitação) e os problemas específicos da comunidade que deviam representar.

Portanto não se trata de terem passado por São Bento o deputado A ou o deputado B. Anteontem tratou-se de eleger pessoas que têm o compromisso de lutar por causas concretas.

O mesmo se diga de homossexuais e lésbicas. Interessa pouco saber se há 10 ou 20 deputados/as gays... se uns e outras continuarem, como continuam, no armário.

Em 2009, Miguel Vale de Almeida foi eleito deputado nas listas do PS e, no Parlamento, lutou pela legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, pela possibilidade de casais gays adoptarem crianças, por políticas de identidade de género, etc. Em 2015, Alexandre Quintanilha foi eleito deputado nas listas do PS sem fazer segredo do facto de ser casado com o escritor Richard Zimler. Em 2017, Graça Fonseca, actual ministra da Cultura, assumiu publicamente ser gay quando já era secretária de Estado. Em 2018, Adolfo Mesquita Nunes, então vice-presidente do CDS, assumiu publicamente a sua homossexualidade. Nenhuma destas personalidades precisa de fazer proselitismo. Mas o gesto que os une tem simbolismo e eficácia pedagógica.

Portanto, nunca como hoje foi tão importante a afirmação de identidade. Não estamos a falar de moda, mas do nosso quotidiano.

Na imagem, da esquerda para a direita, Joacine Katar Moreira, Beatriz Gomes Dias e Romualda Fernandes. Clique.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

NOTAS SOLTAS


No essencial, o conjunto das sondagens publicadas até 4 de Outubro aproximou-se da realidade. Não se pode dizer o mesmo das sondagens à boca das urnas, com números delirantes.

A excepção foi a do ICS/ISCTE para a SIC. Correcta.

A RTP fez uma cobertura passional dos resultados. Lamentável.

A triagem “fina” dos resultados, concelho a concelho, demonstra que Lisboa é uma coisa e o resto do país outra.

A anunciada subida do BE não se concretizou. O partido de Catarina Martins perdeu cerca de 58 mil votos, limitando-se a manter os deputados eleitos em 2015.

Assunção Cristas, a mulher que andou quatro anos a dizer (sem se rir e quase sempre de mão na anca) que ia ser primeira-ministra, assumiu cedo a derrota e declarou ir abandonar a liderança do CDS.

Rui Rio evitou a implosão do PSD, mas o partido foi derrotado em toda a linha. Por junto, a PAF perdeu cerca de 350 mil votos e 22 deputados (mas só 9 eram do PSD). É obra, mas 27,9% é muito mais do que conseguiria a tropa fandanga do passismo. O pior foi o discurso borderline.

Ainda Rio: com tanto ódio acumulado na Invicta, obteve um resultado respeitável [15 vs 17 deputados] na cidade de que foi edil.

Ao fim de 24 anos no Parlamento, Heloísa Apolónia, do PEV, não conseguiu ser eleita.

Os 39 mil votos do ALIANÇA não foram suficientes para eleger Santana Lopes.

Marinho Pinto não conseguiu eleger o Pardal.

António Costa fez um discurso muito longo. O mesmo se diga de Rio e outros. Uma velha pecha portuguesa.

Clique na imagem do Público.

VAMOS A CONTAS


Quatro anos de imprensa marrom ou, se preferirem, de yellow journalism, não foram suficientes para impedir a vitória do Parido Socialista.

Sem contar com os votos dos emigrantes, ainda por apurar:

— O PS ganhou mais 124.395 votos e elegeu mais 21 deputados.
— A PAF [PSD+CDS] perdeu 344.458 votos e 22 deputados.
— O PSD perdeu 9 deputados.
— O CDS perdeu 13 deputados.
— O BE perdeu 57.391 votos mas manteve os 19 deputados.
— A CDU [PCP+PEV] perdeu 115.838 votos e 5 deputados.
— O PEV manteve dois deputados.
— O PAN ganhou 92.102 votos e elegeu mais 3 deputados.
— O CHEGA, de extrema-direita, elegeu um deputado (66.442 votos).
— A IL também elegeu um deputado (65.545 votos).
— O LIVRE conseguiu eleger um deputado (55.656 votos)

ESQUERDA = 142 deputados / DIREITA = 84

Os 4 deputados da emigração devem ser repartidos [2+2] pela Esquerda e pela Direita.

Juntos, o BE e a CDU perderam 173.229 votos.

A abstenção foi de 45,5%. Maior que em 2015 (44,1%) mas longe das previsões das sondagens.

Grande surpresa da noite, a eleição do deputado da Iniciativa Liberal, um partido do Norte (eixo Porto-Braga).

Finalmente, 45 anos após o 25 de Abril, a comunidade negra residente em Portugal terá deputados — neste caso três deputadas — negros a defender os seus interesses. Os outros que por lá passaram nunca assumiram essa condição.

Ainda é cedo para fechar o balanço, mas, para já, foram eleitos sete deputados assumidamente gays: quatro homens e três mulheres.

Clique na imagem do ministério da Administração Interna.

PS VENCEU


Vitória clara do PS, com todas as freguesias apuradas, faltando apenas contar o voto dos emigrantes, que representam quatro mandatos, dois dos quais (no mínimo) serão previsivelmente atribuídos ao PS.

A imagem apenas mostra os partidos que obtiveram representação parlamentar:

PS = 106 / PSD = 77 / BE = 19 / CDU = 12 / CDS = 5 / PAN = 4 / CHEGA = 1 / IL = 1 / LIVRE = 1

Clique na imagem do ministério da Administração Interna.

domingo, 6 de outubro de 2019

NOITE DE VITÓRIA


Celebrar a vitória com amigos. Clique na imagem.

LEGISLATIVAS


Para as eleições de hoje estão recenseados 10,8 milhões de portugueses, mais 1,1 milhão do que em 2015.

O voto dos emigrantes triplicou. O voto antecipado, em Portugal, idem.

É necessário inverter a tendência abstencionista: nas legislativas de 2015 abstiveram-se 44,14% dos eleitores. Hoje era bom que, pelo menos, dois terços dos eleitores votassem. Quem não vota não tem direito a protestar.

Não gostam do Governo? Têm 20 alternativas. Concorrem 21 partidos, quinze dos quais em todos os círculos. O importante é votar.

Clique na imagem: Costa a descer o Chiado, anteontem, vendo-se (entre outros), da esquerda para a direita, Mário Centeno, Fernando Medina, Carlos César, Ferro Rodrigues, Jamila Madeira e o primeiro-ministro António Costa.

sábado, 5 de outubro de 2019

MONOS


Como é dia de reflexão, reflitamos sobre monos.

A imagem de cima mostra a nova Deichman Bjørvika, biblioteca pública de Oslo, obra do gabinete de arquitectura de Lund Hagem. Hordas de especialistas, opinião pública tout court e os media, todos rendidos.

Pergunta não inocente: em que parte o edifício dos arquitectos Manuel Aires Mateus e Frederico Valsassina projectado para o Rato (a praça mais feia e desordenada de Lisboa), lhe é inferior?

Clique nas imagens: Oslo ao alto, Lisboa em baixo.

MONUMENTAL


Quem não se lembra do Monumental e das suas três salas: o cinema, com 1.967 lugares; o teatro, com 1.086; e o estúdio, onde eram exibidos “filmes de autor”, com 208. O Monumental foi inaugurado em Novembro de 1951 e fechou em Novembro de 1983. Denominada Satélite, a sala-estúdio só abriu em Fevereiro de 1971, ocupando o espaço do antigo salão de chá do primeiro andar.

No piso térreo, virado à Fontes Pereira de Melo, o café-restaurante Monumental marcou uma época da vida gay de Lisboa (embora o Monte Carlo, mesmo ao lado, fosse muito mais divertido). Resumindo: durante 32 anos, o Monumental foi um lugar de eleição.

Demolido em Maio de 1984, deu lugar a um edifício pavoroso, todo espelhado, com quatro salecas de cinema desconfortáveis extremamente feias, inauguradas em 1993 pela Medeia Filmes, de Paulo Branco, actualmente encerradas.

Agora muda tudo. Por 29 milhões de euros, a Broadway Malyan, responsável pelo projecto arquitectónico, vai pôr o edifício como se vê na imagem. Além da fachada, a remodelação inclui os equipamentos interiores.

Continuará um pavor, embora o actual seja pior. Com abertura prevista para Outubro de 2020, manterá as salas de cinema (mas sem a Medeia Filmes), que espero sejam melhores que as actuais. O shopping desaparece, ficando a área comercial ocupada por uma grande loja-âncora.

Para mal dos nossos pecados, o Saldanha está condenado a ser cobaia de todas as experiências.

Clique nas imagens. De cima para baixo: projecto 2020 (em curso), versão 1993, obra original (1951).

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

PS, OBVIAMENTE


Na medida em que é público o meu apoio ao partido, parece-me redundante dizer que no próximo domingo irei votar no PS.

Faço-o desde 1976 (vivendo em Lourenço Marques, em 1975 não pude votar para a Constituinte) e nunca me arrependi, fossem eleições legislativas, autárquicas ou europeias. O mesmo se diga relativamente a eleições presidenciais, exceptuando 2016, ano em que apoiei e votei em Marisa Matias.

Espero que uma hipotética pulverização do Parlamento não dinamite o essencial, ou seja, consolidar o trabalho feito nos últimos quatro anos.

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EUROSONDAGEM


Estudo da Eurosondagem divulgado hoje no semanário Sol.
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AXIMAGE


Sondagem da Aximage para o Jornal Económico, divulgada hoje.
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ICS/ISCTE


Sondagem do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e do ISCTE, para o Expresso e a SIC, divulgada esta sexta-feira:

PS = 38% / PSD = 28% / BE = 10% / CDU = 7% / CDS = 5% / PAN = 3% 

PS e PSD separados por 10%

Maioria de Esquerda = 55%. Juntando o PAN, seriam 58%.

Clique nas imagens do Expresso.

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

FREITAS DO AMARAL 1941-2019


Vítima de cancro nos ossos, morreu hoje Diogo Freitas do Amaral, internado há cerca de três semanas no Hospital da CUF, em Cascais, embora também estivesse a ser seguido por especialistas da Fundação Champalimaud. Tinha 78 anos.

Professor catedrático de Direito, antigo procurador da Câmara Corporativa, deputado em várias legislaturas, vice-primeiro-ministro de Sá Carneiro (e primeiro-ministro interino após a sua morte), membro do Conselho de Estado, mais de uma vez ministro da Defesa Nacional e dos Negócios Estrangeiros, Presidente da União Europeia das Democracias Cristãs, um dos autores da revisão constitucional de 1982, candidato presidencial em 1986 e, em 1995, Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, deixa uma bibliografia com mais de sessenta títulos, incluindo os três volumes das Memórias, o último dos quais lançado há três meses.

Fundador do CDS em Julho de 1974, juntamente com Adelino Amaro da Costa, Basílio Horta, Victor Sá Machado, João Morais Leitão e outros, dirigiu o partido até 1982, mas abandonou-o em 1992.

O Governo decretou luto nacional no próximo sábado, dia do funeral. O primeiro-ministro foi claro: «Morreu um dos fundadores do regime democrático». O Presidente da República cancelou a viagem ao Vaticano.

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JACKSON & DRNDIC


Hoje na Sábado escrevo sobre A Lotaria e Outras Histórias, de Shirley Jackson (1916-1965). Sendo a tradição gótica tão importante na literatura norte-americana, Ms Jackson conseguiu a proeza de construir uma das obras ficcionais mais sólidas do género, podendo medir-se com Hawthorne ou mesmo Edgar Allan Poe. Antes de morrer aos 48 anos de idade, escreveu seis romances, uma centena de contos, três volumes de memórias e quatro livros infantis. A Lotaria e Outras Histórias constitui a primeira, e única publicada em vida, das sete colectâneas em que os seus contos estão coligidos. O romance de terror A Maldição de Hill House, já publicado em Portugal, foi adaptado ao cinema duas vezes (1963 e 1999), tendo a Netflix feito a partir dele uma série de dez episódios. Outras obras suas foram igualmente adaptadas ao teatro, cinema e televisão. Juntamente com o conto titular que fecha o conjunto, o livro inclui outras 24 histórias e o poema de James Harris que serve de epílogo. Em 1948, quando a New Yorker publicou A Lotaria, a controvérsia foi enorme. Os leitores da revista ficaram chocados com o ritual de violência associado à festa (o dia da lotaria) da aldeia. Lido hoje, o que mais surpreende neste conto é o ponto de vista, feminista, da narradora. Por muito subtil que seja, a natureza anti-patriarcal é evidente. Num registo oposto, porque urbano, O Amante Demoníaco relata a história de uma mulher de 34 anos à procura do noivo (indo de casa em casa), no dia que julgava ser o do seu casamento. Outro exemplo “macabro” é A Renegada, a história de uma cadela que dizima as galinhas da vizinhança. Parece banal. O pior, o verdadeiro horror, subjaz à solução preconizada pelos filhos pré-adolescentes de uma pacata dona de casa: «A Sra. Walpole fechou os olhos sentindo, de súbito, mãos ásperas que a puxavam, pontas afiadas que lhe apertavam a garganta.»  São assim os contos de Shirley Jackson. Aparentemente triviais, sobre pessoas comuns, porém encharcados de genuína maldade. Não podendo comentar todos, gostaria de destacar, além dos citados, os seguintes: Charles, Estátua de Sal e O Dente. Cinco estrelas. Publicou a Cavalo de Ferro.

Escrevo ainda sobre Trieste, da escritora croata Daša Drndić (1946-2018). Traduzido a partir da versão em língua inglesa, é um documento para a história. Se dúvidas houvesse, a lista de 44 páginas com os nomes dos cerca de nove mil judeus deportados de Itália, aí está para o provar. A história de Haya Tedeschi, professora de matemática, nascida em 1923, em Gorizia, cidade italiana que foi outrora uma possessão do império austro-húngaro, é um pretexto para contar a história da Europa no século XX. A partir da cidade de Trieste, Daša Drndić compõe o mosaico do horror: parte de uma lista com os nomes de membros do Aktion T4 (o departamento nazi responsável pelo extermínio de doentes), os verbetes biográficos de alguns carrascos, excertos de interrogatórios dos Julgamentos de Nuremberga, velhas histórias de família, genealogias, retratos, poemas e citações de muitos autores: Pound, Ungaretti, Borges, Magris, Celan, T.S. Eliot e outros. Muito ténue, o fio condutor gira em torno da busca de um filho perdido. Quatro estrelas. Publicou a Sextante.

TANCÓLOGA

Quem senão D. Assunção? Tancóloga, of course. O achado é de Martim Silva, director-adjunto do Expresso. A presidenta da CDS entrou definitivamente no reino da anedota.

INTERCAMPUS


Sondagem da Intercampus para Correio da Manhã e o Negócios, divulgada hoje.

PS = 35,0% / PSD = 26,1% / BE = 8,7% / CDU = 8,0% / PAN = 5,6% / CDS = 4,5%

O PAN ultrapassa o CDS.

Maioria de Esquerda = 51,7%. Juntando o PAN, seriam 57,3%.

Clique na imagem do Negócios.

PITAGÓRICA


Pitagórica, ontem à noite, para a TVI, JN e TSF:

PS = 37,4% / PSD = 28,5% / BE = 8,9% / CDU = 7,4% / CDS = 4,0% / PAN = 3,8%

Clique na imagem do Jornal de Notícias.

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

CHICANA INDIGENTE

Rio e Cristas querem que o Parlamento volte a discutir o Caso Tancos, desejo bizarro, uma vez que a acusação já foi deduzida pelo Ministério Público. O que ambos de facto pretendem é introduzir ruído na campanha eleitoral.

Nem por isso o PSD deixou de solicitar a convocação da comissão permanente da Assembleia da República, tendo Ferro Rodrigues convocado para esta manhã uma conferência de líderes

Feita a conferência, PS, BE, PCP e PEV decidiram que o assunto seria discutido depois das eleições, nunca antes. PSD e CDS não conseguiram agendar a pretendida sessão extraordinária da comissão permanente da AR.

Cereja em cima do bolo foi a extravagante exigência de Cristas ao Presidente da Assembleia da República: enviar ao MP as declarações que Azeredo Lopes e António Costa prestaram no âmbito da Comissão Parlamentar de Inquérito.

Depois de fazer notar que o pedido fora feito de forma «inapropriada, incorrecta e injustificada», Ferro Rodrigues teve de lembrar à presidente do CDS que são públicos — estando disponíveis online na página do Parlamento na Internet — todos os documentos relativos à referida CPI.

RENASCENÇA


Renascença, hoje:

PS = 38,02% / PSD = 26,66% / BE = 9,85% / CDU = 6,87% / CDS = 4,9% /
PAN = 3,32%

Clique no gráfico.