segunda-feira, 11 de junho de 2018

IMOBILIÁRIO

Há mais de um ano que os jornais especulam com a bolha imobiliária nacional. Sucede que, fora das páginas especializadas de economia, o imobiliário é um não-assunto. Os jornais publicam anúncios de venda de casas como se fossem notícias. Hoje, no Diário de Notícias, o descaramento é tão gritante que dá que pensar.

A publicidade encapotada não foi inventada ontem. Nem a manipulação do mercado. Mas devia haver mínimos de decência. Este tipo de manchetes e notícias serve exclusivamente os interessas das imobiliárias, em especial das três ou quatro que dominam o mercado. Criando a ilusão dos preços demenciais, julgam predispor a sociedade para o disparate. Não estou a dizer que não se fazem negócios absurdos. Claro que sim. Não faltam novos-ricos parolos e estrangeiros incautos. Mas a regra desmente o agitprop dos media.

AQUARIUS


Pela boca de Matteo Salvini, vice-presidente do Governo, a Itália proibiu a entrada do navio Aquarius nas suas águas territoriais. A bordo estão 629 imigrantes africanos, sendo 123 menores desacompanhados, onze crianças e sete mulheres grávidas. Luigi Di Maio, o outro vice-presidente, líder do 5 Stelle, tentou matizar a decisão, mas Salvini, líder da Liga, o partido de extrema-direita que integra a coligação, é para todos os efeitos o chefe do Governo. Giuseppe Conte, o tecnocrata que bateu com a porta mas depois voltou, chefia o Governo para UE ver (não esquecer que foi escolhido e imposto pela Liga). Salvini argumenta que a Itália não tem que aceitar o que Malta, a Espanha e a França não aceitam. A decisão não surpreende. As autoridades de Palermo, capital da Sicília, bem como as de Nápoles, estariam dispostas a receber o Aquarius, mas a Guarda Costeira já fez saber que cumpre ordens de Roma e apenas de Roma.

Clique na imagem de La Repubblica.

sábado, 9 de junho de 2018

ÁREAS DE SERVIÇO


Nas autoestradas estamos razoavelmente servidos de áreas de serviço. Melhores que as de Espanha, por exemplo. Mas, para mal dos nossos pecados, descobri ontem (e só ontem porque nos últimos dois anos temos evitado a A1, optando pela A8) que a de Santarém deixou de ter terminais de multibanco, deixou de vender jornais, revistas e lotaria, a loja deixou de vender gelados, o balcão dos cafés fechou, e no self-service, que reduziu a oferta para um terço, não se pode comer um hambúrguer depois das 14h. Isto não é uma anedota. Infelizmente é a realidade. As empregadas explicaram que a gerência mudou em Janeiro, em todas as áreas da A1, sendo a empresa comum. Cartelização, portanto. Só parámos nesta, que por acaso era a melhor de todas antes da mudança. Não faz sentido sob nenhum ponto de vista. Estas coisas, que deviam interessar os jornais, nunca são publicamente discutidas. E deviam.

Esta foto não é de Santarém. Foi tirada por mim mas nem sequer no nosso país. Era assim que as áreas de serviço da A1 deviam ficar: vazias. Uma área que não presta serviços básicos como multibanco e venda de jornais e revistas, serve para quê? Estranho capitalismo. Clique na imagem.

DA FAMA

O foguetório mediático é um ersatz medíocre do reconhecimento crítico. Escrevi sobre isto mais de uma vez. Por isso, continua a surpreender-me o número dos meus pares que, já não tendo 18 anos, sofrem com a desatenção dos media. Não vale a pena. Já não valia no tempo em que uma plêiade de jornalistas culturais (Alexandra Lucas Coelho, Ana Marques Gastão, António Mega Ferreira, Clara Ferreira Alves, Fernando Assis Pacheco, Fernando Dacosta, Francisco Belard, Francisco José Viegas, Isabel Coutinho, Luís de Miranda Rocha, Maria Augusta Silva, Tereza Coelho) honrava o métier e, por maioria de razão, agora que o jornalismo cultural foi extinto. Este agora tem 20 anos. A importância do foguetório mediático traduz-se na inconfidência que passo a relatar.

Sendo obrigado, todos os anos, a desfazer-me de livros para os quais não tenho espaço em casa, encaminho-os para instituições de solidariedade social. Um dos critérios de escolha assenta em desfazer-me de obras que os jornais, e alguns intelectuais públicos, em determinada altura, consideraram fundadores de uma nova literatura. Terá sido aí que nasceu o termo incontornável. Encheram-se páginas broadsheet com retratos e loas. Lixo. Nenhum daqueles livros acrescentou nada. E o espaço faz-me falta.

sexta-feira, 8 de junho de 2018

ANTHONY BOURDAIN 1956-2018


Suicidou-se hoje Anthony Bourdain, o chef roqueiro que a televisão tornou mundialmente conhecido. Bourdain foi encontrado enforcado, hoje de manhã, pelo seu amigo Eric Ripert, no quarto que ocupava em Le Chambard, um exclusivo hotel de Kaysersberg-Vignoble, a 75 quilómetros de Estrasburgo. No próximo dia 25 faria 62 anos.

Na imagem, Bourdain e António Lobo Antunes, no Bairro Alto, em 2011. Clique

quinta-feira, 7 de junho de 2018

MÁRIO DE CARVALHO


Hoje na Sábado escrevo sobre Burgueses Somos Nós Todos ou Ainda Menos, de Mário de Carvalho (n. 1944). Tomando de empréstimo um verso de Cesariny, o autor juntou onze contos novos nesta colectânea. Estamos de volta à comédia humana conforme Balzac a formatou. Valor acrescido, neste caso, uma vez que é de nós que o autor trata. Perdido o lastro marxista do opróbrio, o que é hoje um burguês? Um trabalhador com pelo menos três salários mínimos no bolso, apetência por tectos falsos e WC social com música ambiente? Papás ciclistas com a ninhada a tiracolo? Gestoras obcecadas com o próximo team building…? As mulheres que o narrador nos apresenta põem os cornos aos maridos, mesmo as que o fazem por omissão. Algumas, como Leonor, praticam intercaladamente, ora com um magano desempoeirado, ora com um relapso. Afinal, Leonor «presisava de folguedo, mas também de drama. Não era uma alma simples…» O cinismo é de regra, mas não há outra forma de dizer as coisas. As boas intenções dão má literatura, e estes contos podem ser acusados de tudo excepto de deliquescência. Sirva de exemplo O fim da lista, texto amargo, porém isento de melodrama. Na realidade, o fim da linha, com flashback jubilatório: «os tempos em que a relva do Estádio Universitário era afago de abraços espojados…» Na sua exactidão, terrível a imagem de Luísa Fróis em contraluz. Como disse um dia Montherlant, «O mundo dos que vão viver e o mundo dos que vão morrer não tem medida comum.» Sob a fina camada dos sketches passionais que a maioria dos leitores vai reter, é sobretudo de envelhecer que este livro trata. O excelente Por onde tens andado? talvez seja o exemplo óbvio porque nem tudo se expõe com igual clareza. São muitos os temas ilustrados. Destaco a engenharia social, o sexo, doença, o arrivismo, o refluxo ideológico, a fraude bancária (em Transes bancários, como não ver o transe do Banco Privado Português?). Esgalhados em português de lei, estes contos são quase todos magníficos. Cinco estrelas. Publicou a Porto Editora.

terça-feira, 5 de junho de 2018

PSOE NA MONCLOA


Este é o núcleo duro do Governo do PSOE. De cima para baixo e da esquerda para a direita: Sánchez, o Presidente; Carmen Calvo, vice-presidenta, com os pelouros da Igualdade e das relações com a Corte; José Luis Ábalos, ministro do Fomento; María Jesus Montero, ministra da Fazenda; Teresa Ribera, ministra do Ambiente; Josep Borrell, ministro dos Negócios Estrangeiros; Margarita Robles, ministra da Justiça; Meritxell Batet, ministra da Administração Territorial; Pilar Cancela, ministra do Interior. Faltam outros nove.

Carmen Calvo, 60 anos (a partir de dia 7, quinta-feira), vice-presidenta, catedrática em Direito constitucional, tem sido responsável pelas políticas da Igualdade no PSOE. O novo MNE, Josep Borrell, 71 anos, várias vezes ministro, foi vice-presidente do Parlamento Europeu. É catalão anti-independência e um declarado inimigo de Puigdemont.

Clique na imagem de El País.

segunda-feira, 4 de junho de 2018

RACISMO NA FEIRA DO LIVRO


Não assisti, mas confio no relato de Bárbara Bulhosa. Sábado, um debate sobre racismo, organizado pela editora Tinta da China a pretexto do livro Racismo no País dos Brancos Costumes, da jornalista Joana Gorjão Henriques, foi sabotado por uma assalariada da APEL, de seu nome Beatriz Reis. Fardada com uma camisola da associação, a mulher referiu-se aos membros da mesa (Ana Tica, Beatriz Dias, Mamadou Ba, Raquel Rodrigues e a autora do livro) como «esta gente», várias vezes os interrompeu com comentários de mau gosto e, a dez minutos do final da sessão, interpelou Mamadou Ba, dirigente do SOS Racismo, com um intempestivo «Vê lá se te despachas!» A sessão terminou ali. A mulher continuou: «Com a Tinta da China é sempre isto, quem julgam que são?» Isto no meio de um «chorrilho de insultos». Abominável.

Bárbara Bulhosa apresentou queixa, naturalmente.

A foto foi roubada do seu mural do Facebook. Clique

sábado, 2 de junho de 2018

CATALUNHA SAI DO COMA?

Pondo fim a sete meses de vazio, tomaram hoje posse em Barcelona os membros do executivo autonómico da Catalunha, chefiado por Quim Torra. A cerimónia ocorreu duas horas depois da posse do novo Presidente do Governo de Espanha. Com a entrada em funções do novo Govern, cessou a aplicação do artigo 155 da Constituição. Foram empossados: Pere Aragonès, Elsa Artadi, Àngels Chacón, Ernest Maragall, Miquel Buch, Josep Bargalló, Alba Vergés, Damià Calvet, Laura Borràs, Ester Capella, Chakir El Homrani, Jordi Puigneró e Teresa Jordà. O Govern está neste momento reunido, naquela que é a primeira reunião do executivo catalão desde 24 de Outubro de 2017.

SEM BÍBLIA & CRUCIFIXO


Na presença do rei, Sánchez tomou hoje posse como Presidente do Governo de Espanha (cargo que exerce, de facto, desde ontem). Ao contrário dos seus seis antecessores, Sánchez fez saber que não aceitava o exemplar da Bíblia e o crucifixo que tradicionalmente fazem parte dos adereços de cena. Era ele e a sua palavra, ponto. Nunca tal tinha acontecido na Zarzuela.

Clique na imagem de El País.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

ACABOU A SAGA?


A procuradoria-geral alemã instou o Tribunal Regional Superior de Schleswig-Holstein a extraditar imediatamente Puigdemont para Espanha, sob acusação de rebelião e desvio de fundos.

Clique na imagem do Bild.

DONE!


Com os votos do PSOE, mais os de PODEMOS, ERC, PNV, PDeCAT, Compromís, Bildu e Nueva Canarias, perfazendo um total de 180, a moção de censura foi aprovada. Rajoy caiu. Pedro Sánchez, 46 anos, economista, líder do PSOE, é o novo Presidente do Governo de Espanha desde as 10:29 desta manhã, hora portuguesa.

Clique na imagem de El País.

A HORA DE SÁNCHEZ


A menos que aconteça um imprevisto, o PSOE regressa hoje ao poder. Na pessoa de Pedro Sánchez, quem diria?, os socialistas são os senhores que se seguem na Moncloa. A votação da moção de censura tem início quando forem 10 horas em Portugal. Contrariamente ao que sucede entre nós, em Espanha, a vitória de uma moção de censura (e todas chumbaram até hoje) obriga o proponente a constituir e chefiar novo Governo. A ver vamos.

quinta-feira, 31 de maio de 2018

RAJOY CAI MESMO


Os nacionalistas bascos do PNV desfizeram o tabu: vão votar favoravelmente a moção de censura do PSOE, que começou hoje a ser debatida nas Cortes. Desfeita a dúvida, Rajoy cai mesmo. O actual primeiro-ministro abandonou o hemiciclo assim que Aitor Esteban, porta-voz do PNV, anunciou o sentido de voto do seu partido. Pedro Sánchez, líder do PSOE, assumirá imediatamente o cargo de primeiro-ministro. O que ainda não se sabe é se Sánchez tenciona marcar eleições para daqui a três meses, como pretende Rivera, o líder de Ciudadanos dado como vencedor em todas as sondagens, ou se vai ficar os dois anos que faltam para terminar a legislatura.

Imagem de El País, com gráfico da votação de amanhã. Clique.

AEROPORTO DE LISBOA


Anda toda a gente muito entusiasmada com o turismo. Mas esta galinha de ovos de ouro tenderá a virar múmia se o Governo não romper o tabu do novo aeroporto de Lisboa. Nos anos de Sócrates, a Direita conseguiu mobilizar a opinião pública contra o aeroporto da Ota, que não era, de facto, a localização ideal. Mas em Janeiro de 2008 havia consenso para fazer o novo aeroporto em Alcochete.

Estavam de acordo o LNEC, a CIP, a Ordem dos Engenheiros, os peritos em ambiente e todas as entidades institucionais ligadas ao turismo. Alcochete custaria menos três mil milhões de euros do que a Ota, tendo a vantagem suplementar de ficar a 20 minutos do centro de Lisboa. Abandonar o projecto foi um erro.

Sendo uma alternativa canhestra, o Montijo é preferível a coisa nenhuma. Mas tem de ser já. Em 2017, a Portela movimentou 27 milhões de passageiros. O 1.º trimestre de 2018 fechou com um significativo aumento em relação a igual período do ano passado. No Verão não vamos poder aceitar centenas de voos, conforme esclareceu a ANA. É isso que querem?

Na imagem, o projecto do Montijo. Clique.

quarta-feira, 30 de maio de 2018

MÁRIO CLÁUDIO


O retrato do autor na capa do livro faz supor que as Memórias Secretas a que reporta o título sejam as de Mário Cláudio (n. 1941). Errado. Trata-se de um conjunto de ficções elaboradas a partir das ‘biografias’ de três personagens de banda desenhada: Corto Maltese, Bianca Castafiore e o Príncipe Valente. O conseguimento releva do consabido à-vontade com que Cláudio manipula o género. Parece-me pleonástico enumerar os romances-biografia que fizeram a fama do autor, por regra inspirados em terceiros, casos de, entre vários outros, Amadeo de Souza-Cardoso e Camilo Castelo Branco, ou na sua própria pessoa, caso de Astronomia, engenhosa autobiografia dada à estampa em 2015.

Memórias Secretas retoma o processo. Numa escrita desenvolta, pontuada por envios ora culturalistas ora populares, Cláudio refaz os universos de Pratt, Hergé e Foster, intrometendo-se no plot em nome próprio e registo memorialístico, porventura efabulado, nas introduções a cada uma das três secções do romance.

Bianca é um prodígio de ironia. Sirva de exemplo a imagem do primeiro vagido da Castafiore, «lancinante como uma sirene que profetizasse o rebentamento próximo da Grande Guerra…», cruzando-se com o de Tito Gobbi, «ressonante como o dobre a finados» da Itália. Imaginar o pirata Jack Rackham, o Terrível, reduzido a fricassé pelo chevalier François d’Haddock, é outro exemplo da imaginação delirante do autor.

Como sucede na transcrição das memórias do Rouxinol de Milão, também as efabulações de Corto e do Valente dão azo a textos de prosa escarolada. Cláudio suspende as personagens no tempo, sem com isso lhes retirar actualidade, ao mesmo tempo que conduz bem a narrativa autodiegética. Sendo o principal traço distintivo da obra a sua capacidade de transfigurar a realidade, e outra coisa não se espera de um escritor, veja-se o capítulo ‘A Borla do Pó-de-Arroz’. Em época de rarefacção vocabular, deve sublinhar-se o mérito de recaptura da língua portuguesa. Pode ser que muitos jovens desconheçam o significado de tísica, passamanarias, chufas, alfobre, decúbito dorsal, gorgomilos, etc., e não virá mal ao mundo, antes pelo contrário, se considerarem útil socorrer-se de dicionário. Cinco estrelas. Publicou a Dom Quixote.

VERGONHA

Podemos extinguir a PIDE mas a PIDE continua activa no ADN de milhões de portugueses. Hoje, a capa do jornal i é uma vergonha. Era o que faltava não podermos dizer em voz alta o que pensamos.

Muito estranha a concepção de democracia destes jornaleiros.

terça-feira, 29 de maio de 2018

EUTANÁSIA

Foram chumbados os quatro projectos-lei discutidos e votados hoje no Parlamento. Um deputado faltou à votação. Os deputados do PCP e do CDS foram os únicos a votar contra todos os projectos. O deputado do PAN e os deputados do BE foram os únicos a votar a favor de todos os projectos.

Seguem-se os resultados obtidos por cada projecto-lei.

PS
115 contra
110 a favor
4 abstenções

BE
117 contra
104 a favor
8 abstenções

PEV
117 contra
104 a favor
8 abstenções

PAN
116 contra
102 a favor
11 abstenções

segunda-feira, 28 de maio de 2018

VIDA


Não sou militante do PS, mas votei sempre no PS, com três excepções: nas autárquicas de 1982 (vivia em Cascais, votei em Helena Roseta contra o actor que o PS apresentou) e 2005 (vivia em Lisboa, votei branco, contribuindo para a derrota de Manuel Maria Carrilho), bem como nas presidenciais de 2016, ocasião em que apoiei publicamente e votei em Marisa Matias.

Em 2009 fiz parte do grupo de intelectuais e artistas que apoiaram António Costa para a presidência da Câmara de Lisboa. Em 2014 inscrevi-me para as directas do PS, votando Costa contra Seguro. Não me arrependi de nenhuma destas opções. Estou muito satisfeito por ter António Costa como primeiro-ministro, de cuja comissão de honra faço parte.

Isto dito, estou à-vontade para dizer o que penso.

E penso que o actual Governo, vencedor em domínios importantes como o défice, a dívida pública, o emprego, a descompressão da sociedade portuguesa e o respeito internacional, não pode continuar a olhar para o Serviço Nacional de Saúde como uma prioridade de segunda linha.

Entre 2011 e 2015, o Governo PSD/CDS tentou fazer do SNS uma obra assistencial, vocacionada para pessoas com rendimento inferior ao indexante de apoios sociais (429 euros mensais). Os outros, os que pagam impostos, teriam de recorrer à medicina privada. O actual Governo estancou a hemorragia, mas não repôs o valor do desfalque acumulado. Pior: a área dos Cuidados Continuados colapsou em 2011 e, aparentemente, ninguém se preocupa com o facto. Unidades prontas (edifícios e equipamentos) continuam fechadas há sete anos. Não pode ser. Temos uma carga fiscal de nível dinamarquês e uma rede de cuidados continuados que nos envergonha. Dois terços da população portuguesa não tem condições para suportar os cuidados continuados dos seus ascendentes. Convém não confundir cuidados continuados com asilos de morte.

No momento em que uma parte da classe política se prepara para votar a eutanásia, a omissão do Governo na área dos Cuidados Continuados é uma afronta. Não se admite.

A foto é de Margarida Martins. Mostra o momento do nosso (meu e de outros) encontro com António Costa em 2009. Clique.

COM AVAL DE BERLIM & BRUXELAS


Sergio Mattarella, o Presidente da República, não aceitou que Paolo Savona fosse ministro das Finanças e Economia no executivo chefiado por Giuseppe Conte. E Conte bateu com a porta, sob aplauso dos partidos que iriam formar Governo, a Liga e o 5 Stelle. Isto foi ontem.

Mattarella diz que não é um simples notário, e tem razão, mas o indigitado primeiro-ministro não gosta de ter um chefe de Estado temente a Berlim e Bruxelas, e tem duas vezes razão. O caos está instalado. Paolo Savona, o homem rejeitado pelo eixo Berlim/Bruxelas, é um economista de 81 anos que não gosta do euro, nem da UE.

Melodramático, Luigi Di Maio, 31 anos, vice-presidente da Câmara de Deputados e líder do 5 Stelle, vai propor o impeachment de Mattarella.

Entretanto, o senhor que se segue é Carlo Cottarelli, 64 anos, antigo director do FMI. Mattarella indigitou-o para formar Governo de gestão. Se o executivo passar no Parlamento, Mattarella compromete-se a convocar eleições antecipadas em 2019. Se chumbar, como se prevê, haverá novas eleições já em Outubro. Os dois partidos que até ontem tinham Governo pronto (a Liga e o 5 Stelle) prometem pôr Roma a ferro e fogo.

Na imagem, Carlo Cottarelli. Clique.