Não sou militante do PS, mas votei sempre no PS, com três excepções: nas autárquicas de 1982 (vivia em Cascais, votei em Helena Roseta contra o actor que o PS apresentou) e 2005 (vivia em Lisboa, votei branco, contribuindo para a derrota de Manuel Maria Carrilho), bem como nas presidenciais de 2016, ocasião em que apoiei publicamente e votei em Marisa Matias.
Em 2009 fiz parte do grupo de intelectuais e artistas que apoiaram António Costa para a presidência da Câmara de Lisboa. Em 2014 inscrevi-me para as directas do PS, votando Costa contra Seguro. Não me arrependi de nenhuma destas opções. Estou muito satisfeito por ter António Costa como primeiro-ministro, de cuja comissão de honra faço parte.
Isto dito, estou à-vontade para dizer o que penso.
E penso que o actual Governo, vencedor em domínios importantes como o défice, a dívida pública, o emprego, a descompressão da sociedade portuguesa e o respeito internacional, não pode continuar a olhar para o Serviço Nacional de Saúde como uma prioridade de segunda linha.
Entre 2011 e 2015, o Governo PSD/CDS tentou fazer do SNS uma obra assistencial, vocacionada para pessoas com rendimento inferior ao indexante de apoios sociais (429 euros mensais). Os outros, os que pagam impostos, teriam de recorrer à medicina privada. O actual Governo estancou a hemorragia, mas não repôs o valor do desfalque acumulado. Pior: a área dos Cuidados Continuados colapsou em 2011 e, aparentemente, ninguém se preocupa com o facto. Unidades prontas (edifícios e equipamentos) continuam fechadas há sete anos. Não pode ser. Temos uma carga fiscal de nível dinamarquês e uma rede de cuidados continuados que nos envergonha. Dois terços da população portuguesa não tem condições para suportar os cuidados continuados dos seus ascendentes. Convém não confundir cuidados continuados com asilos de morte.
No momento em que uma parte da classe política se prepara para votar a eutanásia, a omissão do Governo na área dos Cuidados Continuados é uma afronta. Não se admite.
A foto é de Margarida Martins. Mostra o momento do nosso (meu e de outros) encontro com António Costa em 2009. Clique.