terça-feira, 13 de julho de 2021

CULTURA VS PATRIMÓNIO

A minha recente visita a Tomar deu azo a que publicasse no Facebook fotografias do património histórico da cidade. Uma delas, da Janela do Capítulo (Convento de Cristo), gerou uma onda de indignação. A «incúria» da Direcção-Geral do Património Cultural foi apontada, por quase toda a gente, como causa do «estado miserável, vergonhoso, etc.» da referida janela.

Onde é que eu quero chegar? Quem me conhece, ou simplesmente lê o que escrevo à margem da literatura — entre 2005 e 2011 este blogue foi dos mais lidos —, sabe que discordo da existência de ministérios da Cultura, coisa muito apreciada em França, na antiga URSS, em Cuba, na China e afins. Digo-o com o à vontade de quem é ou foi (alguns morreram) amigo de vários titulares do cargo. Um deles, na primeira entrevista que deu após a posse, até me citou a esse respeito. Adiante.

Manda a verdade dizer que o interior do Convento de Cristo se encontra em muito bom estado de conservação. Mas não é isso que me interessa.

Como em tudo na vida, não podemos comer o bolo e ficar com ele. Ou há dinheiro para apoiar o teatro, o cinema, a música, as bolsas de criação literária, as artes performativas, as mil e uma Fundações culturais que existem de Norte a Sul do país, os arraiais temáticos, etc., ou para restaurar e conservar o Património. Para as duas coisas nunca houve: uns remendos aqui, outros ali, queixas de todos os lados.

Enquanto não houver um ministério do Património, com orçamento adequado, o pouco dinheiro do ministério da Cultura terá como prioridade subvencionar, em registo de esmola (ou seja, em termos análogos aos do rendimento social de inserção), um reduzido núcleo de actores, encenadores, músicos, bailarinos, cineastas, performers, etc., negligenciando museus — o MNAA e o MNAC já têm catálogo? —, monumentos, igrejas, bibliotecas públicas, palácios de reconhecido interesse histórico, castelos, pelourinhos, aquedutos (o de Pegões nem sinalizado está), pontes romanas, edifícios classificados, etc. Para tudo não há.

A opção é justa: entre pessoas e pedras, primeiro estão as pessoas. Mas temos de saber, com clareza, aquilo que queremos.