O que está a passar-se com as vacinas é intolerável. Não me refiro às deploráveis negociatas das grandes farmacêuticas internacionais. Falo da situação portuguesa. Alegadamente, cerca de 500 pessoas foram vacinadas ao arrepio do plano nacional de vacinação, dois terços das quais já com as duas doses.
De Norte a Sul, autarcas, dirigentes de serviços públicos, administradores hospitalares, etc., fizeram-se vacinar a si próprios e às respectivas famílias (mais amigos, vizinhos, maids e outros profissionais sob sua tutela) com total impunidade. É uma vergonha.
Convinha que Francisco Ramos, responsável máximo pelo Plano Nacional de Vacinação, esclarecesse o país acerca do aparente desacerto ente o seu plano e a realidade.
Os que agiram à margem do estabelecido fizeram-no em nome da “autonomia” de que se julgam investidos? (Sobre a melindrosa gestão do SNS, a ministra da Saúde referiu mais de uma vez a dificuldade em lidar com as “autonomias” corporativas que emperram as decisões.) Fizeram-no porque consideram o nepotismo um direito adquirido? Por estupidez? Por desrespeito pela comunidade? Porque as normas não são taxativas? As listas de vacinação são nominais, como deviam ser, ou ficam ao critério do capataz do sítio? O baronato da medicina tem direito a quotas privadas para o seu inner circle...?
Se a Assembleia da República, que é um órgão de soberania, teve que entregar a lista nominal dos 36 deputados e dos funcionários considerados prioritários, por que carga de água cada dose das vacinas distribuídas não tinha um nome indexado?