domingo, 17 de maio de 2020

JOSÉ CUTILEIRO 1934-2020


Morreu hoje em Bruxelas o embaixador José Cutileiro, que não terá um obituário à altura daqueles que durante anos a fio escreveu no Expresso sobre personalidades da política, da diplomacia, da ciência, das artes, dos negócios, do beau monde, etc., não necessariamente as que davam azo a manchetes.

Por força da profissão do pai, médico ao serviço da OMS, Cutileiro passou a infância em países tão diferentes como a Suíça, a Índia e o Paquistão.

Em Lisboa frequentou a Escola Superior de Belas-Artes e a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa mas, depois de abandonar os estudos de arquitectura e medicina, partiu para Inglaterra, onde se doutorou em antropologia social, tornando-se fellow do St Antony’s College de Oxford e, a seguir, docente da London School of Economics.

Ingressou na carreira diplomática em 1974, como conselheiro cultural na embaixada de Portugal em Londres. Entre os vários postos que ocupou, contam-se os de representante permanente de Portugal junto do Conselho da Europa, embaixador de Portugal em Maputo, director-geral dos Negócios Político-Económicos do ministério dos Negócios Estrangeiros, coordenador da Conferência de Paz para a Jugoslávia (1992) e secretário-geral da União da Europa Ocidental. Como diplomata, integrou as equipas que negociaram a entrada de Portugal na CEE.

Criou como alter-ego a personagem de Alfred Barnaby Kotter, o aristocrata inglês que a partir de sua casa em Colares discreteava sobre o Portugal pós-revolucionário. Em 2007, a Assírio & Alvim reuniu essas crónicas (1982-1998) no volume Bilhetes de Colares, de A. B. Kotter, o mais conhecido dos nove livros que publicou, laureado com o Grande Prémio de Crónica da Associação Portuguesa de Escritores.

Tinha 85 anos e estava hospitalizado.