domingo, 4 de agosto de 2019

NONSENSE


A pretexto da sua saída da Câmara de Lisboa, o arquitecto Manuel Salgado deu uma entrevista de oito páginas ao Expresso. A partir do link de outro jornal, centrado numa única afirmação, as redes sociais entraram em polvorosa.

O argumento de Salgado deixou-me estupefacto. Não faz sentido argumentar com a volumetria do novo Hospital da CUF.

O edifício Pedro Álvares Cabral, de João Simões Antunes, que abriga hoje a Fundação Oriente, bem como a correnteza dos antigos armazéns frigoríficos do bacalhau (obras de 1939), têm a mesma volumetria. Se há parede contra o rio, ela existe há 80 anos. O novo hospital é só mais um.

Foi um erro construir um hospital ali, numa zona de estrangulamento rodoviário. Já o escrevi há um ano. Mas o erro tem que ver com a natureza do uso intensivo do futuro hospital. A volumetria não belisca o local. Argumentar com a privação de “vistas” a partir do Miradouro das Necessidades é puro nonsense. No auge da polémica fui de propósito ao miradouro e pude ver tudo o que há para ver, rio incluído.

Aliás, nos terrenos que vão dos barracões do LxFactory até à Avenida da Índia, uma área de 4,3 hectares, começou (ou está para começar) a construção de onze edifícios de sete e oito pisos acima do solo, destinados a escritórios, comércio e habitação. A obra, que vai mudar a face de Alcântara, é do arquitecto Frederico Valsassina.

Em doze anos, Salgado mudou a imagem de Lisboa. A cidade degradada e suja dos anos 1990 está hoje muito melhor. Tomou decisões menos felizes? Claro que sim. Mas o saldo é largamente positivo. O arrependimento pela volumetria do hospital é um acto falhado. O erro está em ter um hospital ali. O resto são frioleiras.

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