Existe um mistério em Portugal, acentuado pelo descaso do Estado, a abulia dos trabalhadores e a indiferença dos media, para quem a questão é um não-assunto.
Como sobrevivem os reformados da Segurança Social entre o momento em que, por vontade própria ou imposição da Lei, entram na situação de reforma, e o momento em que começam a receber a pensão a que têm direito?
A pergunta não é retórica. E também se aplica aos que, por morte do cônjuge, têm direito a pensão de sobrevivência.
Neste momento, o intervalo é de um ano. UM ANO. Como é que, durante doze meses, sobrevive o trabalhador na situação de reforma sem pensão atribuída? Ou o cônjuge sobrevivo?
Como é que essas pessoas honram os encargos com a habitação, com os fornecedores de água, electricidade e gás, com os operadores de comunicações fixas, móveis e de internet, com o Serviço Nacional de Saúde (as taxas moderadoras não foram abolidas, as consultas não são gratuitas), com o uso de medicina privada, com a farmácia, com os seguros obrigatórios, com as despesas dos ascendentes a cargo, com a Autoridade Fiscal, com a alimentação? Como? Alguém me consegue explicar?
A bengada do cônjuge que continua no activo, ou já tem pensão atribuída, não serve de argumento. E quem não tem cônjuge?
Verdade que o pagamento dos retroactivos está garantido, mas isso não resolve a questão.
Um grande mistério.
Um grande mistério.
Algumas grandes empresas (muito poucas) têm fundos de reforma. Continuam a pagar aos trabalhadores como se estivessem no activo, efectuando o acerto no momento em que a Segurança Social liberta a pensão. Mas isso não acontece em 99% do mundo laboral.
Como é, então? Como é que esta situação ainda não provocou tumulto geral?