Hoje, Dia Mundial da Poesia, quero lembrar Luiza Neto Jorge (1939-1989), mulher e poeta maior, sem salões, sem genealogia no Gotha, mas senhora de Obra ímpar.
O POEMA ENSINA A CAIR
O poema ensina a cair
sobre os vários solos
desde perder o chão repentino sob os pés
como se perde os sentidos numa
queda de amor, ao encontro
do cabo onde a terra abate e
a fecunda ausência excede
até à queda vinda
da lenta volúpia de cair,
quando a face atinge o solo
numa curva delgada subtil
uma vénia a ninguém de especial
ou especialmente a nós uma homenagem
póstuma.
[in O Seu a Seu Tempo, 1966]