A RTP transmitiu ontem uma reportagem muito oportuna sobre as previsíveis consequências do Brexit na Irlanda do Norte, ou seja, nos condados que fazem parte do Reino Unido mas mantêm fronteira aberta com a República da Irlanda.
Depois de trinta anos (1968-98) de conflito sangrento, ninguém quer voltar ao passado. Só depois do Good Friday Agreement, assinado a 10 de Abril de 1998, é que a situação normalizou. Duas gerações nasceram depois do fim da guerrilha entre os separatistas e Londres. Mas os católicos continuam a querer juntar-se à República, enquanto os anglicanos permanecem fiéis a Sua Majestade. Tudo isto é de meridiana clareza.
Portanto, não se percebe a insistência na aprovação do Acordo entre a UE e o Reino Unido.
O Acordo protege a economia europeia, é verdade. Mas há muito que a economia passou a ser sinónimo de interesses financeiros globais de meia dúzia de grandes bancos e fundos soberanos, para os quais as pessoas comuns são números.
O não-Acordo, ou hard Brexit, vai com certeza causar empecilhos no imediato, mas tem a enorme vantagem de impedir o regresso dos velhos fantasmas da guerrilha urbana.