Os portugueses, e foram muitos, que andaram a dizer que na Islândia é que era bom, deviam reflectir nas consequências do populismo. Em 2013, elegeram Sigmundur Davío Gunnlaugsson para resgatar a honra perdida do país. Anteontem descobriram que Gunnlaugsson, o primeiro-ministro “impoluto”, depositou milhares de milhões em offshores. Veio de onde, esse dinheiro? Gunnlaugsson teve que fugir de uma conferência de imprensa que estava a ser transmitida em directo. E a população exige eleições imediatas.
Gunnlaugsson não é o rei da Arábia Saudita, nem sequer Putin. Gunnlaugsson é o primeiro-ministro de um país com menos população que o concelho de Sintra. Gunnlaugsson é o primeiro-ministro de um país cuja dívida, em 2008, representava 900% (novecentos!) do PIB. Gunnlaugsson é o primeiro-ministro de um país que declarou falência porque os seus três maiores bancos (Glitnir, Landsbanki e Kaupthing) colapsaram. A simples lembrança da onda de puritanismo que então se verificou, ainda hoje provoca náuseas. Há portanto uma espécie de justiça poética na revelação de que Gunnlaugsson e o senhor Platini são farinha do mesmo saco.