sábado, 9 de abril de 2016

CULTURA & ESTADO

Ando há mais de dez anos a bater na mesma tecla: não faz sentido existir ministério (ou secretaria) da Cultura. Disse-o dezenas de vezes aqui no blogue, repeti em entrevistas e programas de televisão, creio que já abordei o assunto no Facebook, e até fui citado a esse respeito por um dos titulares do cargo. Ninguém concorda. Estou sozinho. Do meu ponto de vista, um ministro ou secretário da Cultura fará sentido na Coreia do Norte ou no Zimbabwe. Adiante. Em seu lugar deveriam coexistir dois Institutos, com autonomia administrativa e financeira, um com a tutela do Património, outro com a tutela das Artes. O argumento do Conselho de Ministros não me comove.

Não compete a um membro do Governo decidir se o dinheiro vai para o filme A e não para o filme B, para a companhia de teatro C ou D, para o músico E ou F, se é fulano ou beltrano que representa o país nas bienais de Veneza ou no Festival de Edimburgo, e por aí fora. Temos aliás um exemplo: o Instituto Camões, tutelado pelo ministério dos Negócios Estrangeiros, e não pela Cultura, é a entidade que decide os apoios do Estado às traduções de obras de autores nacionais, as idas de escritores ao estrangeiro, etc. Isto não tem nada a ver com as capacidades profissionais de algumas das dezenas de personalidades de todos os sexos que, nos últimos 42 anos, ocuparam os cargos de ministro, secretário ou subsecretário de Estado da Cultura. Disse.