quinta-feira, 12 de novembro de 2015

ANTONIO SKÁRMETA


Hoje na Sábado escrevo sobre O Carteiro de Pablo Neruda, do chileno Antonio Skármeta (n. 1940). Não é vulgar que o sucesso de um filme mude o título do livro que lhe deu origem. Mas foi o que sucedeu com este. O êxito do filme de Michael Radford foi de tal ordem que, a partir de 1994, Ardente Paciência (1985) passou a publicar-se como El Cartero de Neruda. No prólogo, Skármeta confessa ter levado catorze anos a escrever a história de Mario Jiménez, o filho de pescador que decide tornar-se carteiro, explicando as razões que o levaram à Ilha Negra. Tudo começa em 1969, época em que a contestação popular ao governo de Eduardo Frei Montalva prenunciava a chegada ao poder de Salvador Allende, «o primeiro marxista votado democraticamente» e grande amigo de Neruda. Ao contrário da lenda, o livro nada tem de naïf. Vencido pelo cancro, Neruda morreu doze dias depois do golpe de Pinochet, estando a dupla dimensão de poeta e activista no centro da intriga. Por seu turno, a relação peculiar que se estabelece entre o carteiro e o poeta que em 1971, em plena vigência do governo de unidade popular, recebeu o Prémio Nobel da Literatura, acrescentou à novela uma aura simbólica. Três estrelas e meia.