quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

EMMA GOLDMAN


Hoje na Sábado

Nenhum balanço do século XX pode ignorar Emma Goldman, que em 1931 publicou uma densa autobiografia — Viver a Minha Vida — só agora traduzida em Portugal. Mas quem foi esta mulher que o activismo anarquista, longe dos corredores académicos, fez filósofa política?

Nascida na Lituânia no seio de uma família judaica, Emma tinha dezasseis anos quando foi para os Estados Unidos, fixando-se primeiro em Rochester e anos mais tarde em Nova Iorque, cidade onde fez a sua formação junto das comunidades de imigrantes russos e alemães. Piotr Kropotkin, teórico do anarco-comunismo, seu amigo, foi uma permanente fonte de inspiração.

Viver a Minha Vida começa exactamente assim: «Foi em 15 de Agosto de 1889 que cheguei a Nova Iorque, tinha vinte anos.» A partir daí nunca mais abandonou as causas em que acreditava. Os motins de Haymarket, em Chicago, desencadeados pela jornada de oito horas de trabalho, foram o ponto de partida para uma vida pontuada por incidentes. Um dos primeiros foi a tentativa de assassinato do coleccionador de arte Henry C. Frick, perpetrada (1892) por Alexander Berkman, seu amante. Berkman foi preso, mas depois de sair da prisão ajudou-a a fundar a revista Mother Earth, que se publicou até serem ambos presos e deportados para a Rússia.

Porém, a pátria dos sovietes não era lugar indicado para uma defensora pública da liberdade de expressão, da independência das mulheres, dos direitos laborais, das lutas sindicais, da objecção de consciência, do controlo da natalidade, do amor livre, da homossexualidade, etc. Dois anos perdidos. A forma como Moscovo esmagou a revolta de Kronstadt, que opôs marinheiros anti-bolcheviques a Lenine, levou-a a sair do país e a escrever (1923-24) dois livros sobre o desapontamento que lhe causara a Mãe Rússia. A partir de então foi alvo de ataques por parte do movimento comunista internacional. Para os camaradas, Emma Goldman fizera apostasia.

Após temporadas em vários países europeus e no Canadá, estabeleceu-se em Saint-Tropez em 1928. Precisava de tranquilidade para a sua autobiografia mas também para escrever uma biografia de Voltairine de Cleyre. Apoiante declarada da Espanha republicana, nada sabemos desses anos fatais, posteriores à redacção de Viver a Minha Vida.

Emma Goldman morreu em Toronto, pouco antes de completar 71 anos. Mas, como desejava, foi enterrada em Chicago junto às campas dos mártires de Haymarket.

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