quinta-feira, 30 de setembro de 2021

DIANA EVANS


Hoje na Sábado:

Ajusta-se perfeitamente a Pessoas Comuns, de Diana Evans, a máxima de Tolstói: cada família infeliz é infeliz à sua maneira. A meia-idade é um período fértil em desacertos conjugais e é deles que o romance trata. Não esquecer que, mesmo de viés, o fracasso do casamento de Diana com o príncipe Carlos paira sobre o seu livro de estreia, o premiado 26a, de 2005.

Filha de pai inglês e mãe nigeriana, Diana Evans nasceu (1972) na Inglaterra mas passou parte da infância na Nigéria. Neste livro, o terceiro que publica, pretende fazer uma grande angular sobre a classe média negra britânica. Tudo começa na festa de sábado à noite dada pelos irmãos Wiley, na sua casa do sudeste de Londres, para celebrar a eleição de Obama. Os convidados, gente glamorosa e bem-sucedida, são advogados, jornalistas, actores e políticos da comunidade negra. Isto coincide com o facto de Wall Street ter arrastado o mundo para o crash de 2008. A partir da realidade concreta da capital britânica, Evans ilustra esse microcosmo de forma minuciosa: «Não paravam de chegar, homens de boa disposição e sapatilhas no ponto, mulheres com diferentes graus de cabelo postiço […] como sócias de Beyoncé.» Sublinhar que o romance progride ao som de playlist adequada (começa logo no título), onde não falta Michael Jackson, cuja morte fecha o livro.

Melissa, a personagem mais forte, é uma jornalista freelance residente na área de Crystal Palace. Entedia-se com as rotinas domésticas como acontece com a maioria das mulheres (e homens) da sua geração que têm uma profissão absorvente. Nada de extraordinário. O melhor do livro acaba por ser o tour d’horizon pela Grande Londres gentrificada, vista a partir das duas margens do rio, num périplo que se estende a Dorking, trinta quilómetros a Sul. ‘Exilado’ no Surrey por vontade da dona de casa convencional com quem casou, Damian, um aspirante a escritor cujo pai fora um conhecido activista negro, sonha com a Londres da sua vida de solteiro. Denominador comum aos casais retratados, a incomunicabilidade e o tédio de vidas que chegaram ao ponto de não retorno, após crises de identidade, equívocos embaraçosos e ocasional adultério. Terá sido pelo facto de tentarem decalcar o padrão de vida dos homens e mulheres que alimentam a imprensa cor-de-rosa? Mas Torremolinos, onde fazem férias, não é exactamente um destino trendy.

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