quinta-feira, 12 de agosto de 2021

MAHFOUZ


Traduzido directamente do árabe por Badr Hassanein, Entre os Dois Palácios, do egípcio Naguib Mahfouz (1911-2006), abre a famosa Trilogia do Cairo, publicada trinta anos antes do Nobel ter dado visibilidade planetária ao autor e à literatura árabe. Foi Jackie Kennedy quem, como editora da Doubleday, comprou os direitos da obra em língua inglesa.

Dividido em 71 capítulos breves, Entre os Dois Palácios centra-se no quotidiano de uma família da pequena-burguesia cairota, entre o decurso da Primeira Guerra Mundial e as sequelas da Revolução Egípcia de 1919 contra o domínio britânico. O patriarca, Ahmad Abdel Gawward, é um comerciante devoto, autoritário, alcoólatra e devasso. O plot realça a identidade cultural do Islão, por oposição a práticas ocidentais. Cada membro da família ilustra uma sensibilidade política diferente, estando a narrativa impregnada de tradição, sexo, drogas, contradições, desobediência e abuso. Nenhum dos cinco filhos, duas raparigas e três rapazes, aceita a intolerância do pai, um libertino dominador para quem a moral islâmica só tem validade dentro de casa (e com os seus). Os irmãos não se entendem, excepto no amor pela mãe, denominador comum. Em pano de fundo, a vida dos bairros populares do Cairo, incluindo os motins contra o regime de Propectorado que a todos oprime.

Frequentemente comparado a Dickens, cuja obra conhecia bem, Mahfouz foi uma personalidade discreta da vida literária egípcia. Nascido no seio de uma família pobre, fez estudos de filosofia, foi funcionário público (um dos lugares que ocupou foi o de director do gabinete de censura ao cinema), colaborou na imprensa, casou tarde e raramente viajou. Era assessor do ministro da Cultura quando decidiu ser escritor a tempo inteiro.

Escreveu perto de quarenta romances, centenas de contos, quatro peças de teatro, uma autobiografia e diversos guiões para filmes, mas nenhum a partir de obras suas, dezenas das quais foram adaptadas ao cinema. Em 1994, por causa de um folhetim sobre religiões monoteístas, publicado em 1959 no jornal Al-Ahram, foi vítima de tentativa de assassinato. Apunhalado no pescoço, sobreviveu, mas precisou de protecção policial até morrer. Após a morte de Mahfouz, Children of Gebelawi foi finalmente editado em livro no Egipto (no Líbano circulava desde 1967), acentuando a passagem do realismo social para as questões da fé, escolha que colocou o autor em conflito com as autoridades religiosas.

Publicou a E-Primatur.

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