Fundado a 6 de Março de 1921, antes portanto da existência formal da URSS, o Partido Comunista Português foi a mais importante força de oposição ao Estado Novo.
Ao contrário dos partidos maoistas ou aparentados, surgidos nos anos 1960, cujos activistas mais destacados desaguaram quase todos no PPD/PSD e na Goldman Sachs, o PCP tem conseguido manter uma assinalável coerência.
Gostava de ler uma História do PCP feita com rigor científico, sem preconceito de qualquer índole, e tenho pena que o centenário não tenha sido pretexto bastante (não será por falta de historiadores, porque, a avaliar pela imprensa, são às centenas). Há muitos esqueletos no armário, o mais embaraçoso dos quais Júlio Fogaça, o líder homossexual que esteve dezoito anos na prisão, alguns deles no Tarrafal. Expulso do Partido em Janeiro de 1960, Fogaça foi rasurado da narrativa oficial.
Verdade que existe a excelente biografia de Cunhal feita por Pacheco Pereira, mas os quatro volumes publicados (entre 1999 e 2015) vão só até Setembro de 1968, ou seja, até à queda de Salazar. Tendo Cunhal falecido em 2005, continua por contar — com a minúcia e suporte documental que caracterizam os volumes disponíveis — a história do Partido durante o marcelismo e nos primeiros 30 anos de democracia.
Isto dito, cem anos são cem anos. Não vale a pena assobiar para o lado.
Imagem: detalhe de um folheto do Avante. Clique.