domingo, 28 de fevereiro de 2021

SENA


UM POEMA POR SEMANA — Para hoje escolhi Camões Dirige-se Aos Seus Contemporâneos, de Jorge de Sena (1919-1978), nome maior do século XX português. O poema foi escrito no Brasil, país onde Sena viveu entre 1959 e 1965 e lhe nasceram dois dos nove filhos.

Poeta, romancista, contista, dramaturgo, ensaísta, crítico, historiador da Literatura, especialista em Camões e Pessoa, tradutor de Kavafis, Dickinson e outros, organizador de antologias, professor de literatura, intelectual público, Sena nasceu em Lisboa a 2 de Novembro de 1919, falecendo em Santa Bárbara, na Califórnia, a 4 de Junho de 1978. Tinha 58 anos.

Antes de ingressar na Escola Naval, foi aluno de Rómulo de Carvalho (o poeta António Gedeão) no Liceu Camões, de Lisboa. Após uma viagem no navio-escola Sagres, entre Outubro de 1937 e Fevereiro de 1938, foi expulso da Marinha de Guerra. Sob o pseudónimo de Teles de Abreu, publicou os primeiros textos em Março de 1939. O primeiro livro, Perseguição, saiu em 1942. Concluiu o curso de engenharia civil em Novembro de 1944.

Depois do serviço militar, ingressou no ministério das Obras Públicas e fez um estágio de engenharia em Inglaterra. Em 1949 casou com Maria Mécia de Freitas Lopes, irmã de Óscar Lopes.

Em 1955, a PIDE apreendeu As Evidências, rotulando o livro de subversivo e pornográfico. Em Março de 1959 envolveu-se no frustrado Golpe da Sé e, em Agosto, partiu com a família para o Brasil. Começou a dar aulas na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis (São Paulo), tendo, à margem da docência, sido director literário da Editora Agir, do Rio de Janeiro. Em paralelo, fez conferências, participou de congressos, colaborou largamente na imprensa e com os círculos anti-salazaristas no exílio.

Em 1960 publicou a primeira colectânea de contos, Andanças do Demónio. Tornou-se cidadão brasileiro em Março de 1963. Doutorou-se em 1964 com uma tese sobre Os Sonetos de Camões e o Soneto Quinhentista Peninsular. Em consequência da ditadura militar brasileira, instaurada em 31 de Março de 1964, foi demitido do ensino. Em Outubro de 1965, mudou-se com a mulher e os filhos para os Estados Unidos. Contratado pela Universidade do Wisconsin-Madison, transferiu-se mais tarde (1970) para a Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara. Era professor catedrático efectivo de Literatura Portuguesa e Brasileira desde 1967. Sucedem-se as viagens à Europa, onde participa em colóquios e congressos internacionais.

A 22 de Dezembro de 1968 tentou entrar em Portugal, mas foi detido pela PIDE na fronteira de Valencia de Alcántara. No mesmo dia, José Blanc de Portugal intercede junto de Marcello Caetano e, ao fim de poucas horas, concedem-lhe visto de entrada. Fica dois meses em Lisboa. Em Julho de 1972 visita Moçambique, proferindo três conferências em Lourenço Marques.

Antes de morrer publica três livros memoráveis: Conheço o Sal... e Outros Poemas (1974) e Sobre Esta Praia... Oito Meditações À Beira do Pacífico (1977), ambos de poesia, e os contos de Os Grão Capitães (1976). Em 1977 recebeu o prémio internacional de poesia Etna-Taormina e, a convite de Eanes, discursou na Guarda no 10 de Junho.

Da vasta bibliografia — cerca de cem títulos em todos os géneros, incluindo volumes de correspondência — faz parte o romance póstumo Sinais de Fogo, publicado em 1979.

A universidade portuguesa nunca foi capaz de lhe oferecer um lugar. Vindos da Califórnia, os seus restos mortais foram transladados para o Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, em Setembro de 2009. O centenário do seu nascimento foi assinalado em 2019 de forma parcimoniosa.

Escrito em 1961, o poema desta semana pertence ao livro Metamorfoses (1963). A imagem foi obtida a partir da 1.ª edição da obra, publicada pelo Círculo de Poesia da Livraria Morais Editora, de Lisboa.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny e Natália Correia.]