Não tenho paciência para cerimónias oficiais, sejam elas de que natureza forem. A coreografia é medíocre, os discursos não primam pela concisão e as citações de poetas são quase sempre despropositadas. Isto para dizer que, em 45 anos, terei assistido duas ou três vezes a breves passagens das sessões solenes do 25 de Abril.
Hoje foi diferente. Depois das tentativas de boicote, que juntaram gente de vária origem, decidi acompanhar a sessão. E não me arrependi.
Deputados eram 46, um por cada ano de democracia. Convidados não sei quantos eram, talvez fossem 40. Por motivos de saúde, Jorge Sampaio não pôde comparecer. Ramalho Eanes dividiu a tribuna com o cardeal-Patriarca de Lisboa.
Ferro Rodrigues, Presidente da Assembleia da República, começou por pedir um minuto de silêncio em memória dos portugueses falecidos devido à pandemia. Depois sublinhou o óbvio: «Desde 3 de Junho de 1976, a Assembleia da República está em pleno funcionamento. Hoje não foi excepção, hoje não é excepção. A liberdade não está só a passar por aqui, a liberdade é aqui e agora.»
Em seguida falaram deputados de todos os partidos. André Ventura, do CHEGA, quer uma nova República. Destaco Ventura como contraponto à hipocrisia de Telmo Correia, do CDS, que aproveitou a sessão para destilar bílis e fazer chicana. Os restantes cumpriram o protocolo com boas intenções e a tradicional língua de pau.
Por último falou o Presidente da República. De um longo discurso, destaco: «Seria vergonhoso não estar aqui a celebrar o 25 de Abril. Nunca hesitei um segundo. Seria inadmissível não fazer esta celebração. / Esta cerimónia foi um bom exemplo. Também vamos celebrar o 10 de Junho, o 5 de Outubro e o 1.º de Dezembro.»
Telmo Correia, do CDS, abandonou o hemiciclo antes de ouvir o hino nacional. Mas foi para o salão nobre da Assembleia fazer chicana com os media.
Em suma, um separar de águas muito útil.
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