sexta-feira, 1 de março de 2019

AGUSTINA POR ISABEL RIO NOVO


Por norma, não comento livros antes de sobre eles escrever em sede própria. Abro uma excepção para assinalar a publicação de O Poço e a Estrada, a biografia de Agustina Bessa-Luís escrita por Isabel Rio Novo. Porquê a excepção? Porque o livro é muito bom.

Em 503 páginas — sendo 80 de Notas e 7 de índice remissivo —, Isabel Rio Novo faz o retrato de uma vida. Que o tenha feito sem acesso aos arquivos pessoais de Agustina (a família recusou), facto que provavelmente explicará a ausência de portfolio fotográfico, e, mesmo assim, tenha atingido tamanho grau de conseguimento, dá a medida da seriedade da obra.

Escrita num registo de grande desenvoltura narrativa, trata-se de uma verdadeira biografia: factos, datas, endereços, nomes, genealogias, a figura tutelar do Pai, interditos, correspondência, entrevistas, depoimentos, equívocos e tensões familiares, petite histoire, zonas de sombra, milieu literário do Porto e de Lisboa, close reading da obra agustiniana, etc., nada fica de fora.

Conhecia algum do anedotário citado, mas foram-me grata surpresa as páginas dedicadas ao Norte, em especial à Póvoa dos anos 1930. Lê-se como um romance, mas não é um romance. É uma biografia como deve ser.

Eu teria acrescentado a bibliografia de Agustina, mas esse é o tipo de ‘falha’ que pode (e deve) resolver-se em próxima edição ou simples reimpressão.

O Poço e a Estrada suscita um problema: fica muito alta a fasquia para os outros títulos já anunciados (as biografias de Natália Correia, José Cardoso Pires, Herberto Helder, Amália, etc.) pela Contraponto. A ver vamos.