Vi ontem o debate entre Catarina Martins e Rui Rio. Ambos falaram em português, ignorando a língua de pau associada a estes rituais.
Mas não é o debate que me interessa. Continuo sem perceber a má-vontade generalizada contra Rio. Por sua causa, dizem, o PSD terá estagnado em 22 ou 23%. Mas com Passos Coelho chegaria no mínimo aos 30%. É um mistério.
Eu lembro-me. Apoiado por uma clique de economistas que hoje não dão um pio (o catastrofismo de Medina Carreira e do pessoal menor que fazia coro deu azo à vitória do PSD em 2015), Passos liderou uma coligação apostada em rasurar o 25 de Abril.
A tentativa gorada de alterar a Constituição, a doutrina do ir além da Troika (Catroga foi o Richelieu de serviço), a introdução da CES em todas as pensões, a sobretaxa de IRS, o brutal aumento da carga fiscal, o corte das pensões de reforma e aposentação, o corte de rendimentos dos funcionários públicos (mais horas de trabalho, doze salários por ano em vez de catorze), os cortes no Rendimento Social de Inserção, as privatizações a favor dos seus (como se viu na TAP e nos Correios), o congelamento de carreiras na Função Pública, o vale-tudo no arrendamento urbano consignado na Lei Cristas, o desinvestimento em obras públicas, a tentativa de privatizar a RTP, a tentativa de estabelecer um tecto para as pensões de sobrevivência, a tentativa de aumentar a TSU dos trabalhadores diminuindo a dos patrões, etc., tudo isso Passos fez, ou teria feito sem o travão do Tribunal Constitucional. Aparentemente, é disso que o povo do PSD gosta.
Isso explica a idolatria por Passos em detrimento da atrabílis contra Rio? O PSD não merece mais que 18 ou 19% (nada mau), mas a responsabilidade é do gang que apoiou Passos, não me parece que seja de Rio.