Hoje na Sábado escrevo sobre Os Dez Espelhos de Benjamin Zarco, o romance mais recente do ciclo sefardita de Richard Zimler (n. 1956). O Holocausto continua a ser um dos temas centrais da obra do autor. Trata-se de ficcionar a “culpa” sentida por Benjamin e seu primo Shelley, dois sobreviventes que carregam o peso desse acto de transgressão (a sobrevivência em si mesma). O ponto não é despiciendo: houve quem sobrevivesse aos campos e fosse morto no regresso a casa. Citado de passagem a pretexto da relação amorosa de George com Shelley, o pogrom de Kielce (Polónia), ocorrido em 1946, é eloquente. Para quem vê de fora, parece estranho, mas Zimler dilucida a questão, manipulando com desenvoltura as várias personagens e os tempos da história. Dividida em seis capítulos, a narrativa vai de 1944 a 2018. Uma das chaves encontra-se num manuscrito do século XVI que só na actualidade, depois de lido, esclarece parte do sentido do plot. A fechar, um glossário hebraico/português ajuda o leitor interessado nos interstícios da intriga. Quatro estrelas. Publicou a Porto Editora.