Descobri Fernando Lemos quando, em 1963, o Círculo de Poesia da Moraes reeditou Teclado Universal, cuja primeira edição, publicada em 1953 pelos Cadernos de Poesia, não conhecia. Mais tarde foram os extraordinários retratos de O’Neill, Cesariny, Sophia, Vespeira, Glicínia, Arpad & Vieira, Azevedo, Casais, Sena e tantos outros amigos. Não fotografo gente que não conheço bem. A vaidade que o Alberto de Lacerda tinha do retrato que ele lhe fizera. Uma parte da obra de pintor foi-me revelação em 2011, na Fundação Arpad-Vieira.
Ontem, finalmente, pude ver o filme que Jorge Silva Melo levou dez anos a completar — como, não é retrato?. E como valeu a pena! Auditório do CAM da Gulbenkian a rebentar de gente para oitenta minutos de pura magia.
À beira de completar 92 anos, Fernando Lemos é um prodígio de energia. Este homem que Portugal perdeu em 1953, o ano da partida para o Brasil (a convite de Jaime Cortesão), é uma figura incontornável das artes plásticas, também portuguesas, mas sobretudo brasileiras, porque os últimos 65 anos foram brasileiros. Acontece aos melhores: Maria Helena é francesa, Paula inglesa e Lemos brasileiro. Custa, mas é verdade. Não sei se o filme vai ser reposto em sala ou apenas na televisão. A maioria dos portugueses mais novos nunca ouviu falar de Fernando Lemos, fotógrafo excelentíssimo, artista plástico, resistente antifascista, homem de mil interesses. Era bom que o filme o resgatasse do nicho da memória dos happy few.
Imagem: Lemos fotografado por German Lorca. Clique.