quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

ERIC NEPOMUCENO


Hoje na Sábado escrevo sobre Bangladesh, Talvez, do brasileiro Eric Nepomuceno (n. 1948). O volume, que chegou agora à edição portuguesa, colige contos de livros anteriores do autor, jornalista e tradutor de renome que viveu exilado na Argentina durante os anos da ditadura militar brasileira. A um leitor atento não passarão despercebidas as oscilações de registo discursivo que moldam este conjunto de dezasseis narrativas breves. Persiste, no entanto, a ideia de um patchwork de notas avulsas. Dito de outro modo, de ‘rascunhos’. Veja-se o segundo texto, Dizem que ela existe. Trata-se, de facto, de cinco apontamentos para histórias a haver. O primeiro (sobre o medo da trovoada) cheio de possibilidades, e depois metafísica da porteira. Na segunda parte do livro, se assim se pode dizer, Coisas da Vida resgata o conjunto da toada soixante-huitard. É o texto mais conseguido, e mesmo assim não encontramos nele a garra semântica e o desembaraço transgressor da ficção brasileira. Ao contrário da polifonia que caracteriza os melhores dos seus pares, Nepomuceno tem uma escrita lisa. Ter uma escrita lisa não é defeito. O óbice é ter pouco para contar. Duas estrelas. Publicou a Porto Editora.