Há muito tempo que uma peça de teatro não me impressionava tanto como A Vertigem dos Animais Antes do Abate, do grego Dimítris Dimitriádis, em tradução de José António Costa encenada por Jorge Silva Melo. Os Artistas Unidos não podiam ter começado melhor a temporada 2017/18 do Teatro da Politécnica. Um halo de tragédia percorre o texto, onde bissexualidade, loucura, droga, crime, incesto e suicídio compõem um quadro de disfunção familiar levada ao limite. Porque tudo se passa no seio de uma família assombrada pela profecia de Filon (um admirável Américo Silva), o amigo maldito. Do elenco de nove actores gostaria de destacar os mais jovens, em especial João Pedro Mamede, que está a um passo de ser um nome de referência, bem como os de André Loubet e Pedro Baptista, ambos actuando nus durante boa parte do espectáculo. É evidente que o fundo sonoro, pontuado por excertos de Tchaikovski (1812), Verdi (o Dies irae do Requiem) e Offenbach (Barcarola e Can-Can), sublinha o dramatismo da dramaturgia. Muito boa a cenografia de Rita Lopes Alves. Não aconselhado a espíritos impressionáveis. Agora é esperar pelo juízo dos especialistas.
Clique na fotografia de João Gonçalves.