Hoje na Sábado escrevo sobre A História da Minha Mulher, de Milán Füst (1888-1967). Conhecido sobretudo como poeta, Füst é o autor deste romance de 1957 que agora chegou à edição portuguesa em tradução directa do húngaro de Ernesto Rodrigues. Inédito no nosso país, salvo um poema constante da antologia Rosa do Mundo, é provável que o livro suscite o interesse dos editores pela obra restante, teatro incluído. Infelizmente, parte importante do Diário foi destruída. O subtítulo, Apontamentos do Comandante Störr, remete para o fio da intriga. O narrador, Jacob, é um marinheiro holandês que não tem ilusões acerca da natureza do seu casamento: «Que a minha mulher me engana já eu suspeitava há muito.» É a primeira frase do livro e o tiro de partida para um longo monólogo interior acerca do adultério e da moral dissoluta de muitos europeus no período entre duas guerras. A escrita reflecte o ambiente decandentista de certos círculos (não esquecer que o narrador é um homem do mar que tirava desforço da infidelidade da mulher) boémios. Füst publicou o livro quinze anos depois de o ter concluído, na ressaca da fugaz contra-revolução anti-comunista de Outubro de 1956. Quatro estrelas. Publicou a Cavalo de Ferro.