sábado, 16 de julho de 2016

COUP d’ÉTAT NA TURQUIA

O que se passa, de facto, na Turquia? Eram 19:30 em Lisboa quando ontem se soube que os militares tinham ocupado o aeroporto internacional de Istambul, a televisão estatal e as pontes sobre o Bósforo. A Internet e as redes sociais foram bloqueadas. Foi imposta a Lei Marcial. Erdoğan estaria em parte incerta. Até se conjecturou que estava a caminho da Alemanha. Apareceu mais tarde num vídeo do FaceTime, incitando o povo a ir para a rua. Segundo ele, o golpe seria obra de um grupo minoritário das Forças Armadas, seguidores de Fethullah Gülen, um imã sunita de 75 anos, radicado nos Estados Unidos desde 1998.

Erdoğan e Gülen foram aliados até 2013, ano em que Gülen denunciou a corrupção da magistratura e do Estado turco. Dissidente declarado do AKP, entrou em rota de colisão com o regime. Mas Gülen fez um statement claro: «Condeno de forma veemente a tentativa de golpe militar na Turquia. Como alguém que que nas últimas cinco décadas foi vítima de golpes militares, é especialmente insultuoso ser acusado de ligação com estes acontecimentos. Nego categoricamente tais acusações

O golpe seria uma espécie de abrilada: «Repôr a ordem constitucional, o respeito pelos direitos humanos e as liberdades individuais

Oficialmente, nas últimas doze horas, morreram 194 pessoas e foram presos 1.563 militares e 336 golpistas civis. À cautela, convém multiplicar estes números por três. Não esquecer que, a partir de tanques e helicópteros, os militares dispararam sobre a população. A BBC falou em banho de sangue. Dos militares presos fazem parte um almirante, cinco generais e trinta coronéis. Em Ankara, o Parlamento foi atingido à bomba.

Como Binali Yildirum, o primeiro-ministro, participou esta manhã numa conferência de imprensa, a normalidade parece ter sido reposta. O Chefe do Estado-Maior do Exército esteve sequestrado mais de dez horas, antes de ser libertado. Aparentemente, o aeroporto internacional foi reaberto.

No meio do imbróglio, não passou despercebido o silêncio (mais de quatro horas) dos parceiros da Nato. Obama terá sido o primeiro a pronunciar-se. Apelou à defesa da legalidade democrática, uma forma de não dizer nada.

Acabou? Não acabou? A ver vamos.