Hoje é um dia decisivo para o Reino Unido e para a nomenklatura da União Europeia. Não é, como alguns pretendem, um dia histórico para a Europa. A Europa dos 28 é uma ficção. Os povos da Europa dos 28 não foram tidos nem achados na escolha dos senhores Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, e Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu. Juncker e Tusk são figuras cerimoniais. A Europa dos 28 é governada, de facto, pelos senhores Schäuble, ministro alemão das Finanças; Dijsselbloem, ministro holandês das Finanças e presidente do Eurogrupo; e Draghi, presidente do Banco Central Europeu. Quem manda são eles: Schäuble, Dijsselbloem e Draghi. Merkel, a chanceler alemã, faz de porta-voz.
O Reino Unido viveu sempre com um pé dentro e outro fora da UE. Conservou a sua moeda, não integra o Espaço Schengen, nem transpôs para o quadro jurídico interno uma série de normas comunitárias. E vamos fazer de conta que não temos conhecimento das regras que impôs em matéria de refugiados (não confundir refugiados com emigrantes). Cameron, que andou anos a tripudiar o modus operandi da UE, esfalfa-se agora a polir as vantagens de pertencer à Europa dos 28. Seria uma anedota se não fosse trágico.
É evidente que a City não quer o Brexit porque, mesmo sem a moeda única, põe e dispõe. Decerto não por acaso, a Agência Bancária Europeia tem sede em Londres. É evidente que os milhares de funcionários britânicos que a UE tem destacados nas suas 139 delegações espalhadas pelo mundo não querem o Brexit porque perdem o emprego. É evidente que há interesses corporativos muito fortes e perdas a registar. Que percentagem da população britânica (64 milhões) seria afectada com o Brexit? 0,01%?
Tudo visto, a vitória do Brexit representaria um abanão em Bruxelas, com ondas de choque em Berlim e Paris. A ver vamos.