sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

DISCURSO DIRECTO, 39

Estrela Serrano, O caso do procurador... Excerto, sublinhado meu:

«A detenção do procurador do Ministério Público Orlando Figueira por suspeitas de corrupção e branqueamento de capitais é um facto perturbador. Não porque outros agentes da justiça não tenham já anteriormente sido alvo de processos. Acontece, porém, que [...] o procurador Orlando Figueiras foi responsável por processos relacionados com políticos e altas figuras do Estado angolano — BES Angola e Caso Banif — e terá recebido “luvas” em milhares de euros para arquivar esses  processos. Orlando Figueira deixou as funções de procurador para se tornar consultor para a área de “compliance” do Activo Bank e para a sociedade de advogados BAS, ambos com ligações a Angola.  Isto é, além de luvas, o procurador terá sido também recompensado com emprego pelo arquivamento dos processos que envolviam aquelas altas figuras angolanas. [...]

O caso reveste-se ainda de contornos mais preocupantes quando se sabe que em 2012 a actual procuradora-geral, Joana Marques Vidal, impediu, com um voto contra, que o Conselho Superior do Ministério Público inquirisse o procurador Orlando Figueira sobre a entidade para quem estava a trabalhar. Não se sabe porque razão a procuradora-geral impediu que o procurador Figueira fosse inquirido.

Podemos sempre dizer que a justiça está a funcionar porque um procurador do Ministério Público foi detido e ficou em prisão preventiva. [...] Mas se relativamente aos políticos, dada a sua má reputação, ninguém se surpreende quando lhes são apontadas suspeitas de corrupção, um magistrado do Ministério Público, ainda por cima, especializado na investigação da corrupção, ser suspeito de corrupção e detido por perigo de fuga e de perturbação do inquérito, é um escândalo de proporções incalculáveis, capaz de arrastar indelevelmente a credibilidade da justiça